*Geraldo Eustáquio Ferreira – Professor Dadinho
Na foto, o então prefeito Germin Loureiro (Bio), ao lado da esposa, a 1ª dama Dona Zarif Loureiro, durante a inauguração da Estação de Tratamento de Água (ETA), nas Pacas, uma das grandes obras em seu 1º governo, de 1967 a 1970. Entras as pessoas na foto, o então deputado federal Jorge Ferraz, e o diretor da Belgo-Mineira, Antônio José Polansky.
Quando o Governador Magalhães Pinto sancionou a lei de emancipação política e administrativa de João Monlevade, em 29 de abril de 1964, mais que toda a população da nova cidade, uma pessoa teve razões muito especiais para comemorar: era Germin Loureiro, o popular Bio, que vinha se dedicando à causa com vigor e entusiasmo.
Germin Loureiro, filho de Manoel Loureiro e Maria de Jesus Loureiro, nasceu em Belo Horizonte, aos 31 de maio de 1923. Veio para Monlevade em 1946, aos 23 anos de idade. Trabalhou como motorista da empreiteira Gilberto Xavier de Alcântara na construção do Bairro Vila Tanque e atuou como comerciante no estabelecimento Irmãos Loureiro. Casou-se, em 1949, com Zarif Merlin Maluf Loureiro, com quem teve seis filhos: deixou exemplos de pai dedicado e marido exemplar.
Com efeito, na qualidade de Presidente da Comissão de Emancipação, Germin Loureiro conhecera mais que ninguém os percalços e dificuldades que a Comissão enfrentara: as sucessivas e cansativas viagens a Belo Horizonte, a falta de recursos para as despesas, a falta de apoio da população, os adversários locais fazendo lobby junto a deputados estaduais para votarem contra, e até mesmo um trágico veto imposto ao projeto pelo Governador – suprema ironia – em pleno “Réveillon” daquele ano.
Nada disso, no entanto, abalara os ânimos do jovem comerciante que passara os anos cinquenta vivendo intensamente as dificuldades do Distrito, onde não havia água, luz, calçamento nem escolas: “A gente passava em Monlevade, todas as casas tinham rádio, geladeira e nós aqui em Carneirinhos não tínhamos nada disso. (…) Tudo era muito difícil, e a gente não conseguia de maneira nenhuma os melhoramentos com a Prefeitura de Piracicaba. Então partimos para a emancipação. (…) Muita gente se recusava a nos ajudar, pensando que era tudo farra, que a gente estava indo a Belo Horizonte, para comer às custas deles, para nos divertirmos…”
O que nem todos perceberam na época é que estava se formando ali, na Comissão de Emancipação, a liderança política mais significativa da cidade, forjada na humildade, na honestidade, no trabalho desinteressado em prol de melhores condições de vida para o povo.
Como se ressaltou acima, lutou incansavelmente ao lado de outras personalidades da cidade em prol da emancipação do então Distrito de Monlevade. Concretizado tal sonho em 1964, seu nome surgia espontaneamente como candidato a Prefeito nas eleições de 1965. Candidatou-se, mas quem levou foi o Wilson Alvarenga, que não residia em Monlevade, mas era mais experiente: “Ele ia de casa em casa pedindo o voto de cada pessoa. E como ninguém estava acostumado com aquilo, os eleitores se sentiam prestigiados com a visita de um candidato a prefeito. Essa foi a principal razão de sua vitória”.
Voltando a candidatar-se em outros pleitos, Germin Loureiro foi, por três vezes, eleito Prefeito Municipal de João Monlevade: em 1966, 1982 e 1992. Em seu primeiro mandato (1967-1970), destacou-se sua administração pela preocupação com o saneamento básico, consolidada na urbanização, calçamento e iluminação do poeirento Carneirinhos e na criação do Departamento de Água e Esgotos. Verdadeiro “mestre-de-obras”, Bio dotou a cidade de toda a infra-estrutura necessária a uma vida digna, e a canalização do Córrego de Carneirinhos, sobre o qual se estende a Avenida Wilson Alvarenga, foi certamente sua grande obra. Isso sem falar da construção quase simultânea de cinco prédios escolares: Antônio Papini, Rúmia Maluf, Louis Ensch, João XXIII e Manuel Loureiro.
Reconduzido à Prefeitura Municipal mais duas vezes (1983-1988 e 1993-1996) através do voto, consolidou o que plantara anteriormente e, como destaque, deu apoio à pequena indústria, abrindo novas perspectivas para o desenvolvimento do município, implementando, também, importantes ações nas áreas de educação, cultura, saúde e trabalho social.
Na área social, não há como não mencionar a participação efetiva de Dona Zarif Loureiro, esposa, companheira de todas as horas e grande impulsionadora de sua carreira política. Se for verdadeiro o sábio ditado de que “atrás de um grande homem há sempre a figura de uma grande mulher”, ninguém mais que Germin e Zarif Loureiro pode comprová-lo em nossa cidade. Posteriormente, a partir de 2000, a própria Dona Zarif, na esteira da atuação política do marido, cumpriria mandato como vereadora na Câmara Municipal de João Monlevade.
Dono de uma liderança política incontestável, projetou-se também regionalmente: foi o primeiro presidente da AMEPI – Associação dos Municípios da Microrregião do Médio Piracicaba. E, em 1996 foi, em boa hora, agraciado com o título de Cidadão Honorário de João Monlevade pelos muitos serviços prestados à cidade. Era preciso que o orgulho de tê-lo como prefeito se completasse com a honra de tê-lo como cidadão monlevadense.
Faleceu no dia 17 de Maio de 1998, duas semanas antes de completar 75 anos. Esteve com muito merecimento entre os cidadãos indicados ao título de “Monlevadense do Século”. O patrimônio de cidadania, honestidade e austeridade que construiu ao longo da vida e legou aos monlevadenses autoriza a inserção de seu nome na “Galeria dos Imortais” de nossa História.
*Geraldo Eustáquio Ferreira, “Dadinho”, é professor, escritor, poeta, cronista e criador da Coluna “Nossa Terra, Nossa Gente”, publicada durante anos no jornal “Morro do Geo”!