História da Imprensa escrita em João Monlevade! – Por Marcelo Melo!

João Monlevade é uma cidade atípica em vários setores e um deles é com relação à atuação da imprensa. Tanto é que não se tem notícias de que uma cidade do porte do município, hoje com pouco mais de 80 mil habitantes, tenha uma imprensa tão ativa. Bom, isto até o o final dos anos 1990. E, sem entrar no mérito da qualidade, o número de jornais e revistas que já circulou era impressionante. Entre os anos 1980/90, por exemplo, circularam em uma mesma época cerca de 20 periódicos.

Através de um trabalho de pesquisa, iremos contar um pouco desta história da imprensa escrita em João Monlevade, que começou no ano de 1955, com a criação do jornal “O Pioneiro”, editado pela Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira. O jornal falava de siderurgia e tinha uma preocupação em mostrar o lado social de seus empregados e familiares. Também havia a divulgação do futebol, que estava começando a ganhar espaço e levar grande público ao estádio do Jacuí. “O Pioneiro” circulou por mais de uma década e fez história.

No ano de 1967 surgia o jornal “O Sapo”, que era mimeografado e tinha como entidade representativa a “Confederação de Sapistas de João Monlevade S/A”. Altamente irreverente, era produzido por intelectuais da época, entre eles o professor Nilton de Souza e o maestro Luciano Lima. Era feito para falar de tudo que acontecia na esfera cultural, entre cinema, teatro, música, poesia etc.

No mesmo ano nascia outra produção independente e o desbravador foi o comerciante Nino Prandini, com o jornal “O Eco”. Circulava mais na região de Carneirinhos e durou algum tempo, até que nascia, em 1969, um dos mais populares órgãos impressos da região, o “Atualidades”, editado pela Associação Monlevade de Serviços Sociais – AMSS -, entidade de fins sociais e que era mantida pela Belgo-Mineira. Um grupo de pessoas traçava a linha editorial do jornal e, entre os seus integrantes e colunistas, estavam o jornalista Márcio Passos, o médico Stanley Baptista de Oliveira, o estudante Álvaro Falcão, o professor Nilton de Souza, o metalúrgico Mauro Rodrigues e a socióloga Glória Rodrigues. O periódico teve importante papel social na comunidade e foi o informativo que abriu as portas da informação na região do Médio Piracicaba. Ele era distribuído nas portarias que davam acesso à Usina antes de os operários entrarem para o trabalho. Teve vida longa e encerrou suas atividades no início da década de 1980.

Nasce o Jornal de Monlevade!

Mas, ainda com o “Atualidades” na ativa, o professor e jornalista Elmo José Lima resolve fundar o seu jornal. O nome veio como luva. Nascia o “Jornal de Monlevade”, em fevereiro de 1977, periódico mais antigo dos que circulam na cidade e marcou época por se tratar de o primeiro jornal realmente que operou com independência editorial. O JM começou suas atividades com periodicidade quinzenal e depois passou a circular mensalmente. O JM também abriu sua página de esportes, ocupada desde maio daquele mesmo ano pelo então fotógrafo Geraldo Sérgio Guerra, que trabalhou no periódico até o encerramento de suas atividades. No final dos anos 1980 chegou a circular duas vezes por semana, quando trabalhavam eu, Elmo Lima, Geraldo Guerra, Ottávio Viggiano (Tavinho) e João Carlos Guimarães. Foi um período de ouro do jornal. No início de 2001, Elmo Lima vendeu o periódico para o empresário Márcio Caio que, alguns anos depois, foi negociado para o odontólogo e jornalista Amaurílio Sodré, passando a se chamar “Jornal Monlevade”, até fechar as portas, em meados dos anos 2000.

Em 1981 o empresário Maurício Pereira do Carmo fundava o “Tribuna de Monlevade”. O jornal tinha periodicidade mensal e pouco informativo. Mas, a partir de 1986, passou a ter mais “cara” de jornal, mudando a sua linha editorial e com periodicidade semanal. Isso devido à nossa contratação, e fiquei ali por alguns anos. O “Tribuna” encerrou suas atividades por volta de 1990.

“A Notícia”: O primeiro periódico de circulação semanal!

