Prefeito “Bio” e o Mestre “Lelé” se despedem e os monlevadenses perdem dois ícones de sua história!

Domingo,  17  de  maio  de  1998.  Duas  despedidas de  dois  ícones  dahistória  política  e  cultural  de  João  Monlevade.  O  primeiro, Germin  Loureiro,  popular  “Bio”,  prefeito  do  município  por  três mandatos  (1967/70;  1983/88  e  1993/96).  Popular  e  carismático, tinha  na  esposa,  também  saudosa  Dona  Zarif  Loureiro,  sua grande  companheira  na vida  familiar  e  política.  O  cortejo fúnebre  do  ex-prefeito  arrastou  multidões  e  fez  chorar  muita gente,  pessoas  simples  que  tinham  no  casal  um  alicerce  para seus  problemas.  Bio  era  muito  amado  e,  mesmo  político,  tinha  o respeito  de  toda  comunidade.  Despediu-se  e  mostrou  sua  obra, hoje  imortalizada.  E,  na  mesma  data,  no  município  de  Serra,  em Jacaraípe,  Espírito  Santo,  o  músico  Ângelo  Castro,  “Mestre Lelé”. Este,  um  grande  amigo,  que  fazia  dos  instrumentos  sua grande  arte.  Regente  dos  corais  da  Igreja  da  Vila  Tanque,  seu bairro.

Por  volta  das  20  horas,  estava  eu  deitado,  em  minha  cama,  sob  o cobertor  que  me  protegia  do  frio  proveniente  de  um  estado febril,  quando  o  vizinho  e  amigo  José  Tavares,  “Piteco”,  bate  em minha  casa,  anunciando  a  morte  de  Lelé,  seu  cunhado.  Não pensei  duas  vezes.  Disse  à  minha esposa  e  aos  meninos  que  não  poderia deixar  de  me  despedir  de  Seu  Lelé,  um  grande  ídolo  que  tinha. Partimos  eu,  “Piteco”  e  sua  esposa,  para  nossa  caminhada  de mais  de  400  Kms. Lembro-me  de  que,  ao  chegar  em  Realeza, tomei  um  conhaque  e  me  senti  melhor.  Fui  então  pegar  a direção.  Chegamos  em  Jacaraípe  por volta  de  2  horas  da madrugada.  De  lá,  para  o  cemitério,  onde  o  corpo  do  mestre  era velado  pela  família  e  alguns  amigos.  Não  tinha  a  multidão  do velório  do  também  querido  Bio,  mas  estavam  ali  pessoas  que amaram  em  vida  o  grande  Lelé.  Ficamos  ali  por  um  tempo  e, depois,  para  reencontrar  os  velhos  amigos  da  Vila  e  colocar a conversa  em  dia,  saímos  para  um  bar  que  ficava  dentro  do local onde o corpo estava sendo velado.  Eu,  Piteco,  os  filhos  Ângelo  (Gelu),  José  de  Castro (Pantera)  e  Antônio  (Bosch),  o  genro  Emilson  (Zuin)  e  o  amigo da  família,  Sr.  Marcos.  Passamos  ali  a  madrugada  até  o amanhecer, entre  a  prosa,  uma  cerveja  e  a  cachaça.  Fazíamos uma justa homenagem para quem sempre gostou de viver, que buscou intensamente  a  felicidade.  E  ele  faria  o  mesmo  por  nós. Veio  a  despedida  no  início  da  tarde  de  segunda-feira  e  foi  ele ficar  ao  lado  do  Criador.  Os  dois  monlevadenses, ícones,   certamente  se encontraram  no  céu.

“Foi  num  dia  17  de  maio.  Foi  no  ano  de  1998.  Foram contemporâneos.  Viveram  vidas  diferentes  e  talvez  até  mesmo mundos  diferentes.  Mas,  vindos  de  outras  terras,  migraram para  João Monlevade  e  aqui  se fizeram profissionais,  casaram- se.  Ambos  tinham  algo  em  comum:  eram  muito  família  e também  religiosos.  Sem  contar que  eram  pessoas  especiais, cada  um  ao  seu  estilo.  Um  era carpinteiro  e  músico.  O  outro, comerciante  e  político.  Ambos  passarinheiros.  Um  havia nascido  em  Santana  do  Alfié,  município  de  São  Domingos  do Prata,  vindo  a  falecer  em  Jacaraipe,  aos  80  anos.  Mas  viveu praticamente  toda  a  vida  em  João  Monlevade;  o  outro  nasceu em  Belo  Horizonte  e  morreu  aos  75  anos.  Também  dedicou  sua vida  a  esta  cidade.

Estamos  falando  de  Ângelo  Rocha  Castro  e  de  Germin Loureiro. Popularmente  conhecidos  como  “Lelé”  e  “Bio”.  O primeiro  foi  um  dos  grandes  músicos  que  passou  por  nossa cidade.  Um  polivalente  nos  instrumentos,  onde  tocava  corda, sopro  e  teclado.  Participou  de  vários  grupos  musicais  de João Monlevade  desde  a  década  de  1930. Seresteiro  e  grande  maestro, boêmio  por  excelência.  E,  por  vários anos,  foi  o  regente  dos corais  que  se  apresentavam  nas  missas  de  sábado  e  domingo  na Igreja  do  Bairro  Vila  Tanque.  Aliás,  a  Vila foi  seu  berço.  Era  o Mestre  Lelé,  sempre  de  bem  com  a  vida  e  nunca  estava  sozinho, transportando  nas  mãos  o  seu  violão  ou  um  instrumento  de sopro.  Saudade  ao  estar por  ali  na  Rua  21,  a Rua  do  “Sapo”,  na  Vila, e  recordar  do  velho  Lelé,  com  o  semblante  alegre,  sempre sorrindo,  descendo para  a  Igreja.

O  segundo  é  o  maior  político  que  já  passou  por  esta  terra. Mesmo com  seu  jeito  sisudo,  era  um  homem  de  um  coração enorme.  Sua vida  era  no  velho  Carneirinhos,  onde  começou  a ingressar  na  política  e,  de  cara,  foi uma das lideranças junto à  Comissão  Pró-Emancipação  de  João  Monlevade.  Antes  teve  um  bar,  o  Bar  do Bio  (hoje  Búfalo  Bill).  Foi prefeito por  três  mandatos  (1967/70; 83/88  e  93/96).  Entre  suas  grandes  obras,  está a  Estação  de Tratamento  de  Água,  várias  escolas  e  urbanização  em  dezenas de  bairros.   Bio  era  o tipo do  político  que  não  precisava  correr  atrás do  eleitor.  Por  si  só,  ele  tinha  o  respeito  do  povo. Assim  como Lelé,  Bio  era  um  homem  integrado  ao  trabalho  voluntário.

As  esposas?  Dona  Enir  e  D.  Zarif,  grandes  companheiras. Foram  o  baluarte  para  sucesso  de  seus  maridos.  Pessoas  de currículos  invejáveis.  Pessoas  íntegras,  amigas  e  solidárias. Pessoas  raras”.

*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte L

Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!

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