O saudoso Germin Loureiro, popular “Bio”, retornava para administrar João Monlevade em seu 3º mandato, que durou de 1993 a 1996. Ao lado a esposa, 1ª dama Zarif Loureiro
Chegamos ao “Dia D”; de se eleger o novo prefeito de João Monlevade. As urnas apontam para o retorno do ex-prefeito Germin Loureiro, popular “Bio”. Também uma renovação era aguardada no Poder Legislativo. A “Boca de Urna” ainda era permitida pela Justiça Eleitoral e os candidatos, com seus cabos eleitorais, formavam um amonto ado nas proximidades das seções eleitorais . Naquele ano a apuração dos votos se daria no ginásio da ACM, e eu faria cobertura pela Rádio Alternativa, c om a colaboração da colega Bernadete. Expectativa de uma grande multidão de cabos eleitorais e simpatizantes pelas arquibancadas do ginásio.
O encerramento das eleições daquele ano de 1992 estava marcado para as 17 horas, e a maioria apostava na vitória peemedebista. O PT dificilmente se manteria no poder, apesar de seus militantes acreditarem até o fim. Uma hora mais ou menos após o pleito, com todas as seções fechadas e as urnas já sob a tutela da Justiça Eleitoral, deu-se início à apuração. No interior da quadra, apenas os mesários, a imprensa e os fiscais de cada coligação. Foram três dias de apuração e muita emoção, de provocar gastrite nervosa. Eu, apesar de estar ali como profissional, não escondia a minha preferência. Também torcia pela vitória do Bio, ou melhor, para a derrota petista. Mas bem discreto, sem causar qualquer alvoroço. Afinal, jamais poderia pensar em me manifestar. Sempre mantinha os ouvintes informados, dando os números em primeira mão – sempre à frente da concorrente emissora da Tiradentes/Globo – e, nos estúdios, Geraldo Cardozo comandava a equipe. Naqueles tempos de votos em cédula, havia mais glamour e consequentemente mais interatividade e disputa. Alguns episódios fizeram daquela apuração – que seria a última em nível municipal antes da era da urna eletrônica – a mais emocionante de toda a história política de João Monlevade. Isso não só em relação à disputa majoritária, mas principalmente pela proporcional, ou seja, dos candidatos à Casa Legislativa, pois houve caso de candidato a vereador que dormiu eleito e acordou derrotado.
Com o privilégio de estar dentro do local da apuração, com livre acesso entre os mesários, sempre era chamado à grade que separava a arquibancada da quadra, por uma ou outra pessoa para aguçar a curiosidade delas, que queriam saber como estava o resultado. E, entre os flashes que dava, ao vivo, dando os números ou entrevistando algum candidato (via linha telefônica, através do Híbrido, um aparelhinho que nos colocava em contato com o estúdio da emissora), e a busca dos resultados, estava eu entre uma conversa e outra com os simpatizantes torcedores e curiosos, na sua maioria os forasteiros que integravam o Secretariado do prefeito Leonardo Diniz Dias. Óbvio que não queriam perder a “boquinha”! Lembro-me do segundo dia de apuração, quando se iniciou a contagem dos votos do Bairro Vila Tanque, onde residia (e ainda mora) Laércio José Ribeiro. Naquele momento, o candidato do PT passava à frente de Bio na contagem de votos. A emissora concorrente, no caso a Tiradentes, acompanhava o resultado oficial que era liberado pelo TRE, mas eu e Bernadete pegávamos os números que saiam diretamente das mesas apuradores e, por isto, a Alternativa estava à frente nas informações. Não era o resultado oficial, mas numa proporção segura. Tanto que, em dado momento, o então secretário municipal de Obras, engenheiro Humberto Rôllo – um dos forasteiros, mas com ele sempre mantive um bom relacionamento – chamou-me à grade e disse: – “E ai Marcelo, o que você acha? Estamos na frente”. Não hesitei em responder: -“Estavam. Bio já passou vocês de novo e agora não perde mais”. Isto porque eu já conhecia o resultado das primeiras urnas que tinham sido abertas na região do Loanda, quando o candidato do PMDB havia recuperado a dianteira e dali não deixaria mais o lugar, pois seriam abertas as urnas da região do Cruzeiro Celeste e, naquela região, Germin Loureiro era imbatível. Humberto mostrou-se decepcionado, pois sabia que eu tinha razão. Dali, até o resultado final das eleições, ninguém tinha mais dúvidas de que Bio retornaria ao poder, em seu terceiro mandato. Festa do PMDB e frustração do PT. Dr. Lúcio Flávio dava adeus definitivo à política. Mas o radialista Carlos Moreira, mesmo com a derrota, era um vitorioso. Afinal, sozinho e sem apoio de nenhuma grande liderança política do município, ficou na terceira colocação, atrás apenas de Germin Loureiro e de Dr. Laércio. Afinal, sua caminhada estava apenas começando.
Pessoalmente, após o encerramento da apuração, na noite daquela quarta-feira, três dias depois das eleições, ficou um pouco de nostalgia, misturada ao cansaço do trabalho realizado. Tinha certeza de que, profissionalmente, me sentia recompensado pela grande cobertura que fizemos naqueles dias pela Rádio Alternativa/FM. E pelo que vi e ouvi, a cena final fora o desespero expresso nas palavras do militante petista e assessor de governo, Marco Aurélio Loureiro, que deixava o ginásio da ACM gritando “vaca leiteira”, referindo-se à então Dona Zarif Maluf Loureiro, eterna 1ª dama do município. Infeliz frase do sobrinho-neto do candidato eleito, Germin Loureiro, que não aceitou a derrota. O choro era livre e o PT provava do gosto amargo de sua própria arrogância. Assim age até hoje a militância petista, arrogante como sempre.
*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XXXVI
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!