Dia “D” e mais uma guerra nos bastidores da apuração!

No  jornal,  havia  sido  contratado  o   Walter  Horta, saudoso  “Waltinho”,  que  estava  nos  dando  muita  força  na equipe.  Tinha  muita  facilidade  em  redigir  os  textos.  Mas  a  coisa pegou  mesmo  para  ele  durante  a  apuração  das  eleições  de  1994,  já que fiquei praticamente hibernado durante três dias no ginásio da ACM,  para  fazer  a  cobertura.  Agora  do  outro  lado,  pela  Rádio Cultura.  Dois  anos  antes  era  um  concorrente  e  agora  quem estava  do  lado  oposto  seria  a  Alternativa,  cuja  equipe  era comandada  pelo   radialista  Weber  Ferreira.  Uma  boa  disputa  para  ver  quem  dava  as  notícias  com  mais  rapidez.  Nos estúdios  tinha  o  suporte  dos  excelentes  profissionais  Geraldo Cardozo  e  Cláudia  Gandra.  Naquele  3  de  outubro,  Mauri  Torres e  Antônio  Roberto disputavam  a  reeleição  como  candidatos  da região.

Vários  foram  os  acontecimentos,  entre  flagrantes  de  apostas envolvendo  o  empresário  Elgen  Machado,  “Machadão”,  os vereadores  Djalma  Bastos  e  José  Marcos  dos  Santos,  o  “Zé Lascado”  e,  numa  delas,  o  vereador  de  São  Gonçalo  do  Rio Abaixo,  Rogério  Bicalho. Foi  justamente  com  ele  que  a  corda quase  arrebentou  e  deu  o  maior  ibope  em  minha  cobertura  pela emissora.  Naquele  entra  e  sai  de gente,  entre  candidatos,  fiscais  e mesários,  além  dos  membros  da  Justiça  Eleitoral,  havia  muito bate-boca.  Mesmo  não  sendo  uma eleição  municipal,  que sempre  desperta  maior  interesse  da  população,  a  disputa  entre Mauri  e  Dr.  Antônio  acabou  criando  um  clima  de  “guerra”  entre seus cabos eleitorais e o clima esquentou. E foi assim que presenciei uma cena que teve  seu  auge  nos  microfones  da  Rádio  Cultura.  Mauri  estava bem  à  frente  do  Dr.  Antônio,  quando  Rogério  Bicalho aproximou-se de  “Lascado”, propondo uma aposta, de que quando começassem  a  ser  apuradas  as  urnas  das  regiões  do  Loanda  e Cruzeiro  Celeste,  a  situação  se  inverteria.  Lascado  topou  na hora  e  colocou  R$  5  mil,  fazendo  um  cheque.  Não  perdi  tempo  e chamei  Cláudia  Gandra,  que  estava  no  estúdio.  No  mesmo instante  entrei  no  ar  e  passei  a  informação  aos  ouvintes,  relatando sobre a  aposta  que  acontecera  entre  os  dois  vereadores.  Para  azar,  a mãe  do  Dr.  Rogério  ouvia  a  emissora  e,  assustada,  foi  direto  para a  ACM,  em  companhia  de  sua  nora,  a  esposa  do  médico.  Não demorou  muito  e  Rogério chegou  até  a  mim  para  desmentir,  mas Machado,  Lascado  e  Djalma  confirmaram  o  fato.  Discutimos  de forma  acintosa,  mas  o  convidei  para  me  conceder  uma entrevista  e  explicar  sobre  o  assunto.  Ele  disse  que  iria  pensar.

19  horas!  “A Hora  do  Brasil”.  Continuava  meu  trabalho  normal na  apuração,  correndo  entre  as  mesas,  ora  falando  com  um,  ora falando  com  outro,  e  nem  sabia  o  que  acontecia  com  na emissora concorrente.  20  horas.  Geraldo  Cardozo  me  liga  do  estúdio  e pergunta  se  eu estava  ouvindo  a  cobertura  da  Alternativa.  Disse que  não  e  ele  me  deu  uma  notícia  que  me  tirou  do  sério.  Weber Ferreira  havia  dado  espaço  para  que  Rogério  Bicalho  me desmentisse,  ao  vivo,  e  ainda  por  cima tendo  usado  quase  10 minutos  do  programa  “A Hora  do  Brasil”.  Pior  ainda:  eu  havia oferecido a ele o  espaço  para  se  defender  pela  Cultura  e  ele  ficou de  pensar,  e  vai  para  a  outra  emissora  e  fala  inverdades. Agi rápido. Com os nervos à flor da pele, imediatamente  convidei  Rogério Bicalho, Djalma Bastos, “Machadão” e “Zé Lascado e pedi a Cardozo que me  colocasse  no  ar.  À  frente  dos  quatro,  ratifiquei  a  informação que  havia  dado  horas  antes,  ou  seja,  de  que  o  Dr.  Rogério  havia proposto  uma  aposta  de  cinco  mil  reais  com  o  vereador  José Lascado.  Logo depois,  passei  o  microfone  para  Rogério  e  dei  a ele  um  tempo  de um  minuto  para  sua  réplica.  Ele,  mais  uma  vez, desmentiu.  Aí,  passei  a palavra  ao  apostador  Lascado  e  às testemunhas, o empresário  Elgen  Machado  e  o vereador  Djalma  Bastos,  que  usaram  o  mesmo  tempo  e confirmaram  mais  uma  vez  o  ocorrido, ou seja, que Rogério Bicalho havia feito a aposta.  Voltei  com  o  microfone e,  antes  de  me  despedir dos  ouvintes  e  de  Geraldo  Cardozo, categoricamente,  chamei-o de  mentiroso,  ao vivo. Não podia perder minha credibilidade.  Agora,  em  toda  situação,  a  minha maior  decepção  foi  com  a  falta  de profissionalismo  do  colega  da outra emissora, Weber Ferreira, pois sabia do que se tratava e faltou com a ética.

O  ano  terminava  com  a  reeleição  de  Mauri  Torres  e  a  derrota  de Antônio Roberto. Bem fez Rogério Bicalho, que não concretizou  a  aposta. Nas eleições para os cargos majoritários,  uma  virada.  Com vitória  quase  garantida  no  1º  turno,  Hélio  Costa  deixou  escapar mais  uma  vez  sua  chegada  ao  Palácio  da  liberdade  e,  por  menos de  1%  dos  votos,  houve o 2º  turno,  quando  enfrentaria  Eduardo Azeredo, que conquistou o governo de Minas Gerais. Para a presidência da República, Fernando Henrique Cardoso  desbanca  Lula  ainda  no  1º  turno.

*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XLVI

Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!

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