Nosso Personagem: Seu Elson fala do antigo Carneirinhos, do Rosário e da Emancipação – Por Marcelo Melo!

Acima o casal Elson e Rita, que se casaram em 1959

Nascido na zona rural de São Gonçalo do Rio Abaixo, em 19 de fevereiro de 1926, Elson Ponce Martins chega aos 92 anos de idade com muitas histórias para contar, desde a infância, na roça, junto ao pai José Cassimiro Martins, que era Muladeiro (negociador de mulas) e à mãe, Angelina Ponce Martins, dona de casa, costureira e professora. Ele é o 8º dos 13 filhos (sete homens e seis mulheres) que teve o casal. Antes mesmo de se casar, o pai viajava constantemente entre Minas ao Espírito Santo para vender mulas e, numa dessas viagens, acabou por conhecer a futura esposa, Angelina, natural de Mutum. Casaram-se por lá mesmo e moraram na cidade por algum tempo, onde nasceu a 1ª filha do casal, a Rita (Lilita). Depois retornou para a região e Seu José Casimiro trabalhou de agregado na Fazenda “Entre Rios”, que ficava na Serra do Andrade. Lá nasceram outros 4 filhos. Até que retornou a São Gonçalo e no seu negócio de mulas, mas apenas comercializando na região. Aí vieram os outros rebentos, entre eles o menino Elson que, com um ano de idade, mudou-se para a Fazenda “Sabaru”, na região das Pacas, que era de propriedade de seus avós. Ele lembra com saudade da avó Manoela, das quitandas que ela fazia e de como era bom morar na fazenda. “Meu pai acabou comprando um terreno e construiu uma casa. Plantava sua roça, vendias suas mulas e assim a gente vivia. Minha mãe costurava e dava aulas para nós, seus filhos, e para outras crianças que moravam perto. Era um tempo muito bom”, relatou Seu Elson.

Ele chegou nesta casa com os pais, em 1944, onde mora até hoje, no antigo Bairro “Jacaré”, hoje Rosário

Chegada à Cidade: o “Pasto de Porco”

Sua chegada à cidade se deu em 1944, quando ele tinha 18 anos, na flor da idade. Seus pais se mudaram para Carneirinhos, exatamente na mesma rua onde moram até hoje, no lugar de nome estranho: “Jacaré”. Era assim chamado pela mata que ali existia e era repleta de árvores da espécie “Pau-Jacaré”. Somente anos depois o bairro recebeu o nome que resiste até hoje: Rosário. O pai havia adquirido alguns alqueires de terra e lá plantava para sustento da família, e também vendia arroz, café, cana e hortaliças. Carneirinhos ainda era um vila sem nenhuma infraestrutura e sem saneamento básico e, conforme relatou Seu Elson, era conhecido como “Pasto de Porco”. “Menino, a gente andava pelas ruas à noite e tinha de puxar os porcos que caiam no córrego ou se enterravam na lama durante o período de chuva. O lugar era uma verdadeira pocilga de tantos porcos. A maioria das pessoas vivia da criação dos animais para ganhar a vida.”.

Mas, esta história veio depois, pois tão logo aportou-se nas terras de João Monlevade, mudou-se para Governador Valadares, onde trabalhou por dois anos em um Armazém da Christiane & Nielsen, junto ao irmão José Ponce. Depois conseguiu a transferência para a mesma empresa em Monlevade, também no Armazém que atendia aos empregados da Christiane, e fazia toda a obra de terraplenagem para as instalações da Usina da Belgo-Mineira. Segundo Sr. Elson, os proprietários eram dois dinamarqueses, brancos, fortes, de sobrenomes engraçados: – “Não sei como se escreve, mas se chamavam Paulo Dik e Miguel Seigekler. Fiquei trabalhando com eles de 1946 a 1949. Era um Armazém enorme e vendia de tudo”, lembrou. Depois trabalhou na CAF, de 1949 a 1951, como apontador; e de lá se transferiu para a Belgo-Mineira, onde ficou até 1957. Nos tempos de Usina, lembra muito de um amigo, com quem descia a pé todo dia para o trabalho. “Ele morava ali perto do Geraldo de Paula (região do Belmonte). Me esperava todo o dia para a gente descer juntos e pegar as 7. Era o Seu Jorge de Melo. Um baixinho, muito inteligente. Getulista doente. Ai de quem falasse mal de Getúlio Vargas perto dele! Não me esqueço dele. Era uma pessoa muito boa”, relembrou.

No entanto, seu sonho era ter seu próprio negócio e aí, assim que deixou a siderurgia, abriu uma loja de confecções e calçados, o “Bazar Nossa Senhora Aparecida”, em 1961. Era localizado na Avenida Getúlio Vargas, esquina com a Rua Duque de Caxias. No início as coisas iam até muito bem. Mas, diante das amizades acabou abrindo muitas contas e o maus pagadores o levaram à quase falência e Seu Elson foi obrigado a fechar o comércio. “Lamentei muito, mas os fiados me levaram a ter de encerrar as atividades. Não guardei mágoa de nenhum deles”, contou com sua humildade peculiar.

