Mauri Torres durante uma solenidade, onde discursava, foi eleito deputado estadual por 4 mandatos consecutivos, e hoje é membro do Tribunal de Contas da União
Aproximavam-se as eleições para a escolha de deputados, governadores e senadores. Eu já havia decidido apoiar o empresário Elgen Machado, também conhecido como “Machadão”. Afinal, ele fazia parte do grupo ligado ao Jornal de Monlevade e tínhamos uma boa relação. Nunca fui de ficar em cima do muro e declarei meu apoio a ele. Mauri Torres e Antônio Roberto Lopes de Carvalho eram outros nomes representativos da cidade e da região do Médio Piracicaba. Estávamos no início de setembro, há um mês das eleições e, naquela mesma época, eu e minha esposa da época, Marilene, estávamos construindo nossa casa. E em uma construção haja dinheiro! Pois bem, mas lembro-me de um fato que marcou talvez uma nova etapa em minha vida profissional. Hora de bater a segunda laje e colocar o telhado. Não ficaria nada barato, e na época, possuíamos dois veículos: o Chevette “Caramelo”, ano 1977, e um Fusca azul, todo original, ano 1978, que havíamos comprado de uma das irmãs de minha esposa, a Dulcinéia. Não havia jeito: para comprar as telhas e pagar a mão de obra, um dos dois carros teria de ser vendido.
Mas a vida nos envia sinais e nos provoca o tempo todo, e comigo não foi diferente. Por aqueles mesmos dias, a coordenação da candidatura de Mauri Torres chamou-me para uma conversa. O escritório funcionava em um prédio na Avenida Wilson Alvarenga, um andar acima da Padaria “Pão Tentação”, bem no coração de Carneirinhos. Cheguei e fui recebido por uma funcionária que trabalhava junto à coordenação de campanha. Queria uma pequena “colaboração” do repórter. Sem muita cerimônia, deu-se início a uma conversa que, a princípio, parecia informal, até que ganhou um cunho mais profissional. O objetivo naquela rodada de negociações – vamos assim chamar – era que eu, como responsável pelo noticiário da Rádio Alternativa, citasse em algumas oportunidades no “Toque Alternativo” (que ia ao ar de hora em hora) o nome do candidato, sua agenda diária e outros compromissos de campanha. Fizeram a proposta e pediram o meu preço pelo trabalho. Tratando-se de um processo político, era fato corriqueiro. E perguntei quanto poderiam me pagar. Eles insistiram para que eu desse meu lance. Fui então para uma ante sala – onde encontrava-se a secretária – e pensei por alguns minutos. Retornei à sala, fiz minha proposta. Pedi um valor que naquela época (não me lembro exatamente quanto), mas com toda certeza daria para comprar todo o material necessário para a colocação do telhado de nossa casa. O cheque chegou a ser preenchido. Mas, no momento de pegá-lo, hesitei e, prevalecendo talvez o bom senso ou sei lá o amor pela profissão, recusei. Talvez temesse deixar uma mácula e o “rabo preso”, como se diz na gíria. Levantei-me da cadeira, agradeci e disse que não seria necessário nenhum pagamento, pois tinha o salário na emissora. Adiantei que poderiam ficar tranquilos que iria inserir nos noticiários a agenda de todos os candidatos. Era só me encaminharem releases diariamente. Sem qualquer problema.
Ah, naquela eleição, o contabilista Mauri Marmo Torres Duarte foi eleito o segundo deputado estadual representando o município, já que anteriormente havia sido eleito Wilson Alvarenga, o 1º prefeito de João Monlevade após a emancipação de 1964. Também foi eleito naquele pleito de 1990 o ex-prefeito de São Domingos do Prata, o médico Antônio Roberto Lopes de Carvalho. E ponto final.
*Do Livro A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XXIX
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!