Na fotografia acima, o amigo, saudoso Francisco Franco Sobrinho, popular “Chico” Franco, grande jornalista e com que tive a honra de ter sido colega de trabalho nos jornais “A Notícia” e “Gazeta Regional”, e na Rádio Cultura. Temperamento quente de estopim curto, mas de um grande coração
Cinco anos depois, ou seja, em 1990, retorno ao jornal “A Notícia”. E pelas coincidências da vida, a redação do jornal havia também retornado ao seu primeiro endereço, ali à Rua Brasília, 104, Bairro Lucília, ao lado da casa de minha sogra. Era propriedade do tio do Márcio, Sr. Raimundo Passos. Tudo quase igual, só que muito mais confortável. Não estávamos mais naquele barracão que ficava na parte externa da residência. E nem num dos quartos da Rua Hamaceck. O jornal agora ocupava toda a casa, cada cômodo dela e, para a sala onde iria trabalhar, levei minha velha máquina de escrever, a Remington, que sempre me acompanhou. Onde seria a Copa (ou sala de jantar) estava instalada a redação. A recepção era comandada pela Marta, uma pessoa maravilhosa e que tratava as pessoas com uma generosidade cativante.
Depois de minha saída, em 1995, retorno para onde dei meus primeiros passos como repórter, nessas voltas que a vida dá. O diretor e fundador do jornal, Márcio Passos, começava a investir na área como marqueteiro político e estava com proposta de ser o coordenador de campanha para o empresário Olímpio Li Guerra, que tentaria a Prefeitura de Itabira, nas eleições municipaisde 1992. Dessa forma, abriria uma lacuna no periódico, mas a editoria continuava em suas mãos. Ao lado do articulista e amigo Chico Franco, assumi como editor adjunto. E, além de nós, veio completar a equipe de Jornalismo, a amiga Maria Auxiliadora Soares. Fabrício Salomé era o jornalista responsável.
Foi a época em que o jornal “A Notícia” chegava às bancas e desaparecia rapidinho. Fizemos, sim, oposição acirrada ao governo petista, mas nada de perseguição. As informações chegavam muito depressa. Chico Franco, por exemplo, que havia trabalhado como assessor de Comunicação no governo do ex-prefeito Germin Loureiro, o “Bio”, tinha uma fonte fiel dentro da Prefeitura e a cada fato que pudesse vir a ser manchete do jornal chegava aos seus ouvidos como que on line. E ainda estávamos nos tempos da máquina de escrever (rs)… Eu era sempre o encarregado de correr atrás das denúncias. Dessa forma incomodávamos e conseguíamos buscar muitos “furos jornalísticos”, que provocavam a correria dos leitores às bancas de jornais. Apesar de não ter simpatia pelo governo petista, sempre procurei ser ético. Tanto que jamais deixei de ouvir os dois lados da história.
O “pau comeu”, literalmente!
Final de ano e um fato iria merecer manchete de toda imprensa da região ao raiar 1991. Tudo começou após uma reportagem que eu e Chico Franco fizemos no Lar São José, Laranjeiras. Chegando ao bairro, de dentro de seu velho Corcel I, perguntei a alguns meninos que jogavam bola em que rua ficava o Asilo. Informaram e seguimos viagem até o local, onde fizemos uma boa entrevista com alguns idosos, que nos rendeu uma ótima matéria para o periódico. De volta à redação, brinco com os colegas, dizendo que, ao pararmos, os moleques perguntaram se eu estava levando o “velho” (no caso o Chico Franco) para interná-lo no asilo. Foi uma gargalhada geral, deixando o velho amigo irritado. Mas sempre brincávamos com ele daquela forma, pela liberdade que tínhamos uns com os outros, com respeito. No entanto, sair das quatro paredes da redação e ganhar as páginas de outro periódico, cujo diretor era o Luiz Muller, de Itabira, foi a gota d´água para que o nosso amigo reagisse. Havia comentado o episódio no prédio da Prefeitura, e o jornalista itabirano ouviu. Em razão de sua falta de empatia pelo Chico, inseriu em seu jornal uma nota sobre o ocorrido, ou seja, de que realmente eu o estaria levando para o Lar São José, mas de forma jocosa e desrespeitosa. E o fato, ou seja, a notícia, se repetiu na edição seguinte, pois o jornal era diário, o que provocou a reação do nosso editor.
Primeiro dia do ano e a posse do novo presidente da Câmara Municipal, Wilson Starling Júnior, o “Juninho”. Era o dia da “vingança” e o Chico Franco havia planejado tudo. Estava mesmo disposto a tirar a diferença com o agora desafeto oficial Luiz Muller, a quem havia mandado recado para que não brincasse mais daquela forma. Talvez o jornalista itabirano não tenha dado crédito à ameaça do colega do “A Notícia” e foi também cobrir a matéria da posse da nova Mesa Diretora da Casa Legislativa. Seria cômica se não fosse trágica a cena de Chico Franco com um pedaço de porrete às mãos (parecia cabo de vassoura), escondido nas costas. Assim que Luiz atravessou a rua em frente à Policlínica para entrar no antigo prédio da Câmara – que ficava ali ao lado do DAE -, Chico aproximou-se e, como num “enlatado americano”, puxou o pedaço de pau das costas e desceu pancadas no colega de profissão (rs). A situação somente não se complicou mais, ou seja, a gravidade dos ferimentos não foi maior em razão da chegada da turma do “deixa-disso”, entre os quais os vereadores Gilberto Gomes e o próprio Juninho Starling. Toque de recolher e Chico Franco se asila na casa de um casal amigo, José Jarbas e Rachel, no Bairro República, para fugir do flagrante, já que Luiz Muller havia feito corpo de delito e prestou depoimento na Delegacia contra o agressor.
O pior ficaria na minha conta. Era uma quinta-feira, por volta de 18 horas, quando Márcio Passos me liga, coincidentemente, da terra de Drummond, e determina que eu faça a matéria de capa do jornal “A Notícia”, que circularia na manhã seguinte. Fui então o responsável por redigir a matéria e colocar na manchete principal: “Chico Franco agride jornalista de Itabira”. Ou seja, são os “ossos do ofício” que fizeram ser eu o algoz do próprio amigo, colega de redação, depois de ter sido eu mesmo o responsável por toda a história, que começara com uma brincadeira entre amigos naquela visita ao Lar São José, e acabou provocando um verdadeiro samba do crioulo doido. Naquela mesma noite, após fechar a edição do jornal e mandar para a gráfica, fui à casa dos amigos onde Chico estava asilado, e lá ainda tomamos algumas cervejas e demos algumas risadas. Faz parte da profissão!
*Do Livro A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XXX
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!