Uma Galhofa num Amistoso! – *Franber

No ocaso dos áureos tempos do futebol monlevadense, excetuando as duas equipes bambas da cidade (Metalúrgico e Olímpico, o jocoso “Fuça Marmitas”), o Real Esporte Clube, do grandioso e desenvolvido bairro Carneirinhos, ora abrigando a parte administrativa do município, primava por haver abundância de craques em seus dois elencos : tanto no “titular” como no “cascudão”. O bacana que “bobeava” perdia a posição. Literalmente “dançava”, e sem música. Para recuperá-la era um Deus nos acuda! Visto isto, o tornava um time forte, aguerrido e dificilmente era sobrepujado em seu terreiro, o Estádio Gentil Bicalho. Geralmente as equipes visitantes vinham para perder de pouco. Criou fama. A notícia correu longe. Assim a vizinhança em peso, queria jogar contra o Real. Tirar-lhes uma casquinha!

Nesta láurea de reputação, os realinos criaram seu mecanismo de sufocar e arrebentar seus adversários. Cercado de folclore, superstição e mandingas de Cruzeiro (José da Cruz Freitas), por exemplo, eles só jogavam o primeiro tempo chutando para a meta do lado da atual Rua Vereador Nozinho Caldeira (antiga rua Itajubá), de baixo para cima (o campo era no sentido leste-oeste), de tal modo contra o sol. Na etapa complementar, com o sol na cara do goleiro visitante, com um físico invejável e jogando morro abaixo, eles trucidavam o oponente. Liquidavam de vez, quando o treinador praticamente trocava o elenco inteiro. Era uma baba!

Determinada vez, Vicente Repolês, Gringo, para os íntimos da Usina, marcou um jogo da seleção de sua terra (Sem Peixe) contra o Real. O amistoso foi propagandeado em toda a Usina. No cartaz do encontro, inusitadamente ele colocou em letras garrafais o número “100”, mais a figura de um “Peixe” versus Real, anunciando o embate. Matou a pau! Foi uma senhora jogada de “marketing”! Pegou igual visgo! A peonada toda da Usina e sem que fazer do bairro ficaram sabendo!

Eis que chega o grande dia, com o Estádio lotado. Conhecedor da maioria dos jogadores e das suas manhas, na hora do prélio (este é do tempo de Prezado), Gringo começou aprontar prá cima dos donos da casa. Não se importou com a senhora traulitada e vexatório marcador (16X0) tomado por seu “cascudão”! De propósito ele atrasou a entrada de seu time em campo e ainda enfiou-lhe um esquisito e fúnebre uniforme preto. Segundo ele, devido um figurão da sua cidade “ter ido cantar com minha mãe estarei”. Estavam de luto. Enquanto isso, os rapazes da “Coroa Dourada”, acostumados a meter o bambu nos adversários sem dó e nem piedade, praticamente campeões da segundona e por sinal invictos até aquele momento, entraram logo na cancha após o “esfria sol” e começaram a fazer cena : saracotear, darem pulos, cabecearem, fazerem embaixadas, exercícios e chutarem fortes para os goleiros. Obviamente, todos com as coxas e canelas enlambuzadas de óleo ou linimento. Tudo para impressionar o visitante e também empolgados pela precatada dada pelo”cascudão”. Pelo jeito, seria como comer “mamão com açúcar” ou “mastigar água”! Uma moleza! Porém não gostaram da demora dos “sem picianos” entrarem em campo. E ficaram mais baratinados e ensimesmados quando viram aquela homaiada toda de preto, igual urubu! Mau sinal. Cruzeiro, um enrustido supersticioso, ficou com a pulga atrás da orelha! Coisa de mau agouro. Para entornar mais o caldo, mexer com a cuca da patota e dar vazão aos maus presságios, perderam no “cara ou coroa” e Gringo usou a tática do Real. Iniciou a partida jogando para cima, contra o sol.

Meu amigo, mal saiu a redonda, a rapaziada de Sem Peixe foi logo marcando! Como desgraça pouca é bobagem, os pupilos de Gringo partiram para cima do estupefato Real e ampliaram o placar. A maionese realina começava a desandar. As mandingas de Cruzeiro no vestiário estavam indo pro beleléu! Como tampouco os gritos nervosos e blasfêmicos de “seu” Mota à beira do gramado. A coisa tava feia. Nada dava certo! Era uma tarde daquelas! Tanto assim, que Ruão foi cobrar um tiro de meta, não colocou giz no taco e a bola foi para o escanteio. Quase fez contra. Na sequência da jogada, papou um suculento e apetitoso galinháceo, fazendo a alegria e satisfação da galera desafeta!

Todavia, depois de muita luta, muito xingatório, troca-troca de elementos, o bamba de Carneirinhos conseguiu, ao apagar das luzes um suado, honroso, um exemplar empate. Esta peleja foi um autêntico caso em que alguém foi tirar lã e quase foi tosquiado! Poderia servir de lição, mas aquela turma não tomava jeito! Cairia em outras esparrelas!

*Franber era o pseudônimo usado pelo cronista Francisco Bernardino, popular “Baiano”, que assinava a Coluna “Causos da Usina” no jornal “Morro do Geo”, e foi nosso colaborador durante anos.

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