Carneirinhos: Das Fazendas de ontem ao progresso de hoje! – Marcelo Melo (I Parte)

Vista parcial de Carneirinhos na década de 1970

  Nesta edição a nossa história é sobre o bairro que se tornou o “símbolo” do progresso em João Monlevade. Uma região que acompanhou o crescimento do município, quando antes somente havia a saudosa Praça do Mercado – no Centro Industrial – para dar abrigo ao comércio local. Estamos falando de Carneirinhos. Cujo nome foi inspirado no próprio povo. Naquela época, décadas passadas, as compras eram feita em Rio Piracicaba, devido ao fraco movimento do nosso comércio. A pé ou a cavalo lá iam os monlevadenses – cujas roupas eram fabricadas por eles próprios, de sacos de aniagem. Em grupos, iam chegando em Piracicaba, e a população da cidade vizinha já gritava: – “lá veem os carneirinhos. Metade história outra metade pode ser lenda. Mas afirmam que daí nasceu o nome que deu origem ao Bairro Carneirinhos.

  Para falar um pouco deste próspero bairro, entrevistamos o ex-prefeito Antônio Gonçalves, que recorda o tempo em que Carneirinhos era apenas a Avenida Getúlio Vargas, e sem calçamento. Por ela que também se chegava a Belo Horizonte, onde uma viagem de João Monlevade até a capital se gastava, de veículo pequeno, cerca de sete horas, passando pelas Pacas, Santa Bárbara, Barão de Cocais, Caeté e Sabará, até chegar a BH. “Era pura poeira e já naquela época havia o ‘Bar do Bio’ e a Escola Jenny Farias, a única de Carneirinhos. No entanto, o bairro é bem mais antigo ao ano que Sr. Antônio chegou a João Monlevade, em 1941.

Fazendas e Escravos

  Ali na Avenida Getúlio Vargas,no local onde funcionava uma Lanchonete, em frente à Igreja velha de Carneirinhos, havia uma enorme Fazenda, de propriedade de João Batista de Oliveira. Sua esposa, Ruty Rodrigues de Oliveira, com seus poucos conhecimentos como dona de casa, tornara-se a primeira professora da região, quando a Escola funcionava no próprio Casarão da Fazenda. Outras três fazendas estavam instaladas no local que é hoje a Avenida Getúlio Vargas. E, mesmo após o fim da escravidão em nosso país, ainda chegavam por aqui escravos que fugiam de outras fazendas da região.

Política

  Falando sobre política, Antônio Gonçalves lembra que, ainda no tempo que Monlevade era distrito de Rio Piracicaba, as primeiras reuniões políticas para se buscar a emancipação eram feitas, desde a década de 1950, eram realizadas frequentemente num velho Cinema que existia na GHetúlio Vargas, onde funciona hoje o Foto Central. “Naquele tempo se discutir política neste Cinema”, disse “Pirraça”, lembrando ainda de um fato curioso ocorrido em 1965 – já após a emancipação – quando os vereadores, em discussão com o prefeito Wilson Alvarenga, tentavam transferir a sede da Câmara Municipal (que funcionava no antigo prédio da Prefeitura) para o Edifício Reis Cabral, no Baú. “O povo de Carneirinhos sempre foi bairrista e não iria aceitar de forma alguma a transferência. Foi quando então estiveram reunidos com os vereadores o Padre Henriques, Padre João, Sr. Astolfo Linhares e outros. No entanto, a edilidade foi taxada de incompetente e analfabeta, quando o presidente da Casa Legislativa, Sr. Sebastião Gomes (irmão do Padre João), tomou a palavra e usou a seguinte frase: – ‘a causa da audácia dos incapazes é a covardia dos capazes’. Todos ficaram perplexos, saindo um a um. No entanto, a sede do Poder Legislativo permaneceu no mesmo lugar.

Chegada do Progresso

  Uma das pessoas que conseguiu trazer benefícios para Carneirinhos, acreditando no seu progresso, foi o saudoso Totó Loureiro. Sua liderança era respeitada, apesar de nunca ter sido político. Mas ele contava com sua influência, e foi através de suas ações que Carneirinhos começaria a ganhar cara nova. O asfalto chegou entre 1964/65 na principal via de acesso do bairro. Junto ao “Bar do Bio” foram sendo instalados outros estabelecimentos comerciais, como o prédio do “Zé Machadinho” (o 1º prédio de Carneirinhos). Havia dois matadouros e um campo de futebol atrás do Cinema, na Rua Brasília. Um dos principais times da região era o Papini, formado por funcionários da Cerâmica do Sr. Antônio Papini. E também já havia a Livraria Kennedy.

