1992: O Pichador da Praça do Povo e o desaparecimento do menino Juliano!

Estávamos  em  mais  um  ano  eleitoral  e  as  coisas  aconteciam com  muita  rapidez.  Minha  labuta  continuava  entre  a  rádio  e  o jornal.  No governo  do  prefeito  Diniz  foram  registradas  algumas mudanças  e,  para  amenizar  a  situação  junto  à  Executiva Municipal,  alguns  militantes  da  cidade  foram  contratados  para ocupar  cargos  de  confiança  na  Prefeitura.  Entre  eles,  José Theodoro,  que  assumia  a  pasta  de Administração. O  ano  mal  começava  e  a  administração  do  PT se  envolvia  em uma briga  que  –  assim  pensava  a  equipe  do  prefeito  Leonardo  -, poderia  render  votos  nas  eleições  daquele  ano  e  manter  o  partido no  poder.  Dessa  forma,  se  arrastou  por  vários  meses  a  luta judicial  entre  o  governo  e  o  construtor  Ivo  Pires,  proprietário  de uma  área  no  centro  da  cidade,  precisamente  na  Avenida  Wilson Alvarenga.  Era  proposta  da  Prefeitura  construir  ali  uma  praça, para  ser inaugurada  em  abril  daquele  ano,  nas  comemorações  do 28º  aniversário  de  João  Monlevade,  mas  Ivo  Pires,  que  já  havia recebido  Cr$  23  milhões  vinte  e  três  milhões  de  cruzeiros  (dinheiro  da  época),  para desapropriação  da  área,  mas reivindicava um  valor  maior  .  Como  não foi  atendido,  entrou  na  Justiça  e  a obra  foi  embargada.  A luta  durou  meses  na  Justiça,  ora  com  a obra  em  andamento,  ora  embargada. O caso  terminou  em  favor  do  governo,  que  conseguiu  inaugurar a  praça  com  meses  de  atraso,  pouco  antes  das  eleições municipais,  com  um  grande  show  do  cantor  e  compositor Martinho  da  Vila.  A praça  esteve  lotada  e  tive  o  prazer  de  estar presente,  mesmo  porque  sempre  fui  um  fã  aficionado  do  grande sambista  José  Ferreira,  seu  nome  de  batismo.  Mas,  até  que  a praça  fosse  inaugurada,  outros  fatos  ocorreram  e  até  atos  de vandalismo,  por  parte  de  alguns  militantes  petistas  que ocupavam  cargos  de  confiança  no  governo  do  prefeito Leonardo  Diniz,  foram  registrados.  Eles  chegaram  a  derrubar  as placas  instaladas  no  local  pelo  proprietário  do  terreno,  Ivo  Pires, além  de  promoverem  pichações  em  murais  que  cercavam  a  obra quando  estava  embargada. Coisa comum entre ações de militantes petistas!

Entre  esses  pichadores,  uma  história  que  merece  registro. Estávamos  para  fechar  a  edição,  numa  manhã  de  quinta-feira.  E chega  a  informação  de  que  um  assessor  do  1º  escalão  teria  sido detido  ao  ser  flagrado  pichando  o  muro.  Saí  da  redação  às pressas,  direto  para  a  Delegacia.  Busquei  de  todas  as  formas entre as polícias Militar e Civil alguma informação, mas nada. Naquela  altura  do  campeonato,  o  nome  do  tal  assessor  –  que  já havia  sido  liberado  –  estaria  sob  sigilo.  Estava  quase  desistindo, quando  um  escrivão  da  Polícia  Civil,  José  Maria,  me  chama  ao canto  e  me  passa  o  nome  do  elemento.  Tratava-se  de  João Baptista  Santiago,  titular  do  Departamento  de Planejamento. Corro  para  a  redação  e,  após  quase  uma  hora  de  pesquisa, conseguimos  encontrar  uma  foto  do tal assessor: na edição de sexta-feira, a manchete que vende todos os exemplares nas bancas , com a matéria de  capa  do  pichador  da  Praça  do  Povo  e  sua foto  estampada.

