Juninho Starling fica em terceiro na sucessão municipal
Em toda e qualquer profissão, as decepções e frustrações acontecem. No entanto, a traição eu considero uma das piores formas de se frustrar. E assim ocorreu comigo naquele início de 1996, no “Diário do Aço”. Como citei anteriormente, o fato de eu ter assumido a coluna “Radar” custaria minha cabeça, e custou, da forma mais covarde possível. Havia se formado na cidade uma onda especulativa em torno da saída da agência do Banco Real de João Monlevade. E nossa Coluna atuava também com especulações, atiçando a curiosidade do leitor. Algo parecido com o caso da “Fanta Uva”, que até hoje é motivo de gozação com o um dos sócios proprietários do extinto Restaurante Sucupira, o “Nenen”! É que eu almoçava no Búfalo Bill e havia pedido uma fanta uva, que chegou choca, estragada. Fiz o comentário no “Radar”, mas obviamente sem citar o nome do estabelecimento, que não interessava. Dois dias depois, um representante da Coca-Cola entrou em contato telefônico com a nossa redação e acabei passando a ele o nome do local. No mesmo dia, vendedores compareceram ao Búfalo Bill e trocaram todos os refrigerantes de fanta. Os proprietários da época, José Marcelo e André Loureiro foram pegos de surpresa, mas depois tudo virou motivo para boas risadas. No caso do Banco Real, custou o meu emprego e a omissão do então editor do jornal, Marcos Benevides. Afinal, a Coluna não levava a minha assinatura, mas sim da linha editorial do periódico e cabia a ele aprovar ou não o que seria publicado na edição da manhã seguinte. Um tremendo covarde!
Fiz então a nota sobre o fato de que a agência poderia deixar a cidade. Só que nem passava pela minha cabeça que o diretor Wilton Oliveira e a sua empresa eram clientes daquela instituição financeira. Uma ou duas semanas depois, o próprio Wilton, de forma covarde e sem ao menos conversar comigo ou comunicar comigo pessoalmente, mandou o seu advogado procurar-me na redação, ali à Rua Floresta, para informar sobre o meu desligamento da empresa. Minha vontade naquele momento era de me encontrar com o diretor do jornal, frente a frente, e tomar alguma atitude radical. Deixei para lá, porque quem faz em vida paga é por aqui mesmo. Mas não escondi minha indignação. Havia deixado a minha estabilidade no “A Notícia” porque fui convidado, e saía daquela forma, injusta. Mas o jornal não durou muito. O investimento feito no município não compensou e o Wilton só teve prejuízos. Mas valeu a pena a experiência, pois tínhamos uma boa equipe, entre eles o saudoso Swuamir Barbosa, José Carlos Rôla e Maurício Reis.
Como diz o velho ditado, “há males que vêm pra o bem”. E assim aconteceu. Também naquele ano de 1996 passei por uma experiência inédita. Pedi uma licença na Rádio Cultura e resolvi encarar um novo desafio, atendendo convite do colega Francis Júnior, com que havia trabalhado na emissora. Juntos, fomos coordenar a campanha eleitoral em Rio Piracicaba, para o candidato a prefeito, saudoso Júlio Pinto Coelho (Dr. Júlio), que tentaria retornar ao Executivo, onde fora chefe da cadeira, no período de 1989 a 1992. E eu também havia retornava à velha casa, onde havia iniciado a carreira, mais de dez anos depois.
Em João Monlevade, os nomes estavam definidos. Pelo PT, Leonardo abriria mão da disputa interna, apoiando acandidatura do Dr. Laércio Ribeiro ao cargo majoritário, considerada natural. Gentil Bicalho foi seu candidato a vice na chapa. Com isso o ex-líder sindical dava mostras de seu desapego pelo poder absoluto e colocava seu nome como candidato ao cargo proporcional, tentando uma vaga na Câmara de Vereadores. O PMDB de Germin Loureiro e Antônio Gonçalves não tinha um candidato, enquanto Mauri Torres lançava Carlos Moreira, que entraria na sua segunda disputa, mas, desta vez com apoio político e financeiro. Como seu vice na chapa entrou o comerciante Eustáquio Bicalho (da Dibisa). E Juninho Starling manteve seu posicionamento, saindo pelo PTB, tendo como candidato a vice o empresário José Ricardo de Brito. Finalmente, apenas para fazer número, o então sindicalista e diretor do Sintramon, Aníbal Torres (irmão do deputado Mauri Torres) lançaria sua chapa independente à candidatura para prefeito. Assim como ocorreu com José Quaresma Sobrinho quatro anos antes, numa atitude que podemos classificar de, no mínimo, ousada.
A campanha ganhava ares de uma disputa acirrada, pois estava polarizada em duas candidaturas: Dr. Laércio Ribeiro e Carlos Moreira. Eu, particularmente, naquele ano, mais engajado na disputa em Rio Piracicaba, não dei apoio a nenhum dos candidatos, mas votei em Juninho Starling, que foi um compromisso que havia firmado com ele, pessoalmente. E por achar que seria o melhor nome para governar João Monlevade. Mas suas chances eram mínimas. Há uma semana da campanha, Carlos Moreira havia passado à frente nas pesquisas de opinião, o que provocou uma mobilização geral na militância petista. Tanto que, preocupados com nova derrota, os padres monfortinos, entre eles Luizinho e Luciano, resolveram arregaçar as mangas e foram às ruas pedir votos, principalmente nas comunidades onde tinham maior liderança, no Loanda e Cruzeiro Celeste. Seriam as primeiras eleições municipais com a utilização da urna eletrônica, acabando as cédulas de papel. Também na apuração, onde não ocorreria mais aquele alvoroço e tanta expectativa. Novos tempos e sem mais o glamour passado de uma eleição. Vitória petista e grande festa nas ruas da cidade. Carlos Moreira consegue perder na reta final e Juninho Starling fica na terceira posição. O Partido dos Trabalhadores voltava ao poder em João Monlevade. Enquanto isso, Carlos Moreira dava entrada no Hospital Margarida com início de depressão, onde ficaria internado por alguns dias. Estava difícil aceitar a derrota naquela altura do campeonato.
No Legislativo, foram reeleitos Gleber Naime de Paula, José Benísio Werneck, Djalma Bastos, José Arcênio de Magalhães (Zezinho Despachante), Dorinha Machado, José Marcos dos Santos (Zé Lascado), Antônio de Paula Magalhães (Toninho Eletricista), Sinval Jacinto Dias e Rivaldo de Brito. Eleitos pela primeira vez à Câmara Municipal, os candidatos Leonardo Diniz, Maria de Lourdes Filinha, Maria Iris, Geraldo Bicalho Ferreira (Bêra), Helenita Melo Lopes e José Francisco Moreira (Zé da Bota). Depois de ser derrotado na urnas em 1992, o médico Luiz Amaral retorna à sua cadeira no Poder Legislativo. A novidade foi que o número de mulheres eleitas para ocupar vagas na Casa bate o recorde na história política do município, nas eleições daquele ano. A grande decepção ficaria com Clésio Gonçalves, presidente da Câmara que não conseguiria a reeleição.
Quanto ao pleito em Rio Piracicaba, valeu apenas a experiência, porque o concorrente faria barba, cabelo e bigode. O nosso candidato, Dr. Júlio, além da derrota, não conseguiu que sua coligação fizesse ao menos um vereador. Mas ficaram as histórias e muitas gargalhadas depois.
*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XLVIII
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!