Laércio Ribeiro, durante seu 1º mandato como prefeito (1997/2000), não aceitava as críticas da imprensa e acabou investindo em um “chapa branca”
Algo, no entanto, ainda estava para acontecer naquele final de 1996. Tão logo reassumiu a direção administrativa na Rádio Cultura, o candidato derrotado, Carlos Moreira, alterou a grade de programação da emissora e simplesmente ignorou a mim e ao meu programa. Pior ainda: sequer chegou a me comunicar pessoalmente, para dizer ao menos que eu estava demitido. O motivo era simples: não o havia apoiado e nem votado nele nas eleições e com certeza ali o rancor falaria mais alto. Não satisfeito, fui até a sua sala, na emissora, para uma conversa cara a cara. Apresentei meu questionamento e ele, ali, parado, sem ousar levantar os olhos. Perguntei se estava demitido e Carlos fez sinal que sim. Acertei as minhas contas e saí dali, talvez para nunca mais retornar. No entanto, a vida sempre nos prega surpresas. Comecei o ano de 1997, entre o “A Notícia” e a Câmara Municipal, já que fui mantido no cargo de assessor de Comunicação pelo presidente eleito da Casa, vereador José Benísio Werneck.
O ano começaria com uma tragédia , provocada pelas chuvas. Pela primeira vez as enchentes na cidade aconteciam em anos diferentes daqueles terminados com o dígito nove, como as que causaram muitos danos em 1969 e 1979. O prefeito Laércio Ribeiro teria um começo de governo que jamais poderia imaginar. Janeiro foi marcado com deslizamentos de encostas, desabamentos de casas e cheia do rio Piracicaba, até o fatídico acidente que matou três pessoas no Bairro Areia Preta, após um deslizamento de terra, que soterrou uma casa localizada na Avenida Getúlio Vargas. As vítimas eram a dona da casa e duas sobrinhas gêmeas, de Belo Horizonte, que estavam passando as férias na cidade. O fato chocou toda a população. Lembro-me de que, acompanhado do repórter Dalton Passos, fizemos uma grande reportagem sobre os problemas causados pelas chuvas, visitando todos os bairros . As vendas daquela edição se esgotaram nas bancas. Infelizmente, a mídia vive mais desse tipo de notícias, ou seja, tragédia é o que mais vende jornais. Para o chefe do Executivo, a bonança estava longe de começar.
Ao contrário de seu antecessor do PT, Leonardo Diniz, Laércio Ribeiro resolveu valorizar a prata da casa e deu pouca chance aos chamados “forasteiros”. Tanto que fizeram parte do 1º escalão do governo o jornalista Geraldo Magela, o economista Marco Aurélio Loureiro (que não conseguiu se reeleger ao Legislativo), Ilca Morais, o médico Dr. Marino Braga, o advogado Eduardo Bastos (que foi mantido) e outras pessoas com raízes em João Monlevade. No entanto, politicamente falando, o primeiro ano do governo de Dr. Laércio passou por sérias crises, e a primeira delas foi o embate com o Legislativo. Como assessor de Comunicação da Casa Legislativa, tive muito trabalho naqueles primeiros meses de 1997. Tudo em razão do reajuste sobre o valor do IPTU no município. Com 10 vereadores de oposição, foi acirrada a briga entre os dois poderes, talvez um fato inédito em se tratando da prática da boa vizinhança entre o Executivo e Legislativo, que sempre marcou o cenário político em nossa cidade.
Somado a isto, no ano seguinte, ou seja, em 1998, foi instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara Municipal, conhecida “CPI da Pólis”, uma empresa de consultoria contratada pela Prefeitura por “notória especialidade”, ou seja, sem a necessidade de processo licitatório, uma prática comum nos governos petistas. O caso se tornou a principal pauta de toda imprensa local e o prefeito, sentindo-se incomodado, resolveu revidar e chegou a processar judicialmente vários jornalistas. Mas o tiro acabou saindo pela culatra. Afinal, nós, como profissionais, não aceitamos a reação do chefe do Executivo, o que consideramos uma forma de cerceamento à nossa liberdade de expressão. A crise então se agravou e, aconselhado por sua equipe, o chefe do Executivo decidiu marcar um encontro formal com todos os representantes da imprensa monlevadense, o que se deu na casa construída no Parque do Areão. Uma reunião, tendo como cenário a natureza, em que todos puderam colocar na mesa suas opiniões e divergências. Não diria que o governo de Laércio tivesse a intenção de firmar ali um acordo com a mídia local, através de maisliberação de anúncios institucionais, como se diz no “populesco”, “dar um jabá”, mas sim tentar amenizar o clima hostil entre as partes. Tanto que, durante as conversações, o prefeito prometeu que iria retirar todas as ações judiciais contra os jornalistas. Deixamos o local, após quase duas horas de reunião. Não houve promessas de mais anúncios por parte do Executivo e nem de amenizar as críticas ao governo. O lado positivo do fato foi que se rompeu aquele clima ruim que dominava entre as partes. Em contra partida, nascia um novo jornal impresso, o primeiro diário, o “Bom Dia”, cujos proprietários eram o piracicabense Geraldo Magela (Dindão) e o itabirano Roneijober Alves. Tendo ainda como repórter o também itabirano Emerson Duarte. Nada oficial, mas chegava com “chapa branca” do governo petista como forma de tentar combater as críticas dos outros órgãos de imprensa e como o sustentáculo visando a reeleição do Dr. Laércio em 2000. Uma vacina contra a oposição. Uma tática que poderia ou não dar resultados…
Ética, a Palavra Chave; jamais vender sua opinião como Jornalista!
Mas, antes de seguir adiante a história – e já estávamos em 1998 -quero abrir um debate, junto a você, leitor, que está acompanhando a nossa saga. Sempre defendi a tese de que não há uma imprensa imparcial. Isso é lorota, chave de cadeia. Afinal, todos nós temos opiniões e somos formadores de opinião, conforme se expressa a sociedade. É lógico que o politicamente correto é produzir uma matéria jornalística altamente isenta, ouvindo os dois lados, sem colocar a nossa posição. Mas, além de repórteres, somos a linha editorial de um órgão de imprensa e responsáveis por colunas, onde expressamos as nossas opiniões. E ao apresentarmos nosso ponto de vista, sempre iremos apontar para um lado. Entretanto o nosso compromisso é com a ética, porque é ela que sustenta a nossa conduta. A partir do momento que um repórter, ou um jornalista, tome partido uma situação sem dar a oportunidade para que a outra parte tenha espaço em seu órgão de imprensa, aí perde-se toda a credibilidade.
Trazendo esta discussão em nível regional, onde colocamos João Monlevade como alvo principal, os exemplos são muitos. Quem sou eu para bancar o “politicamente correto”! Sou humano e durante todos esses anos de jornalismo, cometi muitos erros. Busquei, no entanto, sempre não misturar a água com o óleo. Afinal, não podemos nos dar o luxo de nos mantermos muito próximos do poder. Esta a situação de alguns pseudo-profissionais de nossa cidade (assim prefiro defini-los) que, ao vender o espaço, acabamvendendo também suas opiniões; tornam-se manipuláveis diante do poder e escrevem o que o rei mandar. E assim trocam, de quatro em quatro anos, suas opiniões, a forma de pensar, e até seus valores morais. Como costumamos dizer em nosso meio, “vendem até a mãe para se manterem estáveis financeiramente”.
*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XLVIX
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!