A cidade perde seu maior historiador e cronista no apagar de 1992!

Final  de  ano,  festas,  confraternização,  tudo  como  manda  o nosso  calendário.  Eu  e  a  família  nos  mudávamos  para  a  casa nova,  à  Rua  Itabira,  Bairro  Lucília,  que  havíamos  construído. Era  um  5  de  dezembro  de 1992, quando  acabávamos  de  realizar  um grande  sonho.

Politicamente,  o  país  respirava  um  ar  cinzento  e  o  clima  era muito  tenso  em  razão  das  denúncias  vindas  da  Casa  da  Dinda. Após  tantos anos  sem  eleições  para  escolher  o  presidente,  eis que  o  alagoano  que  chegou  com  a  fama  de  “caçador  de marajás”  estava  prestes  a  ser cassado,  após  as  denúncias  de  seu envolvimento  com  PC  Farias  e  sua quadrilha.  O  Distrito  Federal  e todo  o  país  se  uniram  em  torno  dos “caras-pintadas”  no movimento  que  culminou  com  o  impeachment  do  presidente Fernando  Collor  de  Mello,  no  dia  29  de  dezembro  daquele  ano. Assumiu  o  poder  o  vice-presidente,  o  mineiro  Itamar  Franco.  O Brasil  mudava  novamente  a  sua  trajetória  política.

No entanto,  a  queda  de  Collor  não  seria  a  derradeira  notícia  de final  de  ano,  pelo  menos  em  nível  regional.  Pois  ainda  viria  uma triste página para fechar 1992. É que acabaria a história de um grande monlevadense,  apaixonado  pela  sua  causa.  Era  31  de dezembro,  uma  sexta-feira,  dia  de  circulação  do  “A Notícia”. Fui  à  redação,  ali  na  Rua  Brasília,  104,  para  apanhar  uns exemplares  e  desejar  aos  colegas um  bom  início  de ano novo.  Eis  que encontro casualmente,  usando  sua  tradicional  bermuda  jeans,  curta,  ao  seu estilo,  camisa  de  malha,  o  professor  Nilton  de  Souza,  popular “Tim”,  o “Tim Mirin”, que  na  época  era  um  dos  colaboradores  do  jornal,  com suas  maravilhosas  e bem escritas  crônicas.  Inimigo  número 1  o PT, era  um  dos muitos que  comemoram  a  vitória  de  Bio  nas urnas.  Falamos  um  pouco  sobre  o resultado das eleições municipais,  abraçamo-nos  desejando um  feliz  ano  novo.  No  entanto,  jamais  poderia  imaginar  que aquele  seria  meu  derradeiro  encontro  com  o  amigo,  uma despedida ao grande historiador de João Monlevade, poeta, artista plástico, professor;  um  Mestre na linguagem da palavra!

Noite  de  Reveillon  no  Social  Clube,  como  já  era  costume,  antes de  ter fim os grandes  bailes nos clubes da cidade.  Chegando  ao  bar, encontro-me  com  Aroldo  Ávila  (ex-chefe  do  DRI  da  Usina  da Belgo-Mineira),  que  me  dá  a  triste  noticia.  Acabava  de  falecer  o Nilton de Souza, o grande  “Tim  Mirim”;  infarto  fulminante.  Uma  lacuna  se abriria na  história  de  João  Monlevade.  A cidade  perdia  um  de  seus grandes  amantes,  um  apaixonado  pela  terra  de  Jean  Monlé. Crítico,  idealizador  do  Grêmio  de  Estudos  Literários,  o  GEL. Uma  das  grandes  cabeças  pensantes de  nossa  cidade.  No  último  dia daquele  ano  de  1992.  Claro  que  continuamos  no  baile,  pois  era parte  da  vida  e  ele  gostava  de  festa.  Chegamos  em  casa  de madrugada  e,  bem  cedo,  acordei  para  cobrir  a  posse  em  cidades da  região.  Só  que  antes  de  seguir  para  Rio  Piracicaba,  meu primeiro  destino,  parei  na  casa  do  Tim,  ali  na  Avenida  Cândido Dias,  Bairro  Loanda,  para  me  despedir  do  amigo.  Ali  terminaria uma  grande  história  de  vida!

No entanto como diz o ditado a vida tem de continuar. Ficam-nos as boas lembranças e os momentos da boa amizade. A vida é a certeza de que vale a pena fazer dela o melhor possível e deixar a nossa marca. Afinal, aquele que não deixa nenhuma obra quando partir, o que ficará na memória dos que com ele conviveram? É  preciso  deixar  as obras  para  que  os  homens,  mesmo  mortais,  se  imortalizem, como  foi  com  o  professor  Nilton  de  Souza,  entre  suas  telas,  suas crônicas,  poesias  e  o  trabalho  que  deixou,  para  as  futuras gerações,  sobre  a  história  de  nossa  terra. A vida dava sequência porque tínhamos de continuar percorrendo  a  estrada,  entre  lutas  e  decepções.  Mas  também  de forma que a felicidade pudesse nos brindar de vez em quando.  Novos  planos  de  um  novo  ano  poderiam  ser  ou  não  colocados em  prática.  O  importante  era  dar  continuidade  ao  trabalho,  aos sonhos  e  às  perspectivas  que  poderiam  surgir.

*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XXXVIII

Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!

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