Biografia do grande ÂNGELO ROCHA CASTRO (Mestre LELÉ)

O saudoso Mestre “Lelé”, tocando o seu Piston, que o acompanhou durante anos. Ele também tinha o dom com as cordas e os teclados, e era Mestre na Carpintaria

Ângelo Rocha Castro, conhecido carinhosamente por “Seu Lelé”, nasceu em 15 de novembro de 1917, no Distrito de Alfié, município de São Domingos do Prata. Até a adolescência viveu em Alfié. A vida seguia seu curso natural, até que o seu pai, carpinteiro naquele Distrito, veio a falecer. O primeiro grande baque no ainda adolescente. Foi então que, junto com a mãe e os irmãos, mudou-se para a cidade de João Monlevade. Vieram atrás de trabalho e, o jovem Ângelo, aos 18 anos de idade, tornou-se arrimo de família. Conseguiu ingressar na Usina Metalúrgica Belgo Mineira, e seguiu o ofício ensinado por seu pai, – Carpinteiro.

  “Seu Lelé” sempre viveu à frente de seu tempo. Boêmio assumido, a sua paixão sempre foi a música. Curtiu muito o seu tempo de solteiro entre amigos e rodas onde não podiam faltar instrumentos e uma boa serenata. Prova de sua vitalidade, natureza extrovertida e juventude. Sempre divertido, bem humorado, nas horas de lazer, apreciava a música e se dedicava aos instrumentos musicais.

  Inteligente, o “jovem Lelé” gostava de entreter seus colegas com boa música e boa prosa. E aprendeu sozinho – pelo dom do ouvido afinado pelas melodias – a tocar vários instrumentos, da corda ao sopro. Mas os que mais lhe encantavam e lhe davam prazer eram o Piston, o Saxofone, a Clarineta, o Violão e o Harmônio (órgão), este último usado durante os vários anos que participou de corais da Igreja Matriz São José Operário, no Palanque da Vila Tanque e depois na Igreja Nossa Senhora de Fátima, também na sua querida Vila, onde viveu depois de casado. Também cantou no Coral Pio XI, regido pelo maestro José Silva. Mas sua vida artística não se resumia à Igreja. Além da responsabilidade com o trabalho na Belgo-Mineira, Seu Lelé respirava musicalidade e ele também era membro efetivo da Corporação Musical Monlevade, de grupos de seresta e todos os anos fazia o seu Sax “falar” durante os bailes carnavalescos do Ideal Clube e União Operário.

 Depois de viver bem a sua mocidade, chegava a hora de encontrar a sua cara-metade. Assim começou a namorar uma moça, bem mais jovem, que residia na região do Tieté. E para a época quebrava mais um tabu, pois somente se casara aos 40 anos de idade com Enir Tavares, que passara a assinar Castro, 20 anos mais nova que ele, com quem teve 5 filhos: Ângelo Castro (Gelu), José Geraldo de Castro (Zé Pantera), Maria da Conceição Castro (Lia), Antônio Tavares Castro (Toninho Bosch) e Ângela Tavares Castro (Gelinha). Praticamente todas as noites e nas folgas de finais de semana, Seu Lelé reunia a família para tocar cantar e dali nasceu o amor pela música. E todos os filhos herdaram a musicalidade. O mais velho, “Gelu”, residente em Salvador (BA) é, além de exímio violonista, é maestro formado pela UFBA, arranjador e tem trabalhos com Gilberto Gil, e coordena um grupo de jovens cantores (de famílias carentes) e hoje se apresentam pela Europa e África. “Toninho Bosch” também é músico e herdou do “Mestre Lelé” o seu Saxofone. Também toca piano e é maestro de um Coral na cidade de Capitão Enéias, norte de Minas, onde mora.      E as moças, “Lia” e “Gelinha” sempre cantaram em corais e têm vozes afinadíssimas. Tudo pela herança dos pais, já que Don Enir também adora cantar.

  Mas havia também o Ângelo Castro voluntário, que sempre gostou de servir às pessoas. Quando ainda não se falava em inclusão social, esse jovem senhor, ao se aposentar, se ofereceu para um trabalho voluntário na extinta FEBEM e depois FUMBEM, onde ensinava seu ofício de carpintaria. Dali saíram excelentes profissionais. E, durante os intervalos na Carpintaria, apresentava aos jovens infratores a beleza da música, de se dedicar a um instrumento.

Mudança para o Litoral

  Pois bem, mas a vida traçava outro destino para o casal Seu Lelé e Dona Enir, que residia por vários anos à Rua 19, no Bairro Vila Tanque. Os filhos, à exceção da caçula, já tinham partido de Monlevade para buscar o sucesso profissional. Uns já haviam se casado. E a casa na Vila já não estava mais cheia, à exceção em alguns finais de semana e nos feriados. O Seu Lelé continuava sendo o regente dos corais da Igreja Nossa Senhora de Fátima. Carregando o seu velho violão, descia até a Igreja, onde ali fazia sua oração particular com as cordas e o velho Harmônio. E aquela rotina já durava mais de duas décadas.

  Mas como falávamos, a ida dos filhos para outras paragens acabaria levando o Mestre Lelé para longe das terras do francês Jean Monlevade. Em 1982, a filha Maria (Lia) mudou-se para Jacaraípe, Serra (ES). Havia se casado com o namorado de infância e vizinho Emilson Martins Barros. Pouco tempo depois, Seu Lelé resolveu que deveria ajudá-la a cuidar dos filhos e, em fevereiro do ano de 1985, chegou ao Bairro Residencial Jacaraípe, não apenas com a missão de cuidar dos netos, mas também de outras tantas crianças, adolescentes, jovens e também dos pais destes filhos tão queridos da cidade que aprendeu a amar. Lá se foram o patriarca, a esposa Enir e a filha Gelinha.

  Logo sua generosidade, simpatia e a musicalidade, espalharam-se pelo bairro e sua casa manteve a porta sempre aberta. Recebendo aqueles que se interessavam em aprender um instrumento, em cantar, em uma boa história, ou um bom conselho. Sua vida resumia no prazer do convívio familiar, e também de ensinar a arte da música às caminhadas diárias. E depois uma Yoga à beira mar nas praias de Jacaraípe. Em meados dos anos 1990 ele adoeceu e o seu tempo foi passando. Ao seu lado a forte mulher, grande companheira e esposa, que tanto amor e apoio concedeu ao marido nos mais de 40 anos que viveram juntos.

 Mas o seu Sax ali, sobre a mesa da sala, que por antecipação já sentia a sua falta. O mestre Lelé já não tocava mais os seus instrumentos. Ficaram órfãos precisamente no último dia de sua, que se deu em 17 de maio do ano de 1998, ao som do violão de seu filho mais velho, de mesmo nome. Morreu como sempre viveu, junto daquela que foi sua companheira inseparável em todos os momentos: a música. E o Sax foi herdado pelo filho mais moço, “Bosch”, que hoje é guardado e, depois de revitalizado, o acompanha sempre nos momentos de tocar o instrumento. E com a mesma sensibilidade do pai.

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