O grande repórter e comunicador Vicente de Paula (pai do colega Rony Alcântara), aqui durante uma entrevista com o saudoso deputado Jorge Ferraz, nos anos 1970, fez história na Rádio Cultura e na Tiradentes/Globo. Foi ele quem me colocou no ar para dar a “falsa” notícia da greve dos bancários (rs)
Seguia na mesma luta diária, correndo atrás dos “furos jornalísticos”, entre a Câmara, Prefeitura, Delegacia de Polícia, entidades de classe. E tudo na base do “a pé”. Ou então pela Transcomol (empresa de transporte coletivo da época). Carro era artigo de luxo. Celular, Internet, na década de 1980? Aquilo seria impossível até de imaginar. E, falando em tecnologia, o nosso melhor amigo na época era o telefone fixo. E por causa dele, quase fui demitido da rádio, tudo pela “descomunicação” (rs).
Pela primeira vez na história da cidade, um movimento trabalhista que não envolveria a classe metalúrgica. Os bancários ameaçavam deflagrar uma greve e aqui operavam as agências dos extintos Bemge e Credireal, o Bradesco, Caixa Federal e Real (hoje Santander). Uma assembleia ocorreria na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, à Rua Siderúrgica. Eu fazia a cobertura do encontro da categoria. Por volta das 22 horas, foi encerrada a sessão, e a categoria decidiu pela paralisação. Havia ficado acertado ainda que, na manhã seguinte, um piquete se formaria entre bancários em frente à agência do Bradesco, na Praça do Lindinho, com objetivo de impedir que colegas pudessem furar a greve. Decisão tomada, peguei minhas coisas e fui para casa. Todo suado e cansado, só um banho e uma cama para renovar as energias.
Acordo pela manhã e veio a preguiça. Resolvi ligar então para o estúdio da Tiradentes para dar um flasch no noticiário das 7 horas e assim poderia ir mais tarde para a emissora. Deitado em minha cama, entro no ar. No estúdio estava o colega Vicente de Paula. Entro no ar: – “Foi deflagrada na manhã de hoje greve dos bancários, em João Monlevade. Os grevistas encontram-se em frente à agência do Bradesco, onde promovem um piquete. Decisão se deu na noite de ontem, após assembleia da categoria e, segundo lideranças do movimento, a adesão é superior a setenta por cento. Mais informações no noticiário das 8. Marcelo Melo, para a Rádio Tiradentes/Globo”. Fechei a matéria e, após ouvir a vinheta, a certeza do dever cumprido, e sem ter de sair de casa. Mas, para meu desespero, não se passaram cinco minutos e Elmar Venícius, meu gerente, entra em contato telefônico comigo. Quando atendo, ouço uma voz ríspida, descontrolada, com fogo saindo pelas ventas: – “Marcelo, você está onde”? Vacilei. Perdi a fala. E ele continuava, quase aos berros, no telefone: – “Onde você está? Estou aqui em frente ao Bradesco e não tem greve alguma”. Não teve jeito. Com a maior cara de pau, fui logo dizendo: – “Elmar, estou em casa. Estava morto de cansaço e resolvi fazer a cobertura daqui mesmo. O que estou estranhando é que saí da assembleia de ontem à noite e a categoria já havia decidido pela greve. O que pode ter ocorrido”? Ele,freneticamente, afirmou que, logo após minha saída, chegou uma nova proposta salarial e a categoria decidiu aceitá-la. Minha cabeça só não rolou naquele dia porque tinha alguns créditos com a chefia… E sempre aprendendo com a profissão que o bom repórter tem de estar presente no momento certo. Não pode ficar aguardando a notícia em casa. Assim como o artista. “tem de ir aonde o povo está”!
“Morte no Apogeu”!
O ano de 1985 se encerraria com “A Morte no Apogeu”, uma obra literária escrita pelo jornalista e diretor da Revista “Mostrar”, Otávio Viggiano Filho, o Tavinho. Um romance que tratava de um paralelo entre a vida dos menores abandonados e marginalizados pela sociedade, e a ganância e o desejo desordenado do poder. Tavinho ali retratava a dura realidade brasileira, nua e crua, como descreveu na época uma crítica publicada na mídia local. O lançamento do livro se deu no Social Clube, em grande noite, quando também foi empossada a nova diretoria da Casa de Cultura, presidida por Francisco Ribas, tendo como vice-presidente, Dirceu Roberto da Silva. O saudoso Guido Valamiel foi empossado como diretor-executivo da Fundação.
*Do Livro A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte VIII
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!