O experiente jornalista Márcio Magno Passos resolve retornar às suas atividades. Depois de ter atuado com fotografia e um restaurante, o “Gandhi”, ele decidiu abrir o seu jornal, denominado “A Notícia Regional”, fundado em abril de 1984. Pode-se dizer que foi o primeiro jornal a circular na cidade e região com periodicidade semanal, circulando até hoje, às sextas-feiras. E também montou uma estrutura com editores em algumas cidades do Médio Piracicaba. Na imprensa monlevadense há dois momentos distintos, um antes e outro pós “A Notícia”, que chegou com um jornalismo mais investigativo e dinâmico, e sempre contou com jornalistas que acabaram fazendo escola na área, entre eles eu, João Carlos Guimarães (que começamos a trabalhar no jornal no ano de sua fundação, ou seja, em 1984), Fabrício Salomé, Geraldo Magela, Celso Martins, Chico Franco e Breno Eustáquio.

A partir da instalação do semanário, há 40 anos no mercado jornalístico, que durante alguns anos teve periodicidade bi-semanal – circulando as terças e sextas-feiras -, houve um boom na imprensa monlevadense e muitos jornais foram criados. Já circulavam o “Jornal de Monlevade” e o “Tribunal de Monlevade”, além da “Revista Mostrar”, criada pelo jornalista Otávio Viggiano, o “Tavinho”, e que circulou por vários anos; primeiramente quinzenalmente e depois mensalmente, e tinha uma excelente equipe de profissionais, e onde tive o prazer de trabalhar de 1985 a 1986. Era uma revista dinâmica, informativa e gozava de muita credibilidade na cidade em razão de sua linha editorial. Em contra partida, nasceram alguns órgãos de imprensa cujo objetivo de seus editores era apenas o de faturar. Não havia necessariamente uma linha editorial de responsabilidade social. Outros nasceram com fins estritamente eleitoreiros.

Outro jornal que surgiu foi o “Correio do Vale”, editado pelo jornalista Will Jony Gomes Nogueira. O periódico nasceu em 1987. Também houve o surgimento do “Mostrar Jornal”, cujo diretor foi Ottávio Viggiano Filho (Tavinho), após a extinção da “Revista Mostrar”. O jornal durou apenas uma edição. Também no mesmo ano nasceram outros dois jornais: “Gazeta Monlevadense”, do próprio Tavinho e que viria substituir o “Mostrar Jornal”, e o “Folha da Cidade”, no mês de novembro, editado pelo jornalista Marcelo Melo e o metalúrgico Raimundo Formiga (Fufu). Em formato Tablóide, o jornal circulou semanalmente e durou apenas 13 edições.

Nova Fase: “Prezado Senhor”!

O primeiro jornal de formato Standard surgiu em Monlevade no mês de fevereiro de 1988. Tratava-se do “Prezado Senhor”, de diagramação mais arrojada, entrava a era do colorido na imprensa monlevadense. O jornal foi fundado pelo jornalista Kao Martins, acompanhado de um amigo; ambos vieram de Belo Horizonte. De periodicidade semanal, o jornal abalou as estruturas dos concorrentes, principalmente pela inovação gráfica. Daí outros órgãos de imprensa da cidade também deixaram o formato Tablóide de lado e entraram firme no o Standard. A cultura do “jornal grande” e do visual que impressiona. Até hoje, mais de três décadas depois, ninguém sabe ao certo quem “financiava” o “Prezado Senhor”, apesar de especulações em torno do nome do médico e ex-prefeito Lúcio Flávio de Souza Mesquita, que novamente sairia candidato a prefeito nas eleições daquele ano. Ou mesmo para apoiar a candidatura de Leonardo Diniz, PT, vitorioso no pleito daquele ano. Até hoje esta história não teve quem a desvendasse…

Um ano depois, ou seja, em maio de 1989 o mais emblemático e primeiro besteirol da imprensa monlevadense, o “Persona Non Grata”, editado pelos jornalistas João Carlos Guimarães e Geraldo Magela. Durou alguns meses com um jornalismo irreverente e ousado, do tipo “Pasquim”. Muito criativo e com um editorial pra lá de louco, mas que fazia rir. Um ano depois, ou seja, em 1990, Carlos Eduardo Lima (Cacá), Will Jony Gomes Nogueira e o radialista Carlos Moreira fundam o “Folha da Região”. Com intenção de sair candidato a prefeito nas eleições de 1992 – como ocorreu -, Carlos Moreira tinha um órgão de imprensa às suas mãos. O jornal fechou as portas junto com o resultado e a eleição de Germin Loureiro para ocupar o 3º mandato. Mas, em 1994, Will Jony retorna e faz o “Correio do Vale” se transformar no “Jornal da Cidade”, que durou alguns anos.

