A histórica disputa pelo comando do Sindicato dos Metalúrgicos!

Também  naquele  ano  aconteceriam  as  eleições  sindicais  e,  após vários  anos  sem  uma  disputa,  a  empresa  resolveu  mudar  sua estratégica  e  acabou  convencendo  um  grupo  de  operários  de  que era  preciso  haver  mudanças  no comando do  Sindicato  dos  Metalúrgicos. Aproveita-se  também  dos  últimos  acontecimentos,  como  a greve  dos  23  dias,  no  ano  anterior,  tentando  convencer  os operários  da  Usina  de  que  havia  muito  mais  interesses  políticos em  jogo,  por  parte  dos  dirigentes  sindicais,  do  que  a  luta  em  prol da categoria. Dessa forma, o então gerente da Usina da Belgo-Mineira  em  Monlevade,  engenheiro  Alonso  Starling  Neto, conseguiu  o  que  parecia  improvável,  e  foi  montada  uma  chapa de  oposição,  a  Chapa-2,  encabeçada  pelo  metalúrgico  Pedro Pesce,  o  popular  “Pedroca”.  Pela  situação,  Antônio  Ramos, que ocupava o cargo de secretário geral, encabeçava  a  chapa.

Poder-se-ia  dizer  que,  na  história  sindical  que  eu  presenciava, seria  a  primeira  disputa  com  uma  campanha  mais  acirrada.  E não  apenas  no  interior  da  Usina,  ou  nas  imediações  das  portarias, como  em frente ao Vestiário Central, o  Zebrão,  mas  em  toda  cidade,  como  se  fosse uma  eleição  municipal.  Sem  contar  as  provocações  e  troca  de farpas,  como  classificar  uma  chapa  de  “pelega”  e  a  outra  de “radical”.  E  Ramos tinha  consigo  uma  imagem  de  agressivo  e radical  ao  extremo.  Daí,  um  certo  receio  da  classe  empresarial de  tê-lo  como  presidente  da  entidade  sindical.  Para  eles,  o  clima entre  Belgo  e  Sindicato  poderia  ser  o  pior  possível  e  quem sofreria  as  consequências  seria  a  comunidade.  Havia  um exagero  exacerbado  contra  a  figura  do  Ramos  que,  se  fosse  hoje, seria comparado a um extremista. Eu, particularmente,  jamais  acreditei  na  imagem  com  que  o pintaram,  e  via  naquele  homem  uma  pessoa  sensível,  “bom vivant”  e  amante  da  boemia.  No  entanto,  dentro  do  grupo,  junto aos  companheiros,  sempre  foi  respeitado  justamente  pela  sua coragem  de  sempre  colocar  a  cara  à  frente. Mesmo diante deste cenário sobre o excesso de radicalismo pelo cabeça da Chapa-1, a princípio  dava-se  a  impressão  de  que  a  chapa  de  situação venceria  com  muita  facilidade,  mas,  aos  poucos,  o  quadro  foi  se nivelando,  principalmente  pelo  apoio  quase  explícito  por  parte da  empresa  e  pelas  pressões  contínuas  no  corpo  a  corpo,  Os supervisores  tinham  de  tomar  partido  e  se  viram  obrigados  a pedir  votos  para  a  Chapa-2.

Eu,  como  repórter  da  Rádio  Tiradentes/Globo  e  do  “Tribuna  de Monlevade”,  dedicava  meu  tempo  à  disputa,  cuja  campanha durou  de  maio  a  agosto de 1987,  mês  em  que  ocorreram  as  eleições. Foram três meses de uma campanha acirrada  dos dois lados. Entrevistas  eram frequentes até  o  dia  “D”,  no  mês  de  agosto daquele  ano.  Instalamos  o  “QG”  da  emissora  em  frente  à portaria  do  Zebrão,  onde  tudo  acontecia.  Fizemos  a  cobertura.  eu e  o  repórter  Pascoal  de  Souza,  e  uma  Kombi  servia  como  nosso ponto  de  apoio.  Mas,  durante  a votação  não  tínhamos  um  link para  as  transmissões  ao  vivo  da  portaria  do  Vestiário  Central,  ou seja,  uma  linha  direta  com  a  Telemig  –  então  a empresa  de telecomunicações  do  Estado  -,  o  que  prejudicava  em  muito  as nossas  intervenções.  A maneira  foi  encontrar  uma  saída  prática e  ainda  havia  moradores  na  antiga  Rua  dos  Contratados, próximo  ao  Zebrão  e,  entre  eles,  o  amigo  Raimundo  Formiga,  o “Fufu”.  Dessa  forma,  de  hora  em  hora,  corria  até  a  casa  dele  e fazia uma ligação telefônica direto para o estúdio da emissora, mantendo  os ouvintes informados com as  atualizações.  Ao  final  da  votação, nos  deslocamos  até  a  sede  do  Sindicato,  na  Rua  Siderúrgica, onde  seria  realizada  a  apuração. Mas foi um dia de cão, e ali na portaria do Zebrão era normal ver e ouvir provocações de ambos os lados, e algumas delas quase terminaram em vias de fato. Mas, felizmente, as agressões ficaram apenas na verbalidade!

