O escândalo envolvendo o Pastor Philemon e a despedida de um grande líder!

Com  dois  meses  em  circulação,  o  “Gazeta”  é  testemunha  ocular do fato. Uma bomba na esfera política, dessa feita envolvendo um  caso  passional,  se  transformou  na  principal  pauta  de  todos os órgãos  de  imprensa  da  cidade,  tendo  como  pivô  a  esposa  do vereador  José  Benísio  Werneck.  O  caso  sobre  uma  possível relação  extra-conjugal envolvendo  a  mulher  e  um  amigo  pessoal  do vereador, o  pastor  e  deputado  federal  Philemon  Rodrigues, vinha  sendo  comentado  apenas  nas  rodas,  esquinas  e  bares,  pela “rádio-peão”,  mas  ainda  surgia  como  fofoca.  Contudo,  a  onda crescia  e  dava  sinais  de  que  acabaria vazando,  quando  um próprio  colega  de  vereança,  Rivaldo  de  Brito,  usando  da Tribuna  da  Câmara,  resolveu  acender  o  pavio,  que  foi  o  estopim da  bomba.  Para  surpresa  de  todos,  durante uso da Tribuna, ele fez  um desabafo  do  tipo  “há  muitas  mulheres  por  aí  e  o  que  o  deputado Philemon  fez  com  o  amigo  Werneck  foi  um  absurdo”.  E terminou  com  o  antigo  jargão  de  que  “mulher  de  amigo  meu  para mim  é  homem”.  Pronto,  o  circo  estava  formado  e  a  própria  “vítima”  acabou  também  fazendo  uso  da  Tribuna  para  lavar roupa  suja  fora  de  casa.  Mesmo  eu,  atuando  como  assessor  de Imprensa  da  Câmara,  cumpri  meu  papel  como  editor  do “Gazeta”,  e  a  matéria  foi  destaque no jornal.  No  “A Notícia”,  no entanto, foi publicada  na página de capa, e com fotos  do  pastor  Philemon  Rodrigues  e  da esposa  do  vereador Werneck,  que  provocou  opiniões  diversas. O  caso  fez  com  que  o deputado  desaparecesse  da cidade,  de mala  e  cuia  nas  mãos.  Tanto que,  nas  eleições  de  2002, transferiu-se  de  domicílio  eleitoral,  quando  deixou  de  sair candidato  por  Minas  Gerais  e  se  reelegeu  deputado  federal  por sua  terra  natal,  o  estado  da  Paraíba.

Chegamos  ao  último  ano  do  século  XX,  o  de  2000.  E  até  os  mais céticos,  uma  vez  ou  outra,  tinham  em  mente  a  célebre  frase  de que  “há  mil  chegará,  mas  de  dois  mil  não  passará”.  Prenúncio  do final  do  mundo.  A teoria  de  Nostradamus  se  concretizaria?  Que nada,  apenas  uma  data  especial  para  festejar  a  entrada  de  um novo  século,  uma  nova  era.  Era  também  ano  de  eleições municipais  e  a  briga  começaria  bem  cedo.  Mas  o  que  mais  pesou naquele  primeiro  semestre  de  2000  foi  a  despedida  de  um grande  líder,  que  deixou  uma  grande  lacuna  na  vida  política  de João  Monlevade. A morte  inesperada  de  um  dos maiores  líderes  sindicais  e políticos  na  história  de  João  Monlevade  marcaria  aquela  manhã de  domingo.  Falecia  num  hospital,  em  Belo  Horizonte,  o  ex-presidente  do  Sindicato  dos  Metalúrgicos  e  ex-prefeito,  o vereador  Leonardo  Diniz  Dias,  naquele  28  de  maio  de 2000, com  apenas  53  anos  de  idade.  Ele  teria  muito  ainda  a contribuir para  sua já  vitoriosa  trajetória  política.  Leonardo  havia  passado por  uma  cirurgia  simples,  mas  sofreu  um  problema  pulmonar pós-operatório  em  consequência  dos  longos  anos  em  que  foi adepto do  tabagismo.  E,  por  ironia,  havia  parado  de  fumar meses  antes  de  sua  despedida.  Houve  comoção  geral  e  uma multidão  acompanhou  o  corteja,  que  subiu pela  Avenida  Getúlio  Vargas,  a  pé,  no  centro  da  cidade,  até  o sepultamento  no  cemitério  de  Carneirinhos.

Como  já  citei  anteriormente,  eu  e  Leonardo  tivemos  alguns confrontos  políticos,  mas  nunca  por  motivos  pessoais.  Ele  foi  o prefeito  que,  na  linguagem  coloquial,  o  chefe  do  Executivo  que mais  “apanhou”  da  imprensa,  mas  jamais  virou  as  costas  ou deixou  de  ser gentil.  Sempre brincalhão  e  de  bem  com  a vida.  Tivemos  um  ótimo  relacionamento  fora  dos  bastidores partidários  e  tomamos  e  brindamos  algumas cervejas juntos.

Um  fato  me  marcou  dias  antes  de  seu  falecimento.  Era  uma sexta-feira  à  tarde.  Estávamos  eu,  ele,  Filinha  e  Geraldo  Bicalho (Bêra),  no  Plenário  da  Câmara,  após  uma  reunião  informal de uma Comissão. Nesse  instante,  chegou  um  andarilho  na  Casa,  procurando  por Leonardo.  Certamente  para  pedir  alguma  coisa,  quando  o próprio,  ou  seja,  o  “Lelé”  (como  era  chamado  pelos  amigos), apontou  o  dedo  para  mim  e,  soltando  uma  gargalhada  bem peculiar,  disse  ao  rapaz:  –  “Leonardo  é  aquele  gordo  e  barbudo ali.  Pode  falar  com  ele”.  Não  teve  coisa  melhor  e  caímos  todos na  maior  gargalhada!  Depois,  sei  lá,  ele  deu  um  trocado  ao  andarilho. No  dia  seguinte  ele  iria  passar  pela  cirurgia  –  se  não  me  engano no  Felício  Rocho  –  e,  subindo  as escadas  para  o  andar  de  cima do  velho  prédio,  perguntou  se  eu  sabia  de  alguém  que  iria  para Belo  Horizonte.  Queria  uma  carona.  Eu  disse  que a vereadora  Helenita Lopes  iria no  carro  da  Câmara  a  uma  reunião  oficial  que  ocorreria  no sábado.  E  ele,  sempre  brincalhão,  disse sorrindo:  –  “Você  tá doido?  Com  Helenita,  de  jeito  nenhum!  Ela  é  oposição  e  pode acabar  me  matando!”  Gargalhadas  em  conjunto,  lhe  disse:  –  “Só mesmo  você,  Leonardo”.  Foi  nosso  último  encontro  em  vida. Nove  dias  depois,  a  sua  despedida.

*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte LIV

Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!

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