A colonização francesa e luxemburguesa; as histórias que o “Morro do Geo” contou!

No entanto,  a  nossa  cidade  é  também  privilegiada  em  alguns setores  e,  mesmo  diante  de  uma  sociedade  hipócrita  como  tantas outras  e  comandada  por  falsas  lideranças,  tem  um  povo,  diria, politizado.  E  isso  se  deve  principalmente  à  nossa  colonização  e à  força  sindical  que  se  fez  valer  a  partir  da  década  de  1970.  Dentro desse  contexto,  somos  um  município  atípico.  Primeiro,  indo  à Gêneses luxemburgueses,  muito  herdamos  dos  costumes  do  Velho Continente.  Afinal,  nós,  os  filhos  dos  operários  da  Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira, fomos criados com leite balanceado  distribuído  gratuitamente  em  mamadeiras aos ilhós dos operários após o nascimento.Nossas  mães  cozinhavam  em  fogões  elétricos,  totalmente inverso  ao  comum  e  contemporâneo  para  a  época,  já  que naquele  tempo  as  casas  usavam  fogões  à  lenha.  Nossos  pais eram  sócios  de  clubes,  mesmo  que  divididos  em  classes  sociais, e  a  “Mãe”  Belgo-Mineira  mandava  eletricista  em  nossas  casas  até  para trocar  uma  lâmpada.  Tempos  idos  de  um  senhor  chamado  Louis Jacques  Ensch,  considerado  “Pai”  para  os  operários,  cuja  morte deu-se em sua terra  natal, Luxemburgo,  mas suspeita-se de suicídio e seu  último pedido,  atendido,  foi  o  de  ser sepultado  na Pátria que adotou para viver, João  Monlevade,  ao lado  do  túmulo  do  pioneiro  Jean  Antoine  Félix  Dissandes  de Monlevade.  Depois,  a  partir  dos  anos  1970/80,  a  empresa resolveu  romper  o  cordão  umbilical,  deixando  que  o  povo monlevadense  andasse  com  as  próprias  pernas.  Até  os  dias  de hoje,  entretanto,  o  paternalismo  apresenta  suas  sequelas  que  de porque fomos colonizados por franceses e luxemburgueses, que de certa  forma  contribuíram  para  que  perdêssemos  um  pouco  da nossa  identidade.  Aos  poucos,  deixamos  de  ser  apenas  um  pólo  operário  e  comercial,  com  a  chegada  de  novas  faculdades,  o  que foi  muito  interessante.  Mas,  culturalmente  falando,  assistimos calados  à  nossa  decadência.

É  por  isso  que  sempre  afirmo  que  João  Monlevade  pode  ser comparada  a  uma  cidade  que  teve  sua  história  interrompida  com a  construção  de  uma  barragem,  ou  seja,  foi  coberta,  não  pelas águas  para  gerar  energia,  mas  foi  literalmente  destruída, encoberta  pelas  bobinas  de  aço,  sucumbindo  do  mapa,  sendo construída  em  outro  local.  Assim  ocorreu  conosco,  com  os nossos  antepassados,  que  viram  a  1ª  Vila  Operária  ser construída  ao  redor  da  Usina,  a  partir  dos  anos  1930/40,  e  tudo acontecer  em  volta  dela,  no  lugar  que  chamávamos  de “Monlevade”,  e  depois  ser  destruído,  corroído  em  nome  do progresso.  E  depois  se  mudar  para  um  bairro,  Carneirinhos,  que acabou  quase  se  transformando  em  uma  nova  cidade.  Assim defino  esta  terra,  cuja  história  foi  contada  pelas  folhas  do  nosso jornal,  o  “Morro  do  Geo”,  ao  longo  de  21  anos – e permance aqui em nosso Portal -,  onde  pudemos conversar  com  os monlevadenses mais antigos,  ouvir  seus  causos e suas histórias,  resgatar  de  verdade  a  nossa  história  e,  graças  ao  grande luxemburguês  Louis  Ensch,  mostrar  as  fotografias  da  antiga cidade  em  nossas  páginas.  Isto  porque,  com  sua  visão  futurista , de  quem  enxergava  muito  à  frente  de  seu  tempo, desde  que  aqui se  instalou  a  Pedra  Fundamental  para  construção  da  Usina  da Belgo-Mineira,  naquele  31  de  agosto  de  1935,  Dr.  Ensch mandou  registrar  toda  a  história,  desde  a  fundação  até  o nascimento  da  Vila  Operária,  através  das  câmeras  fotográficas, pelas lentes de três grandes profissionais: Assumpção, Coutinho  e  Diló.  Aliás,  conta  a  história  que  o  ex-presidente  JK, grande  amigo  de  Louis  Ensch,  foi  discípulo  do  engenheiro  de Luxemburgo  nesta  arte  de  registrar  todos  os  momentos  de  seu governo em fotos e filmagens. Portanto, graças a ele, nossa cidade tem um acervo  fotográfico  dos  mais  ricos  deste  país,  herança  que também  é  costume  do  povo  do  Velho  Continente.

Dessa  forma,  passamos  a  fazer  do  “Morro  do  Geo”  uma referência  em  termos  de  resgate  histórico  de  João  Monlevade. Ao  longo  dos  21  anos  de  sua  periodicidade  na imprensa escrita, foram  dezenas  de  entrevistas, centenas  de  reportagens,  biografias  e  colunas,  milhares  de

fotografias  antigas,  além  de  muitas  matérias  do  estilo “besteirol”  que  ficariam  marcadas  para  sempre.  E,  se  sorrimos, também  choramos  as  perdas  de  algumas  pessoas  que  fizeram parte  de  nosso  meio  e  cujas  despedidas  foram  registradas  em nosso  jornal.  E,  entre  algumas,  podemos  registrar  a  do “Gigante”  Omar  Antunes,  logo  após  ser  publicada  a  sua entrevista  em uma das primeiras eduições  do  “Morro do Geo”.  Ele,  que  tantas  glórias  deu  ao nosso  esporte.  Dos  amigos  Wander  José  (Wandinho),  naquele fatídico  17  de  maio  de  2008. Assim  iniciei  uma  crônica  que  fiz em  sua  homenagem:  “Um  escorregão  idiota  numa  tarde  de  sol, a  cabeça  no  meio-fio”…  Assim  descreveu  o  compositor  e  cantor Raul  Seixas,  ao  se  referir  à  morte.  E foi  quase  dessa forma  que acharam  por  bem  levar  o  nosso  eterno  amigo… 

E,  um  ano depois,  precisamente  em  22  de  maio  de  2009,  a  morte  da  grande amiga  e  artista  Neide  Roberto,  cuja  homenagem  faria  na  edição de  nº  134,  e  assim  iniciei  a  matéria  de  capa:  Neide  de  Souza Roberto se despediu desta vida no último dia 22 de maio, uma sexta-feira.  Aos  66  anos  se  calou  a  voz  mais  bonita  e  mais famosa  de  João  Monlevade,  como  que  misteriosamente.  Ficou o  seu  canto,  a  sua  simpatia  e  generosidade.  O  seu  sorriso  e muitas  boas  lembranças.  Jamais  alguém  desta  cidade  elevou tanto  o  nome  de  João Monlevade  no  cenário  nacional,  através  de  sua voz  e  da  sua  paixão  pela  música.  Fica  agora  a  saudade”… Outra  grande  perda  registrada  pelo  “Morro  do  Geo”  foi  a  partida do  músico,  o  Mestre  João  Félix,  ocorrida  em  27  de  setembro  de 2010,  aos  91  anos,  deixando  órfão  o  seu  bandolim  e  amusicalidade  que  passou  de  geração  a  geração.

*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte LXIV

Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!

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