A Boemia até encontrar o seu Amor

Elson Martins sempre foi um boêmio. Gostava da farra e de tomar seus traçados. Durante nossa prosa no apartamento de sua filha Angelina e do genro Antônio (Toninho), no mesmo terreno onde seus pais compraram e moraram, onde se casou com Dona Rita e criou os seus 4 filhos, e cuja rua tem o nome de sua mãe, a saudosa Dona Angelina Ponce Martins, ele contou saudoso dos tempos que Carneirinhos era conhecido como “Pasto de Porco”. Segundo ele, havia uma turma de seresteiros que quase todas as noites varavam a madrugada fazendo serenata para as meninas. “Éramos eu, Hélio Ventura, Walter Loureiro, Sebastião Baú, Altair Peixoto, Serafin Fonseca, Joaquim Memé, José Costa. Íamos para o famoso Bar do Abelardo (onde está localizada hoje a antiga garagem da Enscon) e lá fazíamos nossa farra. Tomávamos de tudo, até estanho derretido (rs). De lá saíamos e com violão nas mãos e partíamos para as serenatas”, disse com um sorriso no rosto.

Mas sua vida de boêmio estava prestes a acabar. No entanto, demorou, tanto que Seu Elson somente se casou aos 33 anos de idade, o que não era muito comum para a época, quando os jovens se casavam bem mais cedo. Conheceu sua cara metade, uma professora vinda de São José do Goiabal, para lecionar em João Monlevade. Segundo ele, tudo teve início no famoso “Bar do Waldir”, que ficava ali no beco da Rua Maria Beatriz. Era um estabelecimento bem frequentado e a moça, em companhia de outras amigas professoras, estava no local, onde começou o flerte, conforme relatou. “A gente começou a se olhar e dias depois começamos a namorar. Nos casamos após um ano”. Somente o amor para lhe tirar da noite, e assim, no dia 23 de maio de 1959, Elson Ponce Martins e Rita Perdigão Martins contraíram o Matrimônio, que foi realizado pelo Padre João Gomes, na Igreja Nossa Senhora da Conceição, em Carneirinhos, que ainda estava em construção.

E, já casado, ele acabou sendo admitido na Prefeitura, precisamente no Departamento de Obras, no ano de 1966, tão logo o então prefeito, saudoso Germin Loureiro, o popular “Bio” – 2º prefeito eleito de João Monlevade -, assumiu o poder. Aliás, sua amizade com Bio era antiga, contou, desde os tempos que se instalou a Comissão Emancipadora de João Monlevade. Elson Martins não fazia parte da Comissão, mas sempre participava das reuniões e frequentemente viajava para Belo Horizonte para estar presente aos encontros que ocorriam na Assembleia Legislativa. “Havia um grupo que gostava de participar, mesmo sem fazer parte da Comissão. E a gente viajava com dinheiro do próprio bolso, porque era nosso interesse ver João Monlevade emancipada. E quando isso ocorreu foi uma grande festa”, disse orgulhoso.

“Somente depois que Monlevade se tornou cidade que as coisas foram melhorando, principalmente Carneirinhos, quando recebeu a Comarca, a Prefeitura e outros órgãos públicos. Claro que a Belgo-Mineira sempre nos ajudou com infraestrutura, mas nós, de Carneirinhos, éramos discriminados com relação às pessoas que moravam na parte baixa da cidade, mais próximas da Usina, principalmente na vida social”, confidenciou emocionado Sr. Elson, que aposentou-se como funcionário da Prefeitura Municipal de João Monlevade em 1997, e muitos bons serviços prestados.

Este é o senhor Elson, pai de 4 filhos e avô de 6 netos. Pessoa simples e simpática, amante de uma boa prosa. Leva uma vida tranquila ao lado da esposa, sendo vizinho de uma das filhas, do genro e de alguns dos netos. Os outros filhos, sendo duas moças e um homem, e os demais netos, residem em outras cidades. Sua rotina é levantar cedo, dar uma caminhada até o “Kikos Bar” ou no “Bar do Matias”, onde gosta de ter um dedinho de prosa com os amigos. Até pouco tempo atrás não dispensava uma cervejinha – a loura e a Caracu -, além de uma cachacinha, mas agora está parado. E a compra do mês faz questão de fazer. Religiosamente ele quem é responsável por ela, antes no Comil e agora no Hipermercado. “Esta missão ninguém toma de mim enquanto tiver pernas”, disse sorrindo.

Aqui, um pouco da história desta grande figura humana, e com quem tenho o prazer de conviver alguns anos. Uma pessoa incrível, alto astral e sempre com a piada na ponta da língua. Sempre viveu em função da família, do trabalho e dos amigos. Deus lhe dê ainda muita saúde ao lado da esposa Dona Regina e dos seus familiares!

*Matéria publicada na edição de nº 170 do jornal “Morro do Geo”, de setembro/2018.

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