Caetano Mascarenhas (E) descerra uma placa no Grêmio, em sua homenagem, quando deixava a usina de Monlevade, ao lado do seu substituto, engenheiro Hugo Freire. Um grande público participa da solenidade
Se há uma pessoa que teve uma história importantíssima em João Monlevade, não apenas como engenheiro e homem forte dentro da Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira e um dos diretores da empresa, e com um legado que tanto contribuiu para a siderurgia nacional, mas também como desportista a grande incentivador nesta área e principal responsável pela criação do 1º Clube de inclusão social na cidade, foi Caetano Mascarenhas. Na vida profissional, ele era engenheiro civil, pós-graduado na Europa em Metalurgia, e trabalhou nos Altos-Fornos da Usina de Monlevade entre as décadas de 1940/50.
Caetano Mascarenhas tem uma história que deixou plantada em João Monlevade, tornando-o imortal principalmente para o esporte especializado. Afinal de contas, foi ele quem idealizou a construção de um clube popular para que as crianças pudessem praticar o basquete, seu esporte preferido, mas que depois se estendeu também para a prática de outros esportes especializados, principalmente o futebol de salão e o vôlei. E aqui nasceram muitos craques.
Abaixo, Equipe infantil de basquete, onde ele aparece ao centro entre as seguintes crianças da época: Caetano, Paulinho (Gás), Além, Albery, Gilson Brum, Alanzinho, Toró Macedo, Bebeto e Tunin Mahé
Caetano Mascarenhas presta homenagem ao seu braço direito nos tempos áureos do Grêmio, o saudoso Pereira. A simplicidade era um ponto alto do engenheiro
Com apoio da Belgo-Mineira e do amigo, o presidente da empresa, Louis Jacques Ensch, foi fundado em 1954, o Grêmio Esportivo Monlevadense. Ali não foram formados apenas atletas, mas também cidadãos, graças ao empenho e dedicação com que o engenheiro Caetano Mascarenhas tinha para com os filhos dos operários da Usina. No final de 1950 – após ver seu sonho realizado – ele deixou a cidade e mudou-se para Belo Horizonte, onde era sócio-proprietário das empresas de tecidos Mascarenhas. Faleceu no dia 9 de setembro de 2006, aos 82 anos de idade. Mas aqui deixou marcada para sempre a sua história!
Na foto abaixo, o engenheiro Caetano Mascarenhas recebe um troféu das mãos das crianças Mauro Macedo e Sérgio Machado, como reconhecimento pelos serviços prestados ao esporte especializado em Monlevade
A Equipe adulta de Basquete do Grêmio Esportivo Monlevadense, e da qual ela faz parte, sendo o 1º da esquerda para a direita, agachado. Era o Basquete a sua paixão
Abaixo, um jantar de confraternização durante sua despedida de João Monlevade, onde agradecia pelo apoio recebido na Usina e na cidade. À mesa, entre os convidados, o arquiteto Yaro Burian, Frederico, Sílvio Menezes, Juventino Caldeira e a esposa Lígia, Pedro Siman e a esposa Naná, Elívio Bastieri e a esposa Elza, Hugo Freire, Luiz Simões, Professor Fábio, Mauro Macedo, Marcos e João Novais
Homenagens!
Após seu falecimento, a professora aposentada Coramar Alves e o metalúrgico aposentado Gilson Brum, amigos do Dr. Caetano, prestaram uma homenagem ao engenheiro desportista, o fundador do Grêmio e o homem que possibilitou a muitas crianças e jovens a concretização de um sonho: a prática dos esportes, que foram publicadas na época no jornal “Morro do Geo”, que seguem abaixo:
Um Engenheiro diferenciado!
“A partir do final da década de 40 e por praticamente toda a década de 50 trabalhou na Usina de Monlevade um engenheiro muito diferenciado para a sua época. Dr. Caetano Nascimento Mascarenhas, que marcou muito as nossas vidas. Primeiro porque, naquela época, era muito difícil fazer curso de Engenharia no Brasil e também porque nesse período, em Monlevade, a sociedade era dividida entre os estrangeiros que moravam no Cassino e freqüentavam, com alguns poucos engenheiros, o Social Clube.
