O caso do “fio de bigode”!

No  geral,  o  ano  começaria  um  tanto  morno,  mas  somente  até maio,  quando  os  metalúrgicos  da  Divisão  de  Siderurgia  da Belgo-Mineira  decidiram  entrar  em  estado  de  greve,  durante  a data-base  da  categoria,  que  havia  mudado  de  outubro  para  maio. Cerca  de  700  operários,  em  assembleia  realizada  no  Anfiteatro do  Centro  Educacional,  optaram  pela  paralisação,  ao  rejeitar  a proposta  patronal.  No  entanto,  antes  mesmo  da  paralização, ocorreu um fato inédito.  A  greve nem chegou a ser deflagrada. Em  assembleia  realizada  na  noite  de  uma  sexta-feira,  no Anfiteatro,  cerca  de  mil  operários  se  faziam  presentes.  A  Belgo-Mineira  havia  feito  uma  contra  proposta  e  houve  alguns avanços,  o  que  acabou  dividindo  a  categoria.  Havia  muitas discussões  e  a  palavra  franca  era  o  prenúncio  de  que  o  desfecho não  seria  o  desejado  pela  diretoria  da  entidade  sindical.  Mesmo porque  até  entre  seus  diretores  não  havia  unanimidade.  E  não seria  a  primeira  vez,  porque  também  na  época  em  que  Antônio Ramos, quando comandava o Sindicato, durante um acordo salarial os dirigentes  quase  saíram  no  tapa, exatamente  pelas  opiniões desencontradas.  O  cerco  estava  formado  e,  durante  a  votação – feita  por  aclamação -,  os  números  contabilizados  entre  os metalúrgicos  que  levantaram  as  mãos  em  favor  da  greve  e  os  que eram  contrários  à  paralisação  deixaram  dúvidas.  Assim,  após acirrada  discussão,  ficou  decidido  que  uma  nova  assembleia ocorreria  na  manhã  seguinte,  um  sábado,  e  o  voto  seria  através do  escrutínio  secreto.

Aí  a  alta  cúpula  da  Belgo-Mineira  entrou  em  ação  e  exigiu  que todo  o  seu  pessoal  de  supervisão  para  cima,  incluindo engenheiros  e  chefes  de  setores  –  mesmo  não  filiados  ao Sindicato  –  marcassem  presença  no  encontro  de  sábado,  no mesmo  local.  E  assim  chegaram  todos  eles,  por  volta  de  9  horas, identificados  pela  cor  de  seus  uniformes,  que  era  um  tom  de  azul mais  claro,  enquanto  a  turma  da  produção  utilizava  um uniforme  em  tom  cinza.  Surpresa  para  alguns  diretores, misturado  à  revolta.  Afinal,  apesar  de  legal,  era  um  jogo considerado  sujo  pela  entidade  sindical.  Uma  assembleia  com público  recorde  que  não  se  via  desde  os  anos  1970  e  80.  E,  antes de  se  iniciar  a  votação,  discursos  inflamados,  principalmente  do  então  secretário  geral  do  Sindicato,  Carlos  Magno, que provocou muita polêmica. Em tom agressivo, “Carlinhos”  chegou  a  dizer  a  todo  o  pessoal  da  supervisão  que,  se  estivesse no  lugar  deles,  enfiaria  suas  cabeças  no  vaso  e  daria  descarga. Foi  ríspido,  usando  palavras  que  causaram o maior mal estar  no  Anfiteatro do Centro Educacional.  Com  toda  certeza,  a  vontade  daqueles  que sentiram-se ofendidos  era  agredir  o  diretor. Mas silenciaram-se!

A votação  foi  iniciada  e,  em  seguida ,  os  mesários  fizeram  a apuração  dos  votos.  Como  já  era  esperado,  a  presença  dos supervisores  e  engenheiros  fez  a  diferença  e  o  resultado  final  foi pela  aprovação  da  proposta  patronal,  encerrando-se  assim  mais uma novela em torno da data-base. O efeito 1 986 não seria repetido. Meses depois, após realização de novas eleições sindicais, quando foi eleito Luiz Cláudio do Patrocínio para assumir a presidência, tendo Carlos Magno como seu secretário geral, Wilson Bastieri deixava o cargo muito criticado pelos próprios colegas de diretoria, entre eles o novo presidente, Luiz Cláudio, e pelo ex-prefeito Leonardo Diniz que chegou a afirmar, na época, que “Wilson Bastieri realmente se  omitiu.  Respeito  o  companheiro  pelo  seu passado  de  luta,  mas,  como  presidente,  ele  deixou  a  desejar”. Nasceu aí o jargão do “acordo do fio de bigode”, que se referia ao bigode que fazia uma contextualização à marca de Wilson Bastieri. A nova  diretoria  assumiria  e,  àquela  altura  do  campeonato,  muita coisa  teria  de  ser  revista  na  política  sindical,  que  começava  a perder  sua  força  e  a  credibilidade junto  às  bases.

Partidariamente falando, a primeira crise chega à esfera da política municipal. Isso após acordo fechado com o governo do Estado, que culminaria com a adoção do Colégio Estadual pelomunicípio. A diretora do Departamento de Educação, Geralda Machado, com total apoio do prefeito Germin Loureiro, coordena o projeto e,da forma que era feito, contrariou o vice-prefeito, José Nelson Fagundes.  Como  a  diretora  tinha  carta branca,  mesmo enfrentando manifestações de grande parte dos profissionais da área da educação, o processo teve continuidade, e o vice-prefeito praticamente se afastou da administração.

*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XL

Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!

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