O retorno ao “A Notícia” e o “Caso Chico Franco”!

Cinco anos depois, ou seja, em 1990, retorno ao jornal “A Notícia”. E pelas  coincidências  da  vida,  a  redação  do  jornal  havia  também retornado  ao  seu  primeiro  endereço,  ali  à  Rua  Brasília,  104, Bairro  Lucília,  ao  lado  da  casa  de  minha  sogra.  Era  propriedade do  tio  do  Márcio,  Sr.  Raimundo  Passos.  Tudo  quase  igual,  só que  muito  mais  confortável.  Não  estávamos  mais  naquele barracão  que  ficava  na  parte  externa  da  residência.  E  nem  num dos  quartos  da  Rua  Hamaceck.  O  jornal  agora  ocupava  toda  a casa,  cada  cômodo  dela  e,  para  a  sala  onde  iria  trabalhar,  levei minha  velha  máquina  de  escrever,  a  Remington,  que  sempre  me acompanhou.  Onde  seria  a  Copa  (ou  sala  de  jantar)  estava instalada  a  redação.  A recepção  era  comandada  pela  Marta,  uma pessoa maravilhosa e que tratava as pessoas com uma generosidade  cativante.

Depois  de  minha  saída,  em 1995, retorno  para  onde  dei  meus primeiros  passos  como  repórter,  nessas  voltas  que  a  vida  dá.  O diretor e  fundador do jornal, Márcio Passos, começava  a  investir  na  área  como  marqueteiro  político  e estava  com  proposta  de  ser  o coordenador  de  campanha  para  o empresário  Olímpio  Li  Guerra,  que  tentaria  a Prefeitura  de Itabira,  nas  eleições  municipaisde  1992.  Dessa  forma,  abriria  uma  lacuna no  periódico,  mas  a  editoria  continuava  em  suas  mãos.  Ao  lado do  articulista  e  amigo  Chico  Franco,  assumi  como editor adjunto.  E,  além  de  nós,  veio  completar  a  equipe  de Jornalismo, a  amiga  Maria  Auxiliadora  Soares.  Fabrício  Salomé  era  o jornalista  responsável.

Foi  a  época  em  que  o  jornal  “A Notícia”  chegava  às  bancas  e desaparecia  rapidinho.  Fizemos,  sim,  oposição  acirrada  ao governo petista, mas nada de perseguição. As informações  chegavam  muito  depressa.  Chico  Franco,  por exemplo,  que  havia  trabalhado  como  assessor  de  Comunicação no  governo  do  ex-prefeito Germin Loureiro, o “Bio”, tinha uma fonte fiel dentro da Prefeitura e a cada fato que pudesse vir a ser manchete do jornal chegava aos seus ouvidos como que on line. E ainda estávamos nos tempos da máquina de escrever (rs)… Eu era sempre o encarregado de correr atrás das denúncias. Dessa forma incomodávamos e conseguíamos buscar muitos  “furos jornalísticos”, que provocavam a correria dos leitores às bancas de jornais. Apesar de não ter simpatia pelo  governo petista,  sempre  procurei  ser  ético.  Tanto  que  jamais  deixei  de ouvir  os  dois  lados  da  história.

O “pau comeu”, literalmente!