O povo, que trabalhava na Usina, freqüentava outros clubes sociais e gozava de uma série de vantagens oferecidas, na época, pela Belgo. Vantagens que iam desde as mamadeiras das crianças, passando pela água e luz de graça, e uma cobrança simbólica dos aluguéis das residências. O povo era simples, trabalhador e muito amigo, o que encantou o Dr. Caetano Mascarenhas. Encantou tanto que ele decidiu, com apoio do seu amigo Louis Ensch, criar um espaço onde ele pudesse passar para os meninos dos operários o grande prazer da sua vida: jogar basquete.
Desta forma, com muito carinho e amor pelas crianças, ele fundou o Grêmio Esportivo Monlevadense, da nossa infância e lá formou vários jogadores de basquete, entre outras modalidades esportivas. Se não bastasse resolveu também, junto com seu fiel escudeiro Pereira, criar um time que contasse apenas com atletas negros e daí surgiram os “Globetrotters”. Acredito ter sido o único no Brasil. Naquela época não era fácil vencer os Globetrotters de Biriba, Dedão, Tiúca, Pereira, Hermes, Mozart, Donde, Raphael e tantos outros amigos negros, que orgulhosamente tivemos na nossa infância.
Caetano abandonava o Cassino requintado, o Social Clube selecionado e inúmeras pessoas ilustres para se juntar a nós, pessoas simples que jogavam no Grêmio. Lá tivemos quadras, pista de dança, playground, tudo oriundo do coração deste bom anjo que passou pela nossa infância e a encheu de esportes e conhecimento, deixando em todos nós, seus amigos, agora após a sua morte, um desconforto imenso por não termos agradecido o suficiente e o tempo, o tanto que dele recebemos.
Dr. Caetano Mascarenhas, gostaria de aproveitar o espaço para registrar e reconhecer o muito que recebemos do senhor e o pouco que agradecemos. De coração, muito obrigado por tudo, onde quer que o senhor esteja”.
*Gilson Brum Neves, amigo e jogador de Basquete do Grêmio Esportivo Monlevadense nos anos 1950.
Caetano, em nossa História!
“Caetano Nascimento Mascarenhas é o seu nome. Querido por todos nós que com ele convivemos. Homem de aço e coração de ouro que tanto fez pelo esporte de nossa João Monlevade, que não passou pela vida e pela nossa história em brancas nuvens. Criou e construiu através da Belgo-Mineira o Grêmio Esportivo Monlevadense, que tanto amou. Sua vida exemplar em João Monlevade, marcada de respeito, admiração, trabalho e glória, se distinguiu na construção de uma praça de esportes, o Grêmio Esportivo, tão querido por todos nós dos anos dourados.
Dedicado companheiro, organizado e dinâmico, Caetano trabalhou com afinco e amor pelo esporte monlevadense. O nosso Grêmio levou crianças, jovens e adultos à prática de esportes e às delícias do lazer. O Grêmio esportivo era completo. O sonho da nossa infância e juventude. Belíssimo Ginásio coberto, quadras externas, cinema, piscinas, caramanchões, restaurante, sede social, secretaria, playground, amplos vestiários e belos jardins. Para nós daquela áurea época, o Palácio dos Esportes.
Engenheiro da Belgo-Mineira, morador do Cassino e principalmente um amigo, Caetano Mascarenhas foi um homem íntegro, marcante na nossa sociedade. Personalidade forte, Caetano despertava grande simpatia e amizade. De alma nobre, era um homem bonito.
Alguém disse: “As pessoas não morrem. Elas ficam encantadas”. Mas eu digo; Certas pessoas não morrem. Ficam encantadas. O Caetano é uma delas.
A você, amigo, as lágrimas, o obrigado e a lembrança amável dos amigos de João Monlevade como um preito da saudade e da gratidão, que não se apagam da memória, enquanto houver vida.
Descanse em paz, Caetano. Adeus”!
*Coramar Alves