No  entanto,  nem  só  de  política  vive  a  imprensa:  um  caso  policial viria  chocar  toda  a  população  monlevadense,  até  hoje  não solucionado.  Seria  o  desaparecimento  do  menino  Juliano Marques,  de  11  anos na época,  que  no  dia  3  de  maio  de  1992,  desapareceu no  campo  de Aviação.  Ele  havia  saído  de  sua  casa,  no  Bairro Laranjeiras,  onde  morava  com  a  mãe,  a  funcionária  pública Matutina  Soares  Marques,  e  irmãos.  Estava  em  companhia  de outros dois menores, tendo umdeles  afirmado que teria violentado sexualmente a criança e chegou a ficar apreendido durante um período . O Corpo de Bombeiros da Polícia Militar e até funcionários da Prefeitura ficaram durante dias procurando pelo menino no local e na região, sem nenhum sucesso. As buscas foram paralisadas dez dias após o desaparecimento. Hoje, mais de três duas décadas depois, não se tem notícias de Juliano Marques, e se está vivo ou não. Porém, sua mãe, Dona Matutina ainda tinha esperança de encontrá-lo. E o outro rapaz, réu confesso de ter estuprado Juliano no no dia de seu desaparecimento, continua em liberdade e, como muitas vezes ocorre entre os marginais, tornou-se evangélico e  como  todo “convertido”, jura arrependimento. E sempre que o via perambulando  pelas  ruas  da  cidade,  o sentimento é de revolta e repulsa.

Infelizmente,  o  fato  ocorreu  e  sentenciou  para  sempre  uma família,  após  um  passeio  mal  acabado  no  antigo  aeroporto  de nossa  cidade. Ali  do  alto  do  Bairro  Vila  Tanque.  Um  lugar  que, durante  alguns  anos  foi  usado  como  um  templo  recreativo,  onde eram  realizados  os  saudosos  festivais  de  pipas,  mas  que  também era  trajeto  obrigatório  para  aprendizes  de  motoristas,  no  tempo que  não  havia  a  “máfia”  das  auto-escolas.  Ou  ainda,  o  point  para acampamentos  de  jovens  moças  e  rapazes  ou  piqueniques  entre famílias.  Hoje,  está  totalmente  isolado  e  fechado  à  comunidade, por  ordem  do  indiano.  Em  João Monlevade,  as  coisas  são  diferentes da  modernidade  do  mundo,  porque  as  portas  costumam  mais  se fechar do que abrir. Mesmo porque a “Mãe” Belgo-Mineira tornou-se  a  “Madrasta”  ArcelorMittal.  Assim  aconteceu  com  a Serra  do  Seara  e  com  o  Campo  de Aviação.

Servidor morre dentro da Prefeitura

Minha  vida  de  repórter  prosseguia,  sempre  ligado  nos  fatos.  E, entre  tantos  casos,  lembro-me  de  mais  um;  a  prova  viva  de  que os “passarinhos  verdes”  (informantes)  que  tínhamos  de  dentro da  máquina  administrativa  realmente  eram  muito  rápidos  nas informações. Na redação localizada ali na Rua Brasília, 104, o telefone  toca.  Uma  voz  do  outro  lado,  sem  que  a  pessoa  se identificasse,  comunica  que  um  funcionário  público  municipal acabava de falecer dentro do banheiro do prédio da Prefeitura, depois  de  ter  sido  negado  a  ele  uma  consulta  na  Policlínica. Apanho  a  máquina  fotográfica  e  saio  em  disparada no velho Fiat 147.  Chego  à Prefeitura  com  a  “ferramenta”  pendurada  no  pescoço  e  a primeira  pessoa  que  vejo  é justamente  o  chefe  do Departamento de  Administração,  José  Theodoro.  O  relógio  marcava meio-dia e  não  fazia  10  minutos  que  havia  sido  registrado  o  óbito. Nem  a perícia  havia  chegado  ao  local,  embora  isso  não  seja novidade, pois  na  maioria  das  vezes  eles  são  os  que  mais  se  atrasam.  Nesse instante,  Theodoro  me  olha,  dá  um  sorriso  discreto,  em  tom  de gozação,  e  vai  logo  falando:  –  “Marcelo,  o  camarada  nem morreu ainda  e  você  já  está  aqui!  Seus  informantes  são  bons  mesmos, hein! Afinal  faltam  ainda  cinco  minutos  para  o  fato  acontecer”.  O clima  foi  quebrado  e  ambos  seguramos  para  não  darmos  umas boas  risadas.  Afinal,  era  preciso  respeitar  a  memória  do funcionário  que  acabara  de  falecer,  ali,  próximo  de  nós.

O  que  sei  dizer  é  que  o  óbito  gerou  muita  polêmica  e  custou  caro ao governo do prefeito Diniz, que teve sua imagem ainda mais desgastada perante a opinião pública. Isso, poucos meses depois de ter autorizado o caminhão-pipa da Prefeitura  a  encher  a  piscina da casa do então açougueiro Caetano, localizada na Rua Ricardo Leite, enquanto a população de sofria com a falta d´água.

*Do Livro A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XXXIV

Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!

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