Na foto, Dona Nenzinha em família. Com a irmã Irene, o neto Rodrigo, os filhos Último de Paula, Jorge, Geraldo e Gladystone, as filhas Vilma, Raquel e Cristina. A numerosa família contra ainda com 18 netos e seis bisnetos.
Um dos pontos extremos da cidade, o bairro Jacuí, é comumente lembrado pela Barragem – ali construída na década de 1940 pela então Belgo-Mineira para gerar energia para sua usina -, ou pelo extinto estádio de futebol – anos 1950/60 -, local que era ponto de encontro de muitos operários, amigos e familiares, nas tardes de domingo, nos áureos tempos do futebol amador e de nossa João Monlevade.
Tudo isso tem o seu peso histórico. O jornal Morro do Geo, por exemplo, traz importantes registros destes fatos nas primeiras edições – em sua 1ª fase. Mas o Jacuí, que também já foi conhecido como “Jacuí de Baixo” e passou a ser o único depois que o “Jacuí de Cima” virou Cruzeiro Celeste, tem no seu contexto um componente que deveria ser sempre citado primeiro: a sua comunidade. São as pessoas que fazem a diferença e no Jacuí isto fica bem claro.
Por sua posição no mapa da cidade, o bairro tem dificuldades até hoje de chamar a atenção dos nossos edis e do poder executivo municipal para suas muitas carências. Então, são seus moradores autênticos exemplos a serem seguidos na intensa batalha travada cotidianamente para que o bairro se mantenha vivo e forte mesmo que, às vezes, seja erroneamente considerado apenas um apêndice da nossa “metrópole”.
E a saudosa Dona Nenzinha – Efigênia de Paula Dias – foi um retrato de tudo isto em vida. Originária da simpática cidade de Dom Silvério, Efigênia de Paula chegou a Monlevade na década de 1950. Estabeleceu-se inicialmente na Pedreira, seguindo depois para morar na região – hoje Jacuí – com o marido alvinopolense Geraldo Dias. Ali ainda estava tudo por construir. Em condições precárias, iniciou a família e sua grande luta por melhorias onde ainda era mais conhecido como acampamento, e existiam as famosas casas de “pau-a-pique” e de tábua. Era naquela região que se situava o “Acampamento do Ângelo” – sempre citado como acampamento dos “anjo”.
Em 1964, a empresa Vale precisou de espaço para construir sua linha férrea. Então surgiu o primeiro grande mutirão – registrado inclusive pelo jornal “O Pioneiro”. A Belgo cedeu um terreno pouco mais acima de onde se encontravam as casas do vilarejo. Os moradores entraram com a mão de obra e pagamento por materiais. Assim, algumas casas foram, então, construídas. Desde aquela época, nomes de alguns moradores(as) já se destacavam na luta por infraestrutura – e o necessário saneamento básico para melhorar as condições de vida dali. E Dona Nenzinha era uma delas.
Com a criação de uma associação no bairro, as pessoas se organizaram, revezando nas funções da entidade, onde o nome de Efigênia de Paula Dias, sempre esteve presente. Ao pesquisar na imprensa local, vamos encontrá-la na maioria das matérias escritas sobre o Jacuí quando, acompanhada das batalhadoras (es) do bairro, buscavam junto aos
órgãos responsáveis da cidade, um reconhecimento das necessidades de sua comunidade. É homérica a história do outro mutirão ocorrido na década de 1980, quando a união de alguns moradores – com a ativa participação de Dona Nenzinha – conseguiu como resultado que algumas casas do bairro fossem reconstruídas em melhores condições. As suas incansáveis incursões junto ao poder público municipal geraram pequenas insatisfações e muitos reconhecimentos – todos, merecidíssimos.
Embora o nosso esforço, não se consegue falar sobre a história do Jacuí de forma conclusiva – nem da maioria de nossos bairros -, em apenas uma página. Para se ter uma ideia, todos os jornais da cidade que iniciaram matéria a respeito ficaram pelo meio do caminho – tenho um levantamento a respeito. Contudo, necessário se faz enaltecer as lutas desta incrível senhora: Efigênia de Paula Dias – que se despediu em setembro – por melhorias para sua comunidade. Deixou história e trabalho feitos. Toda e qualquer conquista sempre foi, e será, não só sua – como sempre fez questão de frisar em vida -, mas também daquela pequena e aguerrida comunidade do Jacuí, que faz do seu bairro um exemplo onde pessoas como Dona Nenzinha deixam um legado de luta e conquistas, motivo de orgulho para toda nossa cidade.
Por essas e outras, companheiro, é que a Associação de Amigos do Bairro Jacuí – que tem agora como presidente o José Expedito dos Santos Ferreira -, prossegue firme na defesa da sua comunidade, buscando resgatar no seu dia-a-dia, a luta de pessoas – como a saudosa Dona Nenzinha – que sempre acreditaram em dias melhores.
2 comentários “A História é a Mãe da Estória – Francisco de P. Santos”
Muito interessante esta história deste bairro, seus criadores e suas dificuldades em receber apoio do poder público! Confesso que desconhecia este conflito político-econômico! Isto envolvia a área da poderosa Vale, e aí, ninguém enfiaria o nariz! Seria um suicídio político! Do ponto de vista político, era melhor deixar seus moradores à mercê da própria sorte!!É incrível que tiveram que pagar pela construção das próprias casas, depois de terem que mudar da área, pra ceder o lugar à uma ferrovia! Parece que o tempo parou, com relação a estes tipos de conflitos, porque ainda continuamos a ver e ouvir! Minas Gerais é o alvo por causa de suas riquezas minerais!
Com certeza meu amigo! E a Vale continua impondo e destruindo histórias e sonhos de centenas de pessoas, como foi no rompimento da Barragem de Brumadinho. Um absurdo!