Final de ano e um fato iria merecer manchete de toda imprensa da região ao raiar 1991. Tudo começou após uma reportagem que eu e Chico Franco fizemos no Lar São José, Laranjeiras. Chegando ao bairro, de dentro de seu velho Corcel I, perguntei a alguns meninos que jogavam bola em que rua ficava o Asilo. Informaram e seguimos viagem até o local, onde fizemos uma boa entrevista com alguns idosos, que nos rendeu uma ótima matéria para o periódico. De volta à  redação,  brinco  com  os  colegas, dizendo que,  ao pararmos,  os  moleques  perguntaram  se  eu  estava  levando  o “velho”  (no  caso  o  Chico  Franco)  para  interná-lo  no  asilo.  Foi uma  gargalhada  geral,  deixando  o  velho  amigo  irritado.  Mas sempre  brincávamos  com  ele  daquela  forma,  pela  liberdade  que tínhamos uns com os outros, com respeito.  No  entanto,  sair  das  quatro  paredes  da  redação  e ganhar  as  páginas  de  outro  periódico,  cujo  diretor  era  o  Luiz Muller, de  Itabira,  foi  a  gota  d´água  para  que  o  nosso  amigo reagisse.  Havia  comentado  o  episódio  no  prédio  da  Prefeitura,  e  o  jornalista  itabirano  ouviu.  Em  razão  de  sua  falta de empatia  pelo Chico,  inseriu  em  seu jornal  uma  nota  sobre  o  ocorrido,  ou  seja, de  que  realmente  eu  o  estaria  levando  para  o  Lar  São  José,  mas  de  forma  jocosa e desrespeitosa.  E  o  fato, ou seja, a notícia,  se  repetiu  na  edição  seguinte,  pois o jornal era diário, o  que provocou  a  reação  do  nosso  editor.

Primeiro  dia  do  ano  e  a  posse  do  novo  presidente  da  Câmara Municipal,  Wilson  Starling  Júnior,  o  “Juninho”.  Era o dia da “vingança” e o Chico  Franco havia  planejado  tudo.  Estava  mesmo  disposto  a  tirar  a  diferença com  o  agora desafeto oficial Luiz  Muller, a  quem  havia  mandado  recado  para  que  não brincasse  mais  daquela  forma.  Talvez  o  jornalista  itabirano  não tenha  dado  crédito  à  ameaça  do  colega  do  “A Notícia”  e  foi também  cobrir  a  matéria  da  posse  da  nova  Mesa  Diretora  da Casa Legislativa.  Seria  cômica  se  não  fosse  trágica  a  cena  de  Chico Franco  com  um  pedaço  de  porrete  às  mãos  (parecia  cabo  de vassoura),  escondido  nas  costas.  Assim  que  Luiz  atravessou  a rua  em  frente  à  Policlínica  para  entrar  no  antigo  prédio  da Câmara – que ficava ali ao lado do DAE -,  Chico  aproximou-se  e,  como  num  “enlatado  americano”, puxou  o  pedaço  de  pau  das  costas  e  desceu  pancadas  no  colega de  profissão (rs).  A situação  somente  não  se  complicou  mais,  ou seja,  a  gravidade  dos  ferimentos  não  foi  maior  em  razão  da chegada  da  turma  do  “deixa-disso”,  entre  os  quais  os  vereadores Gilberto  Gomes  e  o  próprio  Juninho  Starling.  Toque  de  recolher e  Chico  Franco  se  asila  na  casa  de  um  casal  amigo,  José  Jarbas  e Rachel,  no  Bairro  República,  para  fugir  do  flagrante, já  que  Luiz Muller  havia feito  corpo  de  delito  e  prestou  depoimento  na  Delegacia contra  o  agressor.

O  pior  ficaria  na  minha  conta.  Era  uma  quinta-feira,  por  volta  de 18  horas,  quando  Márcio  Passos  me  liga,  coincidentemente,  da terra  de Drummond,  e  determina  que  eu  faça  a  matéria  de  capa  do jornal  “A Notícia”,  que  circularia  na  manhã  seguinte.  Fui então  o  responsável por  redigir  a  matéria  e  colocar  na  manchete principal:  “Chico  Franco  agride jornalista  de  Itabira”.  Ou  seja,  são  os  “ossos  do  ofício” que  fizeram  ser  eu o  algoz  do  próprio  amigo,  colega  de  redação,  depois  de  ter  sido  eu  mesmo  o responsável  por  toda  a  história,  que  começara  com uma brincadeira entre amigos naquela  visita  ao Lar  São  José,  e  acabou provocando  um  verdadeiro  samba  do  crioulo  doido.  Naquela mesma  noite,  após  fechar  a  edição  do  jornal  e  mandar  para  a gráfica,  fui  à  casa  dos  amigos  onde  Chico  estava  asilado,  e  lá ainda  tomamos  algumas  cervejas  e  demos  algumas  risadas. Faz parte da profissão!

*Do Livro A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XXX

Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!

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