O radialista Carlos Moreira é eleito prefeito em 2000, pelