Os integrantes do Magnus-Som antes de um baile no Ideal Clube em pose para fotografia com o tradicional vestimento
Como diria Milton e Brant, “foi nos bailes da vida ou num bar em troca de pão, que muita gente boa pôs o pé na profissão. De tocar um instrumento e de cantar, não importando se quem pagou quis ouvir”…
E foi assim que também nasceu bem no interior de Minas, das Gerais, um grupo musical formado por amigos. A cidade? Bela Vista de Minas, antigo “Onça”, município que faz divisa com João Monlevade, Nova Era, São Domingos do Prata, Rio Piracicaba. O nome? Magnus-Som. Origem latim, cujo significado é “O Grande”.
Falar do Magnus-Som é relembrar os bons tempos dos festivais da canção que aconteciam anualmente em João Monlevade e também nas cidades da região. Tempo da calça Pantalona e do sapato Plataforma. Do cabelo Black Power, a redenção da raça negra. O ginásio do Grêmio lotado e lá vinha o Magnus, depois da geração do “The Phuntos” e do “Monson”, onde berravam as guitarras de Weber Diló e Paulinho. Ou ainda os baixos dos saudosos Geraldo “Golão” e Zé Paulo. Eles faziam os shows antes da abertura dos festivais. Era muito rock e MPB, sons que prevaleciam na época.
Nascimento e o nome de Bela Vista
O Magnus-Som levou o nome de Bela Vista de Minas a todas Gerais, desde que foi fundado. Mas primeiro nasceu o MG-4, em abril de 1974. Foi o primeiro nome do conjunto, formado pelos irmãos Elio, Ézio e Ênio e o Miltão. Todos eram operários da Belgo-Mineira e vizinhos. De repente a vontade de se formar um conjunto musical. Vieram os primeiros ensaios durante a folga deles na Usina, que nem sempre coincidia. Mas aquele sonho seria possível devido à dedicação dos rapazes cabeludos, todos ainda vivendo a geração dos “The Beatles”, que deixava um vácuo no mundo do rock. Como lembrou o “Miltão”, era muita ralação e diversão. O prazer pela música e em se tocar um instrumento era maior.
Waltinho, Miltão e Íris durante uma apresentação: o conjunto arrasou nos bailes da região
Depois um novo nome e uma nova marca: nasce o Magnus-Som, em 1975, nome combinado entre os integrantes pelo seu significado. E mais três integrantes: Veio então o Waltinho, que acabava de deixar o Monson. Baterista e vocalista de primeira só acrescentou ao grupo, fazendo sua estréia em um baile no Ideal Clube. E, para completar, Eli, e a linda voz feminina de Íris. O conjunto estava formado. Já começaram grandes e em pouco tempo era o conjunto que mais se apresentava em bailes da região, com sua diversificada combinação de sons e um repertório recheado do que gostava a garotada da época.. De Bela Vista para as Gerais.
O conjunto durou por quase duas décadas e teve sua dispersão no início dos anos 1990. O sonho parecia virar realidade, tanto que no ano de 2009 os já cinquentões tentaram um retorno. Chegaram a dar alguns ensaios, mas ainda não foi daquela vez que voltaram. E, para Miltão e Waltinho, grandes amigos, o sonho agora parece ter acabado de vez.
Mais um momento do conjunto musical durante um dos bailes: de Bela Vista para as Gerais
Magnus-Som: Uma fantástica Usina Sonora
*Marcos Martino
Estava em Alvinópolis de bobeira, isso lá pros idos dos anos 1980, quando me encontrei com o presidente do Alvinopolense, conhecido como Tuôla. O nobre dirigente tinha o hábito de fazer propagandas boca-a-boca de todos os eventos que fazia no clube e daquela vez me falou que iria tocar uma banda muito boa no baile daquela noite. Desde aquela época eu já ficava mais ligado era nas bandas. O Clube podia ficar vazio, mas se a banda fosse boa, pra mim estava ótimo.
Cheguei mais cedo no clube pra ficar sapeando a banda, observando seus preparativos pra tocar, afinação dos instrumentos, enfim. Observei que eles usavam uma guitarra diferente. Depois me informaram tratar-se de uma craviola. Como sempre, o baile começou com o clube praticamente vazio. Achei até bom, pois pude ouvir a banda tocando as músicas que os músicos curtiam e não apenas os sucessos da época. Eles eram cabeludos e usavam uma roupa branca tipo bata. Os vocais e instrumental eram perfeitos. Eu estava ali abobado com a performance da banda, quando Tuôla chegou perto de mim perguntando se eu estava gostando (eu era um espécie de consultor de qualidade pra ele). Disse-lhe que sim, que era muito boa. Perguntei a ele se a banda era de Belo Horizonte e ele me respondeu que não. Que era de Bela Vista de Minas. Perguntei a ele o nome da banda e ele me respondeu: Magnus Som. Tuôla – que foi um dos melhores presidentes de clube da história de Alvinópolis -, ainda me confidenciou que a turma da banda era humilde e boa de jogo e, principalmente, que era barateira, que não lesava o clube como outras bandas famosas que vinham de longe, tocavam pouco e pediam até mais do que combinado. Depois desse baile, o Magnus voltou a Alvinópolis muitas vezes, sempre com sucesso.
Tamanha qualidade não podia passar despercebida na região e em pouco tempo, o Magnus tornou-se a banda mais solicitada num raio de muitos kms. Se a turma fosse um pouco mais ambiciosa e tivesse um bom empresário, poderia ter ficado rica com música, mas na realidade, o que os movia não era a ambição, mas o amor à música. Era engraçado o fato dos bailes terem de terminar num horário determinado, pois a maioria dos músicos trabalhava na Belgo Mineira e tinha de pegar serviço na manhã seguinte. Na época dos festivais, tivemos a oportunidade de nos encontrar com o Magnus por inúmeras vezes. Eles já forneceram sonorização e fizeram shows em dois festivais em Alvinópolis. Em Bela Vista, também tive a oportunidade de participar em dois festivais, num espaço conhecido como Caramanchão. Diga-se de passagem: os festivais em Bela Vista eram muito legais, com muitos músicos locais de grande qualidade (nesse época, com o Grupo Verde Terra, ganhamos o primeiro lugar em um ano e segundo em outro). Nesses festivais, pudemos ver que o Magnus já preparava a sua segunda geração. Existia uma segunda banda Magnus de boa qualidade, que permitia aos magnâmicos fazer dois bailes numa mesma noite.
Pois é. Mas o objetivo deste texto é provocar a turma a levar adiante o legado do Magnus, quem sabe instigar algum remanescente a falar um pouco sobre essa história e homenagear essa cena tão bonita, de uma cidade pequena, mas de rica história. Meu abraço ao Ely, ao Lobão e Cia. Se puderem, nos mandem noticias sobre a música de Bela Vista nos dias de hoje.
* Marcos Martino é músico!