Na fotografia acima o Pastor Philemon Rodrigues, que foi eleito deputado federal em 1998, e perdeu sua liderança política em João Monlevade pelo caso extra-conjugal
Com dois meses em circulação, o “Gazeta” é testemunha ocular do fato. Uma bomba na esfera política, dessa feita envolvendo um caso passional, se transformou na principal pauta de todos os órgãos de imprensa da cidade, tendo como pivô a esposa do vereador José Benísio Werneck. O caso sobre uma possível relação extra-conjugal envolvendo a mulher e um amigo pessoal do vereador, o pastor e deputado federal Philemon Rodrigues, vinha sendo comentado apenas nas rodas, esquinas e bares, pela “rádio-peão”, mas ainda surgia como fofoca. Contudo, a onda crescia e dava sinais de que acabaria vazando, quando um próprio colega de vereança, Rivaldo de Brito, usando da Tribuna da Câmara, resolveu acender o pavio, que foi o estopim da bomba. Para surpresa de todos, durante uso da Tribuna, ele fez um desabafo do tipo “há muitas mulheres por aí e o que o deputado Philemon fez com o amigo Werneck foi um absurdo”. E terminou com o antigo jargão de que “mulher de amigo meu para mim é homem”. Pronto, o circo estava formado e a própria “vítima” acabou também fazendo uso da Tribuna para lavar roupa suja fora de casa. Mesmo eu, atuando como assessor de Imprensa da Câmara, cumpri meu papel como editor do “Gazeta”, e a matéria foi destaque no jornal. No “A Notícia”, no entanto, foi publicada na página de capa, e com fotos do pastor Philemon Rodrigues e da esposa do vereador Werneck, que provocou opiniões diversas. O caso fez com que o deputado desaparecesse da cidade, de mala e cuia nas mãos. Tanto que, nas eleições de 2002, transferiu-se de domicílio eleitoral, quando deixou de sair candidato por Minas Gerais e se reelegeu deputado federal por sua terra natal, o estado da Paraíba.
Chegamos ao último ano do século XX, o de 2000. E até os mais céticos, uma vez ou outra, tinham em mente a célebre frase de que “há mil chegará, mas de dois mil não passará”. Prenúncio do final do mundo. A teoria de Nostradamus se concretizaria? Que nada, apenas uma data especial para festejar a entrada de um novo século, uma nova era. Era também ano de eleições municipais e a briga começaria bem cedo. Mas o que mais pesou naquele primeiro semestre de 2000 foi a despedida de um grande líder, que deixou uma grande lacuna na vida política de João Monlevade. A morte inesperada de um dos maiores líderes sindicais e políticos na história de João Monlevade marcaria aquela manhã de domingo. Falecia num hospital, em Belo Horizonte, o ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e ex-prefeito, o vereador Leonardo Diniz Dias, naquele 28 de maio de 2000, com apenas 53 anos de idade. Ele teria muito ainda a contribuir para sua já vitoriosa trajetória política. Leonardo havia passado por uma cirurgia simples, mas sofreu um problema pulmonar pós-operatório em consequência dos longos anos em que foi adepto do tabagismo. E, por ironia, havia parado de fumar meses antes de sua despedida. Houve comoção geral e uma multidão acompanhou o corteja, que subiu pela Avenida Getúlio Vargas, a pé, no centro da cidade, até o sepultamento no cemitério de Carneirinhos.
Como já citei anteriormente, eu e Leonardo tivemos alguns confrontos políticos, mas nunca por motivos pessoais. Ele foi o prefeito que, na linguagem coloquial, o chefe do Executivo que mais “apanhou” da imprensa, mas jamais virou as costas ou deixou de ser gentil. Sempre brincalhão e de bem com a vida. Tivemos um ótimo relacionamento fora dos bastidores partidários e tomamos e brindamos algumas cervejas juntos.
Um fato me marcou dias antes de seu falecimento. Era uma sexta-feira à tarde. Estávamos eu, ele, Filinha e Geraldo Bicalho (Bêra), no Plenário da Câmara, após uma reunião informal de uma Comissão. Nesse instante, chegou um andarilho na Casa, procurando por Leonardo. Certamente para pedir alguma coisa, quando o próprio, ou seja, o “Lelé” (como era chamado pelos amigos), apontou o dedo para mim e, soltando uma gargalhada bem peculiar, disse ao rapaz: – “Leonardo é aquele gordo e barbudo ali. Pode falar com ele”. Não teve coisa melhor e caímos todos na maior gargalhada! Depois, sei lá, ele deu um trocado ao andarilho. No dia seguinte ele iria passar pela cirurgia – se não me engano no Felício Rocho – e, subindo as escadas para o andar de cima do velho prédio, perguntou se eu sabia de alguém que iria para Belo Horizonte. Queria uma carona. Eu disse que a vereadora Helenita Lopes iria no carro da Câmara a uma reunião oficial que ocorreria no sábado. E ele, sempre brincalhão, disse sorrindo: – “Você tá doido? Com Helenita, de jeito nenhum! Ela é oposição e pode acabar me matando!” Gargalhadas em conjunto, lhe disse: – “Só mesmo você, Leonardo”. Foi nosso último encontro em vida. Nove dias depois, a sua despedida.
*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte LIV
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!