Um dos primeiros a receber o relógio de Velha-Guarda foi o operário Joaquim Paulo Roberto, que aparece na foto acima
Louis Jacques Ensch, o grande pioneiro da moderna siderurgia do Brasil, país que ele tanto amou com a sua intensidade afetiva e que tanto engrandeceu com seu trabalho hercúleo de verdadeiro líder.
Nascido em Luxemburgo em 1895, chegou ao Brasil em 1927, chegando em Sabará no dia 10 de novembro. De então até o seu falecimento, ocorrido a 9 de setembro de 1953, sua vida foi a história das lutas e das vitórias de um invencível capitão de indústria. Seu exemplo permanece vivo mostrando para as gerações atuais quem não há obstáculos intransponíveis na batalha permanente pelo progresso industrial do país.
Foi também ele, Louis Ensch, o idealizador e fundador do Clube da Velha-Guarda, dos veteranos da Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira, criado em 1949.
O Início de tudo
Com a presença de autoridades, diretores e empregados da Belgo-Mineira, acompanhados dos familiares, realizava-se todos os anos, no dia 25 de junho – data de nascimento do engenheiro Louis Ensch -, a tradicional festa da Velha-Guarda, que reunia os funcionários que completavam de 20 e 25 anos de serviços prestados na Usina, sempre acompanhando um clima de harmonia entre diretores e operários. As brilhantes comemorações sempre se iniciavam com missa festiva na Matriz São José Operário. Após a celebração, visita ao cemitério em homenagem póstuma aos velhos companheiros e uma tocante cerimônia com a visita ao túmulo do Dr. Louis Ensch. Em seguida o público lotava as dependências do Cine Monlevade e a festa era emocionante.
“Símbolo da Dignidade de Vossas Vidas” (Albert Scharlé)
A festa – para recepcionar os seus novos membros – excedia à toda expectativa. Um dos momentos mais brilhantes da vida da coletividade da Belgo-Mineira. O tradicional relógio de ouro, gravado com dedicatória, que era entregue ao trabalhador e consequentemente passava a integrar o Clube da Velha-Guarda. Era o reconhecimento da empresa àqueles que completavam mais de 20 anos de serviços na Usina e que se misturava com a história da própria Companhia. Além do relógio de ouro, cada um recebia ainda uma apólice remida de seguro de vida no valor de CR$ 50 mil, que assinalava a sua entrada na gloriosa falange dos veteranos da empresa, e um belo distintivo que era usado na lapela, o qual sustentavam com muito orgulho.
O diretor que sucedeu Dr. Louis Ensch, Dr. Albert Scharlé, também teve grande importância criação do grande marco que foi o Ptrêmio da Velha Guarda
O Pioneiro do relógio da “Velha Guarda”
Um dos primeiros a receber o relógio de Velha-Guarda foi o operário Joaquim Paulo Roberto. Sua vida profissional foi toda ela passada na Belgo-Mineira, onde ingressou em 28 de julho de 1928, na Unidade de Sabará. Como na siderúrgica como aprendiz de dobrador. Foi transferido para a Usina de Monlevade em final de 1939. Trabalhador exemplar, chegou à função de contra-mestre no ano de 1947. Joaquim Roberto era chamado de “herói” pelos amigos e colegas de serviço, que brincavam sempre com ele. Afinal, diziam eles, mesmo nos tempos “bicudos” o homem e sua esposa tiveram nada menos do que 22 filhos e 15 estão vivos, sendo apenas dois adultos e os demais menores de idade. E ele criou todos os filhos graças ao suor de seu trabalho. Na época, quando recebeu o relógio Velha-Guarda, sua filha mais velha, Nilza Roberto, trabalhava no Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos e o rapaz, Nelson Roberto, era soldado da Aeronáutica.
Joaquim Roberto formava com sua esposa, Dona Jesuína de Souza Roberto, um par simpático e alegre. Dava gosto de vê-los dançando como dois jovens nas festas realizadas em Monlevade. Além de um baile animado, gostava de uma pescaria e de futebol. O casal residia à Rua Tieté, 736, com os filhos, onde ainda hoje reside sua bela família, alegre e festiva. Dona Jesuína era um exemplo típico de mãe mineira, nas suas qualidades de trabalhadora, digna e de uma bondade e dedicação com os filhos. Ela e o esposo criaram todos os filhos nos princípios morais do cristianismo. No ano de 1960, ela foi escolhida como a “Mãe Monlevadense”. Foi prestada a ela comovente homenagem no Grêmio Esportivo Monlevadense. Eis os 15 filhos, por ordem de chegada: Nilza, Nelson, Neuza, Nívea, Neide, Nadir, Nirlene, Nirley, Nilberto, Nedino, Nedina, Nivaldo, Nicolau, Noel e Nagmar.
