Na foto acima, os irmãos Günter e Margit, durante a mocidade no tempo que residiam em João Monlevade
O Velho Continente sempre teve afinidade com as terras de João Monlevade, quando aqui ainda se denominava Córrego de São Miguel e depois se transformou em Rio Piracicaba. Desde os tempos das Forjas Catalã, iniciadas pelo pioneiro engenheiro francês Jean Félix Dissandes de Monlevade, passando pelo luxemburguês Gaston Barbanson até chegar ao homem que acreditou na potência local e aqui instalou a Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira, Dr. Louís Jacques Ensch, também vindo de Luxemburgo. Desde então, a partir da década de 1930, começaram a desembarcar nessas terras trabalhadores vindos da Europa, não apenas para ocupar cargos de chefia, mas também para o trabalho braçal. E outros, temendo o desfecho da 2ª Guerra Mundial, principalmente alemães e poloneses, resolveram embarcar no primeiro navio e deixar o Velho Continente para aportar em terras brasileiras.
Entre eles chegaram em João Monlevade os irmãos Günter Wittig e Margit Wittig, vindos da Alemanha com os pais, que deixaram aquele país em razão da 2ª Guerra Mundial. Vieram em busca de uma nova vida e trabalho, e por aqui ficaram alguns anos. Günter trabalhou na Usina da Belgo-Mineira como carpinteiro, tendo aprendido o ofício com o Sr. Joaquim Custódio, a quem sempre chamou de “Mestre” e lhe é grato eternamente. A sua irmã, Marghit Gunter, trabalhou no Lactário. Até os dias de hoje eles mantém laços de amizade com a família de Seu Joaquim, falecido recentemente. Eles retornaram à Alemanha na década de 1960 e lá constituíram suas famílias.
Diante da afinidade dos irmãos com a família de Seu Joaquim Araújo, mesmo após décadas já residindo no país de origem, resolvemos também manter contato com eles, através de uma das filhas de Seu Joaquim, Fátima, esposa do amigo José Roberto. Por algumas vezes, trocamos e-mails, quando ambos relataram histórias vividas em João Monlevade. Em 2011, após lançamento do site do “Morro do Geo”, Seu Günter nos mandou o seguinte e-mail:
Nome: * Günter Wittig E-mail: gunter.brasilien@t-online.de Mensagem: “Olá senhor Marcelo Melo. Meus parabéns para o novo “Morro do Geo”. Muito obrigado para me mando a senha para abrir o journal no compute. Funtione agora. Um forte abraço”.
Neto do Mestre visita os irmãos na Alemanha
Residentes na cidade de Magdeburg, Alemanha, Günter e sua irmã Margit, junto aos familiares, receberam a visita de um dos netos do saudoso Sr. Joaquim Araújo, o biólogo André Araújo da Paz, filho mais novo de José Roberto e Fátima, que esteve na Europa a trabalho no início deste ano. E não poderia de forma alguma deixar de visitar e conhecer pessoalmente o velho amigo de seu avô, e aprendiz de seu Mestre em Carpintaria.
Abaixo, um flagrante da visita de André Araújo da Paz, neto do saudoso Sr. Joaquim Araújo, com os irmãos Günter e Margit, em Magdeburg, na Alemanha
Foram horas de conversa e muitas histórias contadas e recordações divididas, como da casa onde moraram na Rua dos Contratados, e que ele deu detalhes de como era. Toda a conversa foi gravada em um Pen-Drive, quando Seu Günter – que fala um português meio arrastado, porém mais claro que da sua irmã Margit – era o principal interlocutor. E eu tive acesso ao diálogo, muito interessante por sinal, quando ele relata sobre os serviços de carpintaria dos quais participou dentro da Usina da Belgo-Mineira, como da construção das casas da Vila Tanque e o método utilizado para fortalecimento das madeiras. Falou também da construção do Hospital Margarida, da qual fez parte e lembrava com orgulho desta grandiosa obra, inaugurada em 1953, sempre citando o mestre que tanto o ajudou durante o período que ficou na Usina e em Monlevade.
Mas nem só de trabalho eles viviam, e uma das ótimas lembranças contadas pelos irmãos durante a conversa, foi sobre os carnavais que passaram no salão do Ideal Clube. Segundo relataram, era muito bom, quando chegaram a tirar versos da música, “Cachaça”, cantando saudosos e felizes: “Pode me faltar tudo na vida, arroz, feijon e pão. Pode me faltar manteiga, tudo isto não faz falta não. Pode até me faltar amor, isto até acho graça. São não quero que me falta o danada da cachaça”…, em português bem arrastado (rs). Após Günter e Margit terem cantado a famosa música carnavalesca (e bem afinados, por sinal), André abriu um sorriso, como se demonstrasse naquele momento sua felicidade em estar ali, aflorando a sua sensibilidade.
Também durante a prosa, o “Morro do Geo” foi citado pelo Seu Günter, hoje com seus 84 anos de idade, quatro anos mais velho que Margit. Disse de quando a irmã e ele se correspondiam com o nosso jornal, e da felicidade que sempre foi resgatar a história, vendo as fotografias antigas da velha Monlevade. “Chegamos a receber alguns exemplares aqui na Alemanha, e foi muito bom. E queremos ter novamente, já que sabemos que o Morro do Geo voltou”, disse ele.
Nesta foto, em uma Estação de Trem da cidade, onde aparecem André, Margit, Günter e sua filha
Dessa forma, Seu Günter e Dona Margit, a partir desta edição, se Deus quiser, estaremos encaminhando para vocês os exemplares de nosso jornal, através dos Correios. Fica aqui o nosso compromisso e esta mágica história aos nossos leitores, comprovando os laços de amizade entre o Velho Continente e nossa João Monlevade. Mesmo que a saída tenha sido provocada por uma guerra, mas aportaram no lugar certo e são gratos pela oportunidade que aqui tiveram, e aqui encontraram a paz!
*Matéria publicada na edição de nº 177 do jornal “Morro do Geo”, de maio/2019.