Acima o grande amigo, saudoso “Luís do Cavaco”, sempre sorrindo e fazendo sorrir também seu cavaquinho
Um dia para esquecer. Para retirar da história! E lembrar que duas semanas atrás eu lhe havia dado carona, ali na Vila Tanque, e fomos até o Bairro Santa Bárbara, onde bebemos umas cervejas na casa de um amigo e colocamos a conversa em dia. Afinal, fazia algum tempo que não nos encontrávamos. Jamais poderia imaginar que seria a nossa despedida.
Foi no dia 1º de agosto de 1993 que o meu amigo, irmão de fé, camarada, Louis Bonifácio de Oliveira, o popular “Luis do Cavaco”, colega da Escola Polivalente, dos saudosos tempos de República na Gameleira e Nova Suíça, do “pão moiado” de Seu Bizuva” ali na Rua Camélias, das noites de boemia, de samba e das boas resenhas, nos deixou. Saía de uma festa no sítio da família da namorada, em Garanjanga, município de Alvinópolis, onde havia passado o final de semana, e pegou carona com um colega, que o levaria até o Posto 5 Estrelas, para pegar um ônibus para Belo horizonte. Ele estava trabalhando em Santa Luzia, mas sempre viajava na madrugada. Naquele domingo resolveu viajar mais cedo. Final de férias escolares, todos os ônibus lotados e ainda era permitido viajar em pé. Assim que chegou, conseguiu um lugar (em pé) num ônibus da Gontijo, linha Governador Valadares/Belo Horizonte. O relógio marcava 20;30 horas e menos de 20 minutos depois, o veículo em que viajava, conduzindo 52 passageiros, dirigido pelo motorista Anibal Quintino, entra com uma das rodas na canaleta e capota. No mesmo instante trafegava em sentido contrário um ônibus da Viação Pássaro Verde, transportando 32 passageiros, e o seu motorista não consegue evitar o acidente: a frente de seu veículo choca-se contra o teto do ônibus da Gontijo. Numa curva quase em frente ao “Cascata Lanches”, no Km 213 da BR-262. Saldo de 21 pessoas mortas e 54 feridas. Ainda não havia mudado o nome deste trecho da rodovia, hoje conhecida como a 381. Mas já era famosa pela sua carnificina, muito antes! Tanto que, na década de 1970, em arte publicada no extinto jornal “Atualidades”, o chargista Marcelo Rodrigues, “Nem”, através de uma charge, caricaturava um grande número de cruzes ao longo do trecho da então BR-262, que depois se transformou na BR-381. E quase nada mudou, décadas depois!
Pois é, mas havia dormido aquele domingo para segunda-feira sem sequer imaginar qualquer tragédia. Na manhã de segunda-feira, ao sair à rua, tomo conhecimento do acidente conversando com alguns colegas próximo à banca de revistas da Praça Sete. E também a informação de que, entre as vítimas fatais, havia uma pessoa de João Monlevade. Imediatamente fui até ao Quartel da PM buscar informações mais detalhadas para a edição da sexta-feira e para o noticiário da Rádio. Não me esqueço do momento em que me foi dada a notícia. Fui atendido pelo sargento Benígno . Perguntei primeiro se realmente havia ummonlevadense entre os mortos. E o policial fez sinal afirmativo, e deu seu nome: Louis Bonifácio… Mandei parar. Perguntei se era Luis ou Louis. E ele ratificou: Louis. Não conhecia outro Louis, que era o nome de batismo, escrito daquela forma, do amigo “Luiz do Cavaco”. Fiquei perplexo e sem ação por alguns minutos, e só depois me recuperei do susto e desabafei com o sargento Benígno. Perdia ali um grande amigo. Toda a turma do Polivalente, dos tempos de República, do samba, lamentavam e choravam. E a despedida foi com muita música, naquela manhã de terça-feira, dia 3 de agosto de 1993.
*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XLI
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!