O 1º Diário!

Em 1995 o diretor do jornal “Diário do Aço”, Wilton Rodrigues, de Ipatinga, lança uma sucursal em João Monlevade, que foi o primeiro jornal com circulação diária na cidade. Foram contratados como editor-chefe e editor-adjunto os jornalistas Marcos Benevides e eu, respectivamente. Também atuaram no jornal José Carlos Rolla, Swamir Barbosa e Maurício Reis, responsável pela área de esportes. O jornal fechou as portas em 1999.

Os tablóides voltam a entrar em cena – até mesmo pelo menor custo – e Gilson Sérgio Eloi monta, em 1996, o primeiro jornal de bairro em Monlevade, denominado “O Celeste”. O impresso tinha como proposta inicial valorizar a região do Cruzeiro Celeste, onde reside o jornalista. Mas, anos depois, ele ganhou uma dimensão política e hoje historicamente é o jornal que sempre trabalha ao lado do poder. Também em 1996 nasceu “O Mistifório”, fundado pelo ex-vereador e jornalista Wilson Vaccari. Irreverente e corajoso, Vaccari fez história com o seu Tablóide, denunciando e ironizando a política de Monlevade. Seu jornal caiu no gosto da população, encerrando suas atividades há poucos anos, devido a problemas de saúde do seu diretor. Em 1998 nasce o segundo periódico da cidade com proposta de se tornar um jornal de bairro, com o profissional Francis Júnior. Tratava-se do “Coisas da Vila”, chamando a atenção para o Vila Tanque. Foram abertas colunas para que pessoas com raízes na Vila falassem sobre o bairro, entre eles Marcelo Melo, Geraldo Magela e o saudoso Gerhart Michalick. No entanto, no ano de 2000, o jornal perde a sua identidade e o nome, passando a se denominar “Boas Notícias”. Era, indiretamente, uma forma – ou fórmula – de apoiar a candidatura do médico Laércio Ribeiro à reeleição, já que “Boas Notícias” tinha como um dos objetivos mostrar as coisas boas realizadas pelo governo petista. Mais um jornal surgia em 1998, mas que teve morte prematura. Editado por Cínthia Carvalho, durou – salvo engano – apenas duas edições.

Surgem o “Bom Dia” e um novo semanário: “Gazeta Regional”!

A novidade da imprensa escrita em João Monlevade surgiu em 1998, quando o jornalista Geraldo Magela Gonçalves (Dimdão) e o fotógrafo Roney Jober fundaram o “Bom Dia”. Circulando cinco vezes por semana (de terça-feira a sábado), o periódico veio em apoio à administração do então prefeito Laércio Ribeiro. Também integrava o grupo o itabirano, jornalista Emerson Duarte, que depois deixou a função para fazer parte da Assessoria de Comunicação do governo de Dr. Laércio. Também Roney deixou a sociedade. Mas, mesmo com a derrota petista nas eleições de 2000, o “Bom Dia” se manteve e hoje, circula esporadicamente, mas o jornalista “Dimdão” mantém o jornal em Rio Piracicaba, onde nasceu o periódico. Teve sua contribuição na imprensa local, e foi sério concorrente do “A Notícia”, mas hoje é pouco assediado pelos leitores.

Um ano depois, em março de 1989, nasce o mais novo semanário de João Monlevade, o “Gazeta Regional”, cujo diretor é Cacá Lima. Como editor chefe, e eu assumi a editoria e como editor-adjunto o jornalista José Carlos Rolla. O jornalista Maurício Reis assumiria a Editoria de Esportes. Circulando sempre às quintas-feiras, o “Gazeta” se tornou o mais completo informativo do Médio Piracicaba, circulando até hoje em praticamente todas as cidades da região. Mas também tem atuação importante no noticiário local. José Carlos e Maurício Reis continuaram mais alguns anos contribuindo com o semanário, além de Will Jony. Hoje o jornal circula às sextas-feiras, mas sem a mesma fidelidade com relação à periodicidade.

O jornal “A Cidade”, fundado em 1999 pelo jornalista Francis Júnior, foi o último surgido naquela década.

