O vereador João Bosco Vieira Paschoal falece em julho de 1997
O ano de 1995 começaria com mais uma grata novidade em casa. O primogênito Ícaro ganharia um irmão, e que também nasceria durante a festa carnavalesca, assim como ele, quatro anos atrás. Diferença de alguns dias e de Signo. O primeiro, de Aquário, e o segundo, Arthur Alex Cruz e Melo, chegou em 27 de fevereiro, segunda-feira, portanto, de Peixes. A cada ano que se passava aumentavam as nossas responsabilidades: a vida profissional, filhos, afazeres domésticos. A rotina de qualquer família em que se mata um leão a cada dia.
Tudo caminhava normalmente entre o lar o jornal “A Notícia” e a Rádio Cultura. Mas novas mudanças surgiriam na área profissional. O vereador Clésio Gonçalves havia assumido a presidência do Poder Legislativo para comandar a Mesa Diretora para o biênio 1995/1996, em substituição a Juninho Starling. Após acordo entre alguns vereadores, cuja proposta havia partido de João Bosco Vieira Paschoal, meu nome foi sugerido para ocupar a Assessoria de Imprensa da Casa, em substituição a Carlos Moreira, que não tinha se adaptado às funções. Ainda no primeiro semestre estava ocupando o posto e uma nova experiência na vida profissional. Financeiramente, era compensador, mas ao mesmo tempo iria prejudicar o meu trabalho como repórter, principalmente em meu programa de rádio, sempre polêmico e agressivo. Mas acabei encarando o desafio e tentei conciliar de forma mais ética possível as minhas obrigações profissionais, entre o rádio, o jornal e o poder. No entanto, outra mudança viria naquele mesmo ano, em junho. Uma sucursal do jornal “Diário do Aço”, de Ipatinga, estava para se instalar em João Monlevade. Seu diretor, Wilton Rodrigues de Oliveira, ex-professor do Senai e ex-diretor do Departamento de Educação no 1º governo do ex-prefeito Antônio Gonçalves, mandou então convidar-me pra fazer parte da equipe do periódico, que viria para revolucionar os meios de comunicação na cidade. Apesar de minha ligação de amizade com o pessoal do “A Notícia”, não poderia perder aquela oportunidade, de trabalhar em um diário, vivendo todo o clima de uma grande redação. Até aquele ano, 1995, ainda trabalhávamos com as velhas máquinas de escrever e foi no “Diário do Aço” que tivemos o primeiro contato com um Computador, numa tela verde, meio embaçada, mas uma novidade e tanto. O velho barulho de minha Remington era substituído pelo silêncio dos teclados e, de datilógrafo, passava ao grau de digitador. A redação começou a funcionar na casa do ex-prefeito Antônio Gonçalves, ali na Avenida do Contorno, 450, Vila Tanque. Mas, devido à localidade, pouco acessível, mudou-se para a Rua Floresta, em Carneirinhos, no prédio onde se instalou o Sintramon.
Pela manhã, trabalhava na Câmara Municipal. À tarde dividia meu tempo entre a redação do Diário do Aço e a Rádio Cultura. Após meu programa na emissora, que terminava às 18 horas, voltava para o jornal, para fechar as principais manchetes. Estava como editor-adjunto, mas sempre batia de frente com o editor Marcos Benevides, por ser contrário à sua forma muito amena de fazer jornalismo, tentando sempre a política da “imprensa bem comportada politicamente”. Não era do meu feitio. Mas, íamos levando! Além de repórter e redator, acabei também assumindo a Coluna “Radar”, cujo nome plagiava uma Coluna famosa do “Folha de São Paulo”. Não havia assinatura, pois era de responsabilidade de todo grupo editorial do periódico. No entanto, somente eu fazia a Coluna que, algum tempo depois, custaria minha cabeça. Mas isso é uma história para mais tarde…
Pois bem, mas por essas ironias do destino, o principal articulador de minha contratação como assessor de Imprensa na Câmara Municipal, vereador João Bosco Vieira Paschoal, foi acometido por uma doença rara naquele ano e nem chegamos a conviver no Legislativo após a minha efetivação, pois ele ficou afastado de suas funções por alguns meses, entre internações e repouso em casa. Lembro-me de uma noite, durante reunião ordinária – eu ainda não havia sido contratado -, quando João Bosco chegou a chamar o presidente à Coxia (sala reservada aos vereadores) e, na minha presença e do assessor jurídico da Câmara, Adilson Prates dos Reis, exigiu a minha contratação imediata, o que foi acatado por Clésio Gonçalves. Coisa que não pode passar despercebida e talvez explique sua atitude, certamente foi a gratidão que ele tinha por meu pai, Sebastião Gomes de Melo que, sendo vereador no mandato de 1773 a 1976, e presidente do Legislativo, no período de 1974 a 76, o lançara na política. Mas, óbvio, também pela minha competência como profissional.
Falecimento do vereador João Bosco!
No entanto, a doença do vereador se agravava e ele acabou internado no CTI de um hospital em Belo Horizonte, e veio a falecer no dia 31 de julho de 1995. Foram quatro mandatos consecutivos, iniciados em 1977, com a vitória nas urnas em 15 de novembro de 1976. A notícia provocou uma comoção geral entre os monlevadenses e uma multidão compareceu ao cortejo para se despedir do vereador, que também se tornara popular em razão de sua carreira como empreendedor, sempre trazendo à cidade grandes nomes da Música Popular Brasileira, cujo palco era o conhecido campo do Flamengo. João Bosco era amado por muitos e invejado por alguns, mas era sinônimo de festas e não se acomodava apenas nas funções de legislador. Como tal, sempre foi respeitado pela sua postura firme e de nunca ficar preso às amarras do governo. Era um opositor nato e muito falastrão. Não tinha medo e geralmente suas idas à Tribuna eram recheadas de denúncias e críticas, sempre polêmicas. Para a imprensa, sempre dava boas manchetes. Minha ligação com João Bosco nunca foi de amizade, mas sempre mantivemos um bom relacionamento. E, para a política monlevadense, foi mesmo uma grande perda. Em seu lugar, assumiu a cadeira o 1º suplente, Rivaldo de Brito.
A vida seguia seu rumo normal e eu seguia minha trajetória entre as entrevistas polêmicas no meu programa de rádio, a corrida atrás de notícias diárias, a coluna Radar e o tempo para criar fatos – às vezes – e o cumprimento de meu trabalho junto à Comunicação do Legislativo. No plano político, começavam as articulações em torno dos nomes dos pré-candidatos na corrida sucessória, para o governo municipal. O PT tinha dois nomes na disputa: o ex-prefeito Leonardo Diniz Dias e o médico, derrotado nas eleições passadas, Laércio José Ribeiro. Pelo PMDB, estava difícil encontrar um nome, mas havia a possibilidade de um acordo junto ao deputado Mauri Torres para lançar como candidato o radialista Carlos Moreira. E, pelo PTB, o vereador Juninho Starling não abria mão de seu nome. Faltava muito ainda para a linha de chegada, mas a largada estava dada!
*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XLVII
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!