“Chico Enfermeiro”: o velho Hospital que virou Margarida! – Marcelo Melo

Acima, a foto do saudoso Sr. Francisco da Costa, cuja matéria foi publicada no “Jornal de Monlevade” em outubro de 1989

Em 3 de março de 1953ocorria no setor cirúrgico do Hospital Margarida a primeira operação. Em consequência de uma infecção aguda no abdômen passava por uma cirurgia José Raimundo Silva, que vive hoje em Carneirinhos, com aproximadamente 75 anos de idade. Isto mesmo, ou seja, exatamente há 36 anos.

  E quem fala sobre a história do Hospital Margarida, e mesmo do hospital velho – que funcionava onde está instalado hoje o Vestiário Central da Usina (Zebrão), é o Sr. Francisco Cornélio da Costa, ou simplesmente “Chico Enfermeiro”, apelido que o seguiu pelos anos afora, que por mais de trinta anos ajudou a salvar vidas, através de sua profissão.

  Natural de São Gonçalo do Rio Abaixo, Sr. Francisco veio paraa João Monlevade aos 20 anos de idade, tendo logo se iniciado na profissão de enfermeiro. Sua carreira foi iniciada no local denominado Engenheiro Guillma (Usina de Amorin), onde trabalhava em uma farmácia prestando pequenos socorros. Dali transferiu-se para o Hospital Velho, em 1951, por onde ficou dois anos. “Naquele tempo tudo era muito arcaico, e até as radiografias eram feitas na Assistência Minas-Brasil”, lembrou Seu Chico Enfermeiro.

Época das Parteiras

  Falando com saudosismo dos bons tempos, ele contou das várias viagens que realizava pelos lugarejos, em companhia do motorista Gentil Ângelo. “Cada história engraçada, como as viagens que fazíamos em companhia da parteira Dona Flordaliza. A gente passava em cada meio de mato. E Dona Flordaliza estava lá, para execução dos partos. Chegava a ser divertido”. Os enfermeiros da época era apenas três: Seu Delfino, José Horta e Francisco da Costa.

  Naquela ocasião o Dr. Homero era o chefe do Serviço Médico de Sabará, e em Monlevade o responsável era o Dr. Mário Aurélio Pires. Os médicos da época do Hospital Velho eram os doutores Geraldo, Figueroa, Mário, Darcy Figueiredo, Raul Costa, Ovídio Santeiro, José Dias e Dra. Déa. Na Fazenda Solar, contou Seu Chico, funcionava um hospital para crianças. “Fico hoje observando a rfeclamação deste pessoal que trabalha em revezamento, querendo cada vez mais trabalhar menos. No nosso tempo entrava no serviço num sábado às 12 horas e largava no domingo às sete da manhã. Era 12 horas corridas e recebíamos oito horas extras”, disse Sr. Francisco, afirmando ainda que naquela época as condições de trabalho eram bem piores.

Instalado o H.M.

  Em 1953 nascia o Hospital Margarida, cujo nome homenageava a mãe do Dr. Louis Jacques Ensch. Chico Enfermeiro lembra que a mudança foi até engraçada, “com caminhões transportando doentes e os equipamentos”. Na inauguração esteve presente o então governador de Minas Gerais – que depois se tornaria presidente da República -, Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Com orgulho, Seu Chico lembra de ter de te apertado a mão de JK, e citou ainda a presença de outras autoridades, como do próprio Dr. Louis Ensch.

  O 1º Conselho do Hospital Margarida era assim formado: presidente, Dr. Joseph Hein; vice-presidente, Paulo Gonzaga; diretor-administrativo, Álvaro Manna Barreto; e como vogais os doutores Mário Aurélio Pires, Francisco Pinto, Robert Loutssch e Padre Higino de Freiras. O H.M. iniciou suas atividades com 29 enfermeiros (incluindo auxiliares) e sete médicos.

Na fotografia abaixo, o Hospital Margarida logo após a sua inauguração, em 1953

Tudo em Casa

  Uma passagem não pode deixar de ser registrada na vida deste grande homem: seu casamento. Sr. Francisco Cornélio da Costa casou-se com Dona Cerzília Viana Costa, em 1955. Ele se conheceram lá mesmo, no Hospital Margarida, onde ela também trabalhava no setor de enfermaria. O casal tem oito filhos e atualmente sete netos. Portanto, a profissão lhe trouxe benefícios até em sua vida pessoal.

  Falando do Hospital Margarida, Sr. Chico Enfermeiro não poderia deixar de lembrar de médicos como os xarás Hugo Martins e Hugo Marcondes (um alto e gato e outro baixo e gago), do Sr. Otelino e Sr. Caetano, e ainda das enfermeiras Rita Coura, Corina, Maura Novais, Tereza Silvério, Nazinha e de Dona Geralda. Com um pouco de tristeza, ele lembra da morte ocorrida com o engenheiro João Zoller, que faleceu depois de ter ficado vários dias em coma após um acidente ocorrido dentro da Usina. “Várias vidas já passaram por minhas mãos. Apesar disso, ainda não gostamos de aceitar uma perda”, afirmou o enfermeiro, que hoje, aposentado há nove anos, passa o tempo estudando e colecionando pedras. Também tem como roby garimpar e é uma amante de madeiras de lei, como o jacarandá, cuja relíquia tem em seu poder.

  Sr. Francisco Cornélio da Costa vive no Bairro Vila Tanque há mais de 30 anos, e não se sente um aposentado. “Não gosto de frequentar barzinhos e nem as equinas. Acredito que todo aposentado deve ter uma ocupação. E isto, graças a Deus, não me tem faltado. Cuido de minha horta, das pedras e às vezes saio para o garimpo. Considero-me um cidadão feliz, mas ainda não realizado”, disse convicto Seu Chico Enfermeiro.

*De julho a dezembro de 1989, tive o prazer de produzir uma série de reportagens no extinto “Jornal de Monlevade”, periódico este fundado pelo amigo e jornalista Elmo José Lima – hoje residente em Belo Horizonte -, com algumas personalidades de nossa cidade, bairros e fatos curiosos sobre a história de João Monlevade, que estarei publicando em nosso Site.

Obs: O artigo está transcrito na íntegra, conforme publicado na edição de nº 298 do “Jornal de Monlevade”, de outubro/1989.

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