Na foto abaixo a Farmácia Central, que foi o 1º prédio construído em Carneirinhos

  Antônio Gonçalves lembra da administração de Wilson Alvarenga, o prefeito que tornou-se, talvez, um dos mais populares entre os administradores da cidade, pelo seu grande carisma. “O Wilson ficou apenas sete meses no poder, já que licenciou-se do cargo para sair candidato a deputado estadual, sendo eleito. Assumiu o cargo seu vice, Josué Henrique Dias.

  Em 1966 houve novas eleições municipais e Antônio Gonçalves foi derrotado por Germin Loureiro, “Bio”, que teve forte apoio do seu irmão, Totó Loureiro. Naquele pleito, conta Sr. Antônio, o candidato a vereador mais votado foi João Amaro Gomes, com mais de 600 votos. Saíram candidatos a prefeito, além dos dois, José Quaresma Sobrinho, Ambrósio Costa e Alberto Lima. Ali, lembra “Pirraça”, teve início a briga de foice entre o MDB e a Arena, os únicos partidos que existiam na época.

Bar e Restaurante “Alvorada”

  Não podíamos falar de Carneirinhos sem falar do Bar e Restaurante “Alvorada”, nos tempos que tinha como proprietário o comerciante Geraldo “Catira”, e depois a sociedade com seu irmão Teotônio Cota. Ali eram tomadas decisões importantes, e até recebeu o apelido de “Ponto da Fofoca”. Pelo estabelecimento passaram Genival Tourinho, Jorge Ferraz, Carlos Cotta, Tancredo Neves e muitos outros políticos, que se tornaram famosos. Foi também no Alvorada, lembra Antônio Gonçalves, que o MDB foi criado, em 1965, “após uma briga acirrada entre a turma de Zeca Loureiro e do Virgílio Salomão. É que o Zeca não aceitava, de forma alguma, a entrada do Virgílio no partido. E faziam parte da Comissão Provisória eu, José Mendes e o próprio Zeca Loureiro. A coisa ficou tão feia que acabou com briga entre o Genival Tourinho e Germin Loureiro, numa Carpintaria da Prefeitura, que funcionava onde está hoje a Boate “Taberna 33”.

  Mas o Bar e Restaurante “Alvorada” foi antes uma Escola de Supletivo de 2º Grau, cujos alunos, entre outros, foram o Roninho Starling, Onofre Francisco e o próprio ex-prefeito Antônio Gonçalves. “As aulas iam de 5 às 7 horas da manhã, e era “Catira” quem administrava tudo”, disse saudosista “Pirraça”.

  Pois é, mas o velho Carneirinhos enfrentou várias mudanças, que só mesmo um livro para contá-las, ao pé da letra. Lojas comerciais foram se abrindo ao longo das avenidas, muitas procedentes da saudosa Praça do Mercado, como as Casas Maluf, Casa Jaime e outras. Ganhou também a sua segundo avenida, a Wilson Alvarenga, desafogando o trânsito na Getúlio Vargas, inaugurada em 7 de setembro de 1972, durante o governo do Sr. Antônio Gonçalves, sumindo de cena o feio Canal de Carneirinhos.

  No entanto, o Bairro Carneirinhos  (tanto que cresceu teve de ser dividido em sub-bairros), tem histórias e personagens que muito fizeram pelo seu desenvolvimento, entre eles José Bicalho, Totó Loureiro, Wilson Alvarenga, João Batista de Oliveira, e de tantos outros homens. Sonhado Carneirinhos, cujos nome veio inspirado em roupas feitas de sacos de aniagem. Carneirinhos de João Monlevade , que por sua vez era de Rio Piracicaba!

O ex-prefeito, saudoso Antônio Gonçalves, popular “Pirraça”, falou sobre o antigo e o novo Bairro Carneirinhos, e sobre suas histórias

*De julho a dezembro de 1989, tive o prazer de produzir uma série de reportagens no extinto “Jornal de Monlevade”, periódico este fundado pelo amigo e jornalista Elmo José Lima – hoje residente em Belo Horizonte -, com algumas personalidades de nossa cidade, bairros e fatos curiosos sobre a história de João Monlevade, que estarei publicando em nosso Site.

Obs: O artigo está transcrito na íntegra, conforme publicado na edição de nº 293 do “Jornal de Monlevade”, de setembro/1989.

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Um pensamento em “Carneirinhos: Das Fazendas de ontem ao progresso de hoje! – Marcelo Melo (I Parte)”

  • Muito boa esta reportagem! E isto mesmo! O alvorada foi o ponto quente e polêmico no bairro! Se aquelas paredes falassem!😂 Foram várias brigas e desentendimentos políticos, que aconteceram nos fundos! Fatos que até hoje são mistérios, pra outros contarem!
    Mais acima, quase no final teve o outro ponto polêmico, que foi o famoso Bar Antônio Cobra, homem considerado bravo e perigoso na época! Outras estórias pra serem exploradas e contadas! O carneirinhos têm espaços pra expandir muito mais por anos a vir, ao contrário do que ocorreu com o início da cidade!

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