Na foto acima, Padre João Batista
Em 1958, a Comissão Pró-Emancipação de João Monlevade, dando os primeiros passos no sentido de sua constituição efetiva e com pauta de trabalho definida, recebeu uma estrela de primeira grandeza, que certamente iluminou a caminhada de seus combativos membros, pontuando de esperança seu futuro promissor.
Tratava-se do Padre João Batista Gomes Neto, recém-nomeado Vigário Cooperador do Cônego Higino, para cuidar dos interesses da Capela de Carneirinhos, transferido de São José do Goiabal, onde atuara com eficiência na emancipação daquele município. Colaborando com a Comissão em Carneirinhos, ele se responsabilizaria pela redação das correspondências, relatórios e atas das reuniões, devido a sua capacidade intelectual. Esse foi, entretanto, apenas um aspecto de sua atuação em nossa cidade, causa que assumiu por estar plenamente sintonizado com as necessidades de seu rebanho. Na verdade, viera para Carneirinhos com o objetivo principal de preparar a instalação da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, que se concretizaria em 25 de dezembro de 1959, com território desmembrado da Paróquia de São José Operário.
Filho de Ilídio Baptista Gomes e de Maria Jovelina de Jesus (Dona Jovem), João Batista Neto – esse onome de seu registro – nasceu em Lagoa Dourada em 24 de Junho de 1917. Sendo um dos filhos mais velhos de uma família pobre, constituída de doze irmãos, acabou, com a morte do pai, assumindo praticamente toda a família. Alguns de seus irmãos residem em João Monlevade como Sebastião Batista Gomes (“Sô Gomes”), ex-vereador e conhecido expoente do laicato católico de João Monlevade, e Maria Antonieta Gomes Ribeiro, ex-diretora da E. E. Pe. Drehmanns.
Ordenado sacerdote em 1944, foi pároco em Lafaiete (1945), Dionísio (1946-1951) e São José do Goiabal (1951-1958).
Em Goiabal, então distrito de São Domingos do Prata, com a devida licença do Arcebispo Dom Helvécio, candidatou-se e elegeu-se vereador, chegando a ocupar a Presidência do Legislativo Pratiano. Nessa condição, liderou grupo pró-emancipação de São José do Goiabal, que se tornou cidade em 1953. Exercendo cargo político paralelamente à missão sacerdotal – privilegiando o serviço em detrimento do poder – acabou despertando ciúmes, causa das perseguições políticas que sofreu.
Em João Monlevade (1958-1972), a par da atuação política, que nunca abandonou, foi principalmente o pastor, o sacerdote comprometido com as causas do povo de Deus: concluiu a construção da Igrej de Nossa Senhora da Conceição, cujas obras se arrastavam há anos; construiu a Casa Paroquial; reorganizou as associações religiosas; regularizou a documentação necessária para a instalação canônica da paróquia e tornou- se seu primeiro Pároco, em cerimônia de posse conduzida pelo Cônego Higino em 14 de fevereiro de 1960.
Em 1972, requereu da autoridade eclesiástica o retorno para a diocese de Mariana, onde foi pároco da Paróquia de Bom Jesus de Cana Verde, na cidade de Tabuleiro; posteriormente foi lotado em Conselheiro Lafaiete, onde atuou na preservação do patrimônio histórico, restauração do cemitério paroquial, fortalecimento da unidade do clero e crescimento espiritual dos paroquianos. Retornando a Monlevade em 1995, já na condição de aposentado, orientava em sua casa os fiéis que procuravam sua assistência espiritual.
Faleceu em 27 de março de 2008. Sua morte, ocorrida após uma profícua existência de 90 anos, foi bastante lamentada nas cidades a que serviu como pastor, principalmente em São José do Goiabal e João Monlevade, onde sua condução do projeto de salvação se traduziu muitas vezes na busca do bem comum e da felicidade do povo. Pelos méritos de sua existência, tem lugar de destaque em nossa história.
Na fotografia, o Padre João Batista fazendo a assinatura ao assumir a Paróquia de Carneirinhos, tendo ao lado o Cônego Higino de Freitas
Matéria publicada no jornal “Morro do Geo”.
*Pesquisa e texto: Geraldo Eustáquio Ferreira (Dadinho) – Professor, Historiador e Escritor!