Muito educado, alegre e com grande espírito de amizade e solidariedade, sempre foi um homem dinâmico, e tinha amor pelo trabalho, além de rigor e exatidão no cumprimento do dever através de sua eficiência. Joaquim Paulo Roberto foi considerado um dos símbolos do trabalhador da Belgo-Mineira. Dizia ele que, dentro da Velha-Guarda, todos se irmanam pelo espírito e pelo coração.
Os patriarcas Joaquim Roberto e dona Jesuína com os filhos, a maioria ainda crianças
Joaquim Roberto veio falecer no dia 12 de junho de 1968. Partia o pioneiro da Velha-Guarda. Aqui encaneceu no trabalho e criou a sua família. Aqui, sobretudo, escreveu a sua história.
José Silva: Uma Vida dentro da Usina
Trancudo e bem humorado é o “abre-alas” dos homens da Velha-Guarda. Era o mais antigo dos empregados na ativa da Companhia. Toda a sua mocidade, passou o senhor José Silva passou junto das fábricas de aço, primeiro em Sabará e depois em João Monlevade. Tinha 17 anos quando ingressou na Companhia Mineira de Siderúrgica. Em 1922, já sob o comando da Belgo-Mineira, José Silva passou a exercer as funções de encarregado do serviço de máquinas da Central Elétrica, que servia à siderurgia. Em abril de 1937 foi recrutado para Monlevade. Jamais sofreu um acidente de trabalho.
Musicista apaixonado, seu passatempo predileto era a música sacra. Fundou então, em 1944, o Coral Pio X, um dos melhores de Minas Gerais. Sua filha e ele tocavam Harmônio e ensinavam a muitos jovens. Durante as missas, na Matriz São José Operário, a música tocada por ele emocionava e envolvia toda a linda Matriz.
Uma vez que lhe perguntaram sobre qual maior emoção sentida em Monlevade, respondeu que foi quando recebeu o relógio de ouro, símbolo da Velha-Guarda. E uma boa notícia? A inauguração do Ginásio de Monlevade. Respondeu ele: “sempre contamos com dificuldades para a educação de nossos filhos, que ia apenas até o curso primário.” Agora, com o Ginásio os monlevadenses vão satisfazer uma de suas maiores aspirações.
Casado com Dona Alexina, uma grande mulher, teve quatro filhas: Terezinha, Tecla, Rosa e Maria Leony. Ele faleceu no dia 16 de setembro de 1964. Partia o senhor José Silva, grande operário da Usina da Belgo-Mineira, grande músico e maestro. Partia o pioneiro da Velha-Guarda. A ele, a luz que não se apaga. Sua vida foi a história das lutas e das vitórias. Seu nome ficou como uma legenda de pioneirismo.
José Silva, um grande músico que viveu quase toda sua vida dentro da usina da Belgo-Mineira
“A Belgo-Mineira é obra de todos os seus colaboradores” ( Félix Chomé)
Poderíamos dizer que aí está – na fisionomia e na vida de cada um – muito da história da Usina e da cidade que eles viram nascer, crescer com a contribuição do trabalho, do esforço, da competência e da dedicação de cada um deles: o Velha-Guarda, pioneiro da moderna siderurgia nacional e de um “Pedacinho do Céu”.
História que contém e guarda várias legendas significativas onde iriam integrar-se através do tempo, gerações numerosas da Velha-Guarda de Honra da Belgo-Mineira – ArcelorMittal.
Há vidas que são exemplos dignificantes marcadas de respeito, admiração e glória. Terão cometido erros, pois só não erram os que nada fazem. Mas certamente se distinguiram por muitos acertos.
*Frases Históricas de operários que integraram a Velha-Guarda:
“Ainda bato recorde nesses meninos que estão por aí”.
(Joaquim Roberto)
“Velha-Guarda, legião de honra da Belgo-Mineira”. (Joseph Hein)
“O operário brasileiro é um dos melhores que conheço”.
(Jean Pierre Fohrmann)
“A Velha-Guarda significa o espírito de equipe que assegura o progresso da empresa”. (José Silva)
“A Velha-Guarda ainda está bem jovem”.(Antônio Madeira)
“Eu vi nascer esta Usina”. (Agenor Rodrigues Alves)
*Pesquisa e Texto: Coramar Alves (Professora aposentada e Colaboradora do jornal “Morro do Geo”
Matéria publicada na edição de nº 128 no Jornal “Morro do Geo”, de dezembro/2008.