Anos 2000 e mais jornais!

Durante o último ano do Século XX, 2000, surge o primeiro órgão de imprensa que faria oposição ao governo do ex-prefeito Carlos Moreira, que havia sido eleito prefeito nas eleições daquele ano. Tratava-se de “O Grito” (nome sugestivo), editado pelo jornalista Emerson Duarte e contando com apoio do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos. O radialista ainda não havia assumido o governo, o que aconteceria dois meses depois, mas o jornal já surgia com pretensões de ser uma pedra no sapato do novo chefe do Executivo. Mas acabou fechando as portas antes mesmo de findar o 1º mandato de Carlos Moreira.

Nasce o historiador “Pasquiniano” “Morro do Geo”!

Com uma proposta inédita na imprensa local, misturando o resgate com um lado besteirol, fundamos o 1º jornal do Século XXI. Em 16 de fevereiro de 2001, nascia o jornal “Morro do Geo”, em formato Standard. De linha editorial alternativa, com o objetivo de resgatar a história de João Monlevade, misturado com muito humor e irreverência ao fazer do noticiário local um besteirol, bem ao estilo “Pasquim” dos anos 1960/70, o impresso durou até dezembro de 2020, já em formato tablóide, e foi reconhecido em toda cidade. Caiu no gosto da população devido à sua fórmula de promover este resgate histórico, com fotografias antigas e alertando os monlevadenses – presentes e ausentes – sobre a importância de conhecer a história de sua cidade, e contava com um grande número de colunistas. Por outro lado, sua linha editorial de ironizar pessoas públicas locais, era apreciado por todos os leitores. Foi criado inclusive um Concurso para se saber qual era o maior “Mala-Mor” de João Monlevade, evento que fez sucesso com sua coragem e irreverência. Hoje odo o jornal encontra-se neste Portal, que entrou no ar em 2021.

Um Novo Diário!

Por volta de 2009 o jornal “Diário do Vale”, de propriedade do jornalista Luiz Muller, resolve abrir uma sucursal em João Monlevade, também com circulação diária. Na época foi contratado o jornalista Guilherme Botelho para assumir a editoria e eu fui convidado a assinar uma coluna diária no periódico, o que foi um fato inédito na imprensa escrita monlevadense. Afinal, em uma cidade do interior, encontrar pauta para todo dia não foi fácil, mas venci o desafio.

Os outros órgãos de Imprensa e os seus fundadores!

“Portal” (Maio de 2001) – Diretor: José Carlos Rolla

“Hora Certa” (2001) – Diretor: José Carlos Rolla, em substituição ao “Portal” e que continua circulando com periodicidade mensal.

“Ecos Esportes” (Maio de 2001) – Diretor: Jean Zambelli e Geraldo Laia. Fora de circulação.

“Monlevade em Foco” (Agosto de 2001) – Diretora: Viviane Oliveira, que depois se

transformou em “Jornal em Foco” e depois no “Em Foco”. Fora de circulação.

“Minas Notícias” (2003). Depois passou a se chamar “Boas Notícias” e se firmou como

“O Popular”, em 2004. – Diretor: Sidney José. Foi fundado para dar sustentação ao governo do ex-prefeito Carlos Moreira. Fora de circulação no impresso, mas com um Portal na Internet.

“Tudo de Bom” (Agosto de 2000) – Diretor: Héber Passos – Fora de circulação

“Página 2” (2004) – Diretor: Héber Passos – Fora de circulação

“Alô Cidadão” (2004) – Diretor: Carlos Antônio Coelho – Fora de circulação

“O Médio Piracicaba” (Março de 2004) – Diretora: Elaine Lopes – Fora de circulação

“O Momento” (Junho de 2005) – Diretor: Emerson Duarte – Fora de circulação

“Tribuna Regional” (Fevereiro de 2006) – Diretor: Robson Avelar – Fora de circulação

“Visão Global (Abril de 2007) – Diretor: Lucas Palhares Ferreira – Fora de circulação.

“Babados e Badalos” (2007) – Diretor: Anselmo de Oliveira – Fora de circulação impressa, mas continua na Internet.

Obs: Nota-se que, durante os mandatos do ex-prefeito Carlos Moreira (2001/2008) foi o período em que mais jornais foram criados em João Monlevade.

*Pesquisa: Historiador Francisco de Paula Santos!

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