Debate e a TV de Quaresma!

Aproximavam-se as eleições municipais e ainda não havia sido realizada a reforma política, portanto, não era permitida a reeleição ao cargo majoritário. Desta forma, o médico Laércio José Ribeiro foi indicado como o candidato pelo PT, tendo como vice o vereador Gilberto Augusto Gomes. Pelo PMDB, Germin Loureiro, o Bio”,  que já havia governado João Monlevade por dois mandatos, foi o candidato, tendo o médico José Nelson Fagundes como seu vice. O médico Lúcio Flávio de Souza Mesquita foi escolhido candidato pelo PFL, sendo o vice  o  pastor  Philemon  Rodrigues. Mais  outras  duas  candidaturas,  consideradas  independentes,  era a  do  radialista  Carlos  Moreira,  pelo  PTB,  e  do  contador José Quaresma Sobrinho, um apaixonado brizolista, defendendo  o  PDT. Todos  sabiam  que  o  nome  de  Bio  era  o  favorito  para  vencer  as  eleições  de  outubro  de  1992.

Sendo assim, principalmente o Partido dos Trabalhadores era o que mais ataques fazia a Germin Loureiro, tentando desmoralizá-lo perante a opinião pública. Assim, alguns fatos ficaram marcados por uma campanha “suja” –– que culminou com a distribuição de um Apócrifo (carta anônima), que foi espalhada numa madrugada pela cidade, tecendo denúncias graves e infundadas contra o então candidato peemedebista e ex-prefeito por dois mandatos. Parecia evidente que se tratava de coisa do PT, provavelmente de um assessor ligado à família Loureiro. Prática de gente covarde, que não tem a coragem de mostrar a cara. Mas em nada o tal folhetim influenciou no eleitorado.

Também  naquela  campanha  eleitoral  foram  registrados  fatos que,  se  eu  não  tivesse  presenciado,  diria  se  tratar  de  lenda.  E  um desses  casos  envolveu  o candidato  José  Quaresma, durante  um  debate  realizado  na  Acimon,  a  quem  eu  também prestava  Assessoria  de  Comunicação,  na  época  em  que  o presidente  era  o  saudoso  José  Ricardo  de  Brito.  Entre  os  debatedores,  estávamos  eu  (pelo  jornal  “A Notícia”), Cláudia  Gandra  (representando  a  Rádio  Tiradentes)  e  Elmo Lima  (Jornal  de  Monlevade).  Candidatos  postados  à  frente,  as perguntas  foram  feitas  através  de  sorteio,  ou  seja,  tínhamos de preparar  perguntas  para  todos  eles,  já  que não  sabíamos  quem  seria  o  indicado.  Eis  que  a  minha  pergunta veio  exatamente  para  Quaresma.  Cláudia  Gandra  foi  a  mais “beneficiada”,  já  que  era  colega  de  emissora  de  Carlos  Moreira  e  sua  pergunta  saiu  exatamente  para  ele,  seu  patrão.  Ela aproveitou  bem  a  oportunidade.  E  eu,  pensativo:  “o  que perguntar  para  o  amigo  Quaresma”?  Contudo,  me  lembrei  de  que,  em  seu  programa  de  governo,  ele  prometia  trazer  para  uma  emissora  de  televisão para o município.  Não  pensei  duas  vezes  e fiz  a  pergunta  direcionada  a  este  seu  comprometimento,  caso  fosse eleito. E ele respondeu de forma confusa, dizendo que já tinha  contatos  para  que  a  concessão  fosse  liberada  em  caso  de sua  vitória  nas  urnas.  Não satisfeito  com  a  resposta  do candidato,  fui  para  a  réplica  e  lhe  questionei:  –  “Mas  como  você vai  conseguir  a  liberação  de  um  canal  de  TV para  o  nosso município?  Explique  melhor”.  Nesse  momento, Quaresma  me deu uma boa encarada, pegou o microfone meio desajeitado e disse,  em  tom  áspero,  de  forma  objetiva:  –  “Problema  meu”!  A

Rádio  Tiradentes  transmitia  o  debate  e  acho  que,  naquele momento,  não  só  o  público  presente  na Acimon, mas  todos  os  ouvintes  devem ter  dado  sonoras  risadas.  Ao deixar  o  encontro,  todos  me  paravam  nas  ruas  para  ouvir  de viva-voz  toda  a  história.  Tornou-se  um  prato  cheio  na  reta  final da  campanha.  O  mais  interessante  é  que,  em  nenhum  momento, Quaresma  chegou  a  se  irritar.  Tinha  um jeito  turrão,  mas  era  um senhor  de  alma  boa  e  tínhamos  um  ótimo  relacionamento;  tanto que  nada  mudou  após  o  episódio  ocorrido durante  o  debate.  Sempre  parava  ali  em  seu  escritório,  vizinho  ao  antigo  prédio  da Getúlio  Vargas,  para  ouvir  os  causos  e  suas  histórias  na  vida política  de  um  brizolista  apaixonado.  Aquele  episódio  durou meses  nas  redes  da  “Rádio-Peão”.

*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XXXV

Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!

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