Nesta pintura feita pelo artista plástico José Ricardo, o auto-retrato do saudoso João Calixto dos Santos, popular “Tostão”, sindicalista e um dos fundadores do PT em João Monlevade, que se desiludiu com o partido já no seu 1º mandato no município
Outros fatos ainda contribuíram para que o governo petista continuasse a ser alvo constante da imprensa, sempre com a pauta cheia de notícias envolvendo a administração e o próprio PT. Muitas vezes provocados por discussões internas. Tanto que, numa ocasião, o tesoureiro da Executiva Municipal do PT, Sinésio Patrício de Oliveira, foi manchete de capa no jornal “A Notícia”, quando denunciou o prefeito Leonardo Diniz por estar em débito com o partido há meses, ou seja, não contribuindo com as mensalidades. O caso provocou um grande conflito interno, já que o partido, através de seus dirigentes, começou a discordar de fatos que vinham sendo praticados pelo governo, que culminaria em crise. O estopim da bomba viria em junho, quando o próprio presidente da Executiva, vereador Antônio Contrapino, resolveu colocar ainda mais lenha na fogueira e fez ataques contra seu próprio partido. Nessa época, a manchete de capa do “A Notícia” foi “Contrapino ameaça denunciar os podres do PT”. Ele teria procurado a imprensa e afirmado que informaria todos os atritos e podres que estavam acontecendo dentro do partido, caso deixasse a presidência. Na mesma ocasião, João Calixto dos Santos, o “Tostão”, fazia um desabafo: – “Em Monlevade, o PT acabou. O que se vê hoje são esses assessores de fora que vieram para mamar o dinheiro público, pois competência mesmo ninguém demonstra. Era o sinal de que o PT perderia espaço em João Monlevade, um dos berços da militância nascida das bases operárias.
Novos episódios estavam por vir, que davam sempre pauta à imprensa, sem que o governo pudesse reagir. Isto porque os fatos eram evidentes e comprovados, como no dia em que cheguei ao setor de Almoxarifado, no Departamento de Obras, cujo responsável era o saudoso Rômulo Caldeira, popular “Rominho”. Tínhamos uma ótima relação e cheguei ao local após denúncia de que uma grande quantidade de leite a ser distribuído à população carente e nas creches estaria com data de validade vencida. Rominho, sem se preocupar com as consequências que poderia sofrer diante de sua informação, confirmou a denúncia e relatou detalhadamente o processo, quando responsabilizou o alto escalão do governo pelo ocorrido. Ele ainda colocou as caixas do produto à vista para que eu pudesse fotografar. Manchete de capa e mais uma crise interna. Como efeito, como é praxe dentro do PT, o funcionário acabou sendo destituído do cargo. E olha que se tratava de um militante com história dentro do partido.
Pois bem, chegou um dia que o prefeito Diniz perdeu a paciência e moveu uma ação na Justiça contra mim. E, sinceramente, ele estava com toda razão porque nesse caso eu fugi à ética como jornalista e ataquei o chefe do Executivo sem motivos. Confesso que deixei ali de ser um profissional da imprensa para me tornar um algoz do governo petista, movido talvez pela paixão. Tudo se deu após a realização de um concurso público, quando uma das candidatas aprovadas para ocupar um cargo na Assessoria Jurídica da Prefeitura ter sido uma sobrinha do prefeito, que residia em Barão de Cocais. De forma irresponsável, eu especulei que havia ocorrido fraude no concurso em benefício da concursada. E não tinha provas de nada, tecendo veemente crítica em minha Coluna, o “Com-Mentando Monlevade”. O meu ato imprudente me custou um processo na Justiça, quando Leonardo Diniz entrou com uma ação por crime de calúnia. Tudo levava a crer que era uma causa perdida e minha defesa foi feita pelo brilhante advogado, saudoso Dr. Onofre Francisco. O juiz responsável pelo caso foi o Dr. Alberto Deodato. Um pequeno erro de redação parece ter virado o jogo a meu favor, já que no processo movido pelo chefe do Executivo no início da ação, estava escrito que “O município de João Monlevade” movia uma ação contra o jornalista, quando, diante da interpretação do meritíssimo, quem estava entrando com o processo, na verdade, seria o senhor Leonardo Diniz Dias e não o município. Mesmo recorrendo em 2ª Estância, o caso foi arquivado e, felizmente, pelo menos naquele processo, fiquei livre da acusação.
*Do Livro A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XXXII
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!