São  muitas  as  histórias,  impossível  registrar  todas…  Uma, entretanto,  não  pode  deixar  de  ser  relatada:  o nosso patrão,  o  diretor  da  Tiradentes/Globo,  saudoso  José  Inácio. Um profissional de uma inteligência e capacidade raras, capaz de  enxergar  à  frente.  Tanto  que  foi  ele  quem  transformou  o radialista  Carlos  Moreira  nessa  potência junto  às  massas,  o  que, consequentemente,  acabou  gerando  para  o  mesmo  grandes dividendos  políticos.  Também  não  posso  deixar  de  expressar minha  gratidão  ao  José  Inácio,  por  ter  aberto  as  portas  para  que pudesse  produzir  meu  próprio  programa  jornalístico,  que  era um  sonho  profissional  e  foi  líder  de  audiência.  Tanto a ele quanto o seu antecessor,  Elmar  Venícius de Oliveira, que me deu também todo apoio.

Mas  José Inácio  tinha  um  problema,  que era o seu alcoolismo,  e  aquilo  o  tirava  do  sério  às  vezes.  Tanto  que,  enquanto  ocorria  a  apuração  na  sede  do  Sindicato  –  e  lá havia  o  link  ligado  para  transmissões  ao  vivo,  o  que  muito facilitou  nosso  trabalho  -,  o  chefe  se  encontrava  no  Bar  e Restaurante   Rampa´s,  onde  deve  ter  esgotado  a  cota  de conhaque  do  então  proprietário,  Antônio  Cota.  Quando  a apuração   aproximava-se  do  final  e  já  com  a  vitória  garantida  da chapa-1,  convido  Antônio  Ramos  para  uma  entrevista.  O  lugar estava  lotado,  gente  gritando,  comemorando,  muito  barulho mesmo! E  começo  a  conversa  com  o  presidente  eleito,  quando chega  o  José  Inácio, completamente  embriagado e aos berros,  querendo  que  Ramos  se  aproximasse  dele.  Mas, no momento,  ele  me concedia  a  entrevista  e  mesmo  assim  o  Inácio insistia.  Comecei  a  sair  do  sério,  cansado  pelo  stress  daquele  dia todo  de  trabalho árduo,  sem  banho  e  sem  comida.  Foi  quando  perdi  a boa,  larguei  o  microfone  e  parei  a  entrevista  no  meio.  Ramos continuou  falando  até  que  a  ficha  do  José  Inácio  caiu  e  ele,  sem graça,  foi  se  desculpar.  Foi  quando  retornei  ao  posto  e  terminei  a entrevista.  Logo  depois,  o  chefe  entrou  no  ar,  continuando  a conversa  com  o  novo  presidente  e,  nesse  momento,  fui  embora  de  vez.  Não  queria  testemunhar  nenhum  vexame  ao  vivo, mesmo porque José Inácio não  tinha  condições  de  falar  com  ninguém.

E  ocorreu  o  que já  se esperava. A apuração  final  se  deu  logo  depois, oficializando  a  vitória  de  Antônio Ramos,  pela Chapa de Situação, que  obteve  2.043  votos,  contra 1.082  do  oponente  Pedroca.  A empresa,  que  desejava  o afastamento  da  chapa  situacionista,  era  derrotada. A  posse  da  nova  diretoria se  deu  no  dia  1 1  de  setembro  e,  ao  contrário  do  que  muitos acreditavam,  o  discurso  de  posse  do  presidente  empossado, Antônio Ramos,  foi  bem  moderado.  Com  a  sede  lotada,  ele  não teceu  qualquer  tipo  de  crítica  à empresa  e  preferiu  manter  um tom  sereno,  sem  qualquer  agressividade.  Entre  as  autoridades presentes,  estavam  o  deputado  federal  constituinte  João  Paulo  e o  deputado  estadual  Chico  Ferramenta.

*Do Livro A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XV

Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!

,

Compartilhe esta postagem

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Notícias por Categoria

Cultura

Esportes

História

Gerais

Seja assinante!

Assine agora mesmo por apenas R$ 59,90 Semestrais!

Já é assinante?

Faça seu login!