Na foto acima, Gleber Naime de Paula Machado, o “Mestre Ravengar” que ditava as ordens no governo petista de Leonardo Diniz
O ano de 1991 não poderia ter começado melhor na vida familiar passado o caso do porrete. Em fevereiro, como diz a letra do Benjor, “tem carnaval, tem um fusca e um violão”. Mas aquele carnaval foi inesquecível. Era chegada a Festa Momesca, que começaria em 9 de fevereiro. E nós estávamos perto do nascimento do nosso primeiro filho. Eu e Marilene ainda pulamos o carnaval de rua em São Domingos do Prata, no sábado; e em Nova Era, no domingo. Na noite seguinte, segunda-feira, fomos para o Hospital Margarida, com minha esposa já em processo de dilatação. O médico, Dr. Custódio Alvarenga, muito solícito, já estava nos aguardando, e na madrugada da terça-feira gorda, 12 de fevereiro de 1991, nascia o nosso primogênito, Ícaro Emmanuel Cruz e Melo. Naquela mesma terça-feira, última noite de carnaval, com todos bem e cuidados, fui comemorar no salão do Social Clube, ao som da Orquestra do Julinho e Maroun. A emoção e o entusiasmo de ser pai pela primeira vez, me fez extrapolar e, diante da alegria exacerbada, exagerei e por pouco não fui expulso do baile pelo saudoso Gigante e por Hilário, que trabalhavam como seguranças nos carnavais do Social. Não me esqueço de que meu “Anjo da Guarda” naquela madrugada, quase findando o baile, foi o amigo e saudoso Luiz “Canhão”, vizinho ali da Vila Tanque, que explicou o motivo do meu excesso. Dali em diante já era tempo de começar a pensar que a responsabilidade agora aumentaria, e muito!
Na vida profissional, a rotina continuava e sempre atrás das notícias. E como de costume, éramos uma pedra no sapato do prefeito Leonardo. Naquele ano, alguns fatos marcaram o governo do PT, que talvez tenha tido como maior ponto negativo diante da opinião pública – inclusive entre alguns petistas de tradição e fundadores do partido em João Monlevade,como João Calixto dos Santos (Tostão) , Celeste Semião, Terezinha Mariano e outros – a contratação de tantas pessoas de outras cidades para atuar na administração, em detrimento dos “santos” de casa valorizando-se apenas os “forasteiros”. Aquilo causou mal estar entre o próprio chefe do Executivo aliados e militantes e até mesmo com alguns vereadores de situação, entre os quais o então presidente da Executiva Municipal do PT, Antônio Batista Miranda Contrapino, que não mantinha bom relacionamento com alguns assessores do 1 º escalão do governo, particularmente com Gleber Naime de Paula Machado assessor de governo. Aliás, naquele mesmo período, precisamente em maio de 1991 quando foi deflagrada a primeira greve dos servidores públicos municipais na história política do município, Gleber receberia o apelido de “Mestre Ravengar”, em alusão a um personagem de uma novela de época – “Que Rei sou Eu” – , cuja história contava um período da Monarquia, e o principal conselheiro do Reinado, no papel interpretado pelo ator Antônio Abujamra, era quem dava as ordens ao Rei. Dessa forma, havia rumores de que Leonardo somente tomava decisões após consultar o seu “Mestre Ravengar”. A crise culminou com o desentendimento político entre o prefeito Leonardo Diniz e o vice-prefeito Antônio de Paula, que se desligou do Departamento de Educação e, em seu lugar assumiu a professora Maria Vera Lúcia Drumond Westgeest, militante do PT, mas que não tinha a simpatia de grande parte do professorado. Estava decretado o “racha”.
Ainda sobre a greve, a paralisação teve apoio maciço da categoria, sendo liderada pelo Sintramon, que tinha como presidente, Antônio Cláudio Valentin “Xerife”. O movimento foi deflagrado pela não aceitação da proposta salarial, que era de 40% de reajuste. Para os padrões atuais, um aumento considerável, mas deve-se esclarecer que, naquele ano, o país passava por um processo de inflação altíssima e as perdas salariais eram enormes a cada ano. Mas o que marcou aquela greve foi a truculência por parte do governo petista, mais acostumado a estar do outro lado, ou seja, entre os grevistas. O prefeito Leonardo Diniz era o maior exemplo, dos seus temposde sindicalismo. E, naquele movimento foi exatamente Gleber Naime de Paula foi quem mais criou um clima de terrorismo contra os grevistas e o Sintramon, com ameaças constantes. Dessa forma, a categoria não teve como sustentar a paralisação, que durou sete dias. Piquetes eram organizados em frente ao Departamento de Viação e Obras, DVO. O assessor de Governo, já popularmente conhecido como “Ravengar”, durante entrevista que me havia concedido naquela mesma época, chegou a afirmar que o perfil do servidor público de João Monlevade teria de ser alterado, pois era composto por pessoas velhas e doentes. Uma matéria que publiquei sobre a entrevista repercutiu bastante e, na oportunidade, Gleber Naime e eu tivemos acirradas discussões, pois ele havia se arrependido do que disse e tentou desmentir.
*Do Livro A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XXXI
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!