Meses depois de assumir o governo de Minas, Eduardo Azeredo concedeu uma entrevista no nosso programa, o “Plantão Cultura”, junto ao deputado Mauri Torres, reeleito à Assembleia Legislativa. Ainda n a foto, o radialista Carlos Moreira, anos antes de ser eleito prefeito de João Monlevade
No jornal, havia sido contratado o Walter Horta, saudoso “Waltinho”, que estava nos dando muita força na equipe. Tinha muita facilidade em redigir os textos. Mas a coisa pegou mesmo para ele durante a apuração das eleições de 1994, já que fiquei praticamente hibernado durante três dias no ginásio da ACM, para fazer a cobertura. Agora do outro lado, pela Rádio Cultura. Dois anos antes era um concorrente e agora quem estava do lado oposto seria a Alternativa, cuja equipe era comandada pelo radialista Weber Ferreira. Uma boa disputa para ver quem dava as notícias com mais rapidez. Nos estúdios tinha o suporte dos excelentes profissionais Geraldo Cardozo e Cláudia Gandra. Naquele 3 de outubro, Mauri Torres e Antônio Roberto disputavam a reeleição como candidatos da região.
Vários foram os acontecimentos, entre flagrantes de apostas envolvendo o empresário Elgen Machado, “Machadão”, os vereadores Djalma Bastos e José Marcos dos Santos, o “Zé Lascado” e, numa delas, o vereador de São Gonçalo do Rio Abaixo, Rogério Bicalho. Foi justamente com ele que a corda quase arrebentou e deu o maior ibope em minha cobertura pela emissora. Naquele entra e sai de gente, entre candidatos, fiscais e mesários, além dos membros da Justiça Eleitoral, havia muito bate-boca. Mesmo não sendo uma eleição municipal, que sempre desperta maior interesse da população, a disputa entre Mauri e Dr. Antônio acabou criando um clima de “guerra” entre seus cabos eleitorais e o clima esquentou. E foi assim que presenciei uma cena que teve seu auge nos microfones da Rádio Cultura. Mauri estava bem à frente do Dr. Antônio, quando Rogério Bicalho aproximou-se de “Lascado”, propondo uma aposta, de que quando começassem a ser apuradas as urnas das regiões do Loanda e Cruzeiro Celeste, a situação se inverteria. Lascado topou na hora e colocou R$ 5 mil, fazendo um cheque. Não perdi tempo e chamei Cláudia Gandra, que estava no estúdio. No mesmo instante entrei no ar e passei a informação aos ouvintes, relatando sobre a aposta que acontecera entre os dois vereadores. Para azar, a mãe do Dr. Rogério ouvia a emissora e, assustada, foi direto para a ACM, em companhia de sua nora, a esposa do médico. Não demorou muito e Rogério chegou até a mim para desmentir, mas Machado, Lascado e Djalma confirmaram o fato. Discutimos de forma acintosa, mas o convidei para me conceder uma entrevista e explicar sobre o assunto. Ele disse que iria pensar.
19 horas! “A Hora do Brasil”. Continuava meu trabalho normal na apuração, correndo entre as mesas, ora falando com um, ora falando com outro, e nem sabia o que acontecia com na emissora concorrente. 20 horas. Geraldo Cardozo me liga do estúdio e pergunta se eu estava ouvindo a cobertura da Alternativa. Disse que não e ele me deu uma notícia que me tirou do sério. Weber Ferreira havia dado espaço para que Rogério Bicalho me desmentisse, ao vivo, e ainda por cima tendo usado quase 10 minutos do programa “A Hora do Brasil”. Pior ainda: eu havia oferecido a ele o espaço para se defender pela Cultura e ele ficou de pensar, e vai para a outra emissora e fala inverdades. Agi rápido. Com os nervos à flor da pele, imediatamente convidei Rogério Bicalho, Djalma Bastos, “Machadão” e “Zé Lascado e pedi a Cardozo que me colocasse no ar. À frente dos quatro, ratifiquei a informação que havia dado horas antes, ou seja, de que o Dr. Rogério havia proposto uma aposta de cinco mil reais com o vereador José Lascado. Logo depois, passei o microfone para Rogério e dei a ele um tempo de um minuto para sua réplica. Ele, mais uma vez, desmentiu. Aí, passei a palavra ao apostador Lascado e às testemunhas, o empresário Elgen Machado e o vereador Djalma Bastos, que usaram o mesmo tempo e confirmaram mais uma vez o ocorrido, ou seja, que Rogério Bicalho havia feito a aposta. Voltei com o microfone e, antes de me despedir dos ouvintes e de Geraldo Cardozo, categoricamente, chamei-o de mentiroso, ao vivo. Não podia perder minha credibilidade. Agora, em toda situação, a minha maior decepção foi com a falta de profissionalismo do colega da outra emissora, Weber Ferreira, pois sabia do que se tratava e faltou com a ética.
O ano terminava com a reeleição de Mauri Torres e a derrota de Antônio Roberto. Bem fez Rogério Bicalho, que não concretizou a aposta. Nas eleições para os cargos majoritários, uma virada. Com vitória quase garantida no 1º turno, Hélio Costa deixou escapar mais uma vez sua chegada ao Palácio da liberdade e, por menos de 1% dos votos, houve o 2º turno, quando enfrentaria Eduardo Azeredo, que conquistou o governo de Minas Gerais. Para a presidência da República, Fernando Henrique Cardoso desbanca Lula ainda no 1º turno.
*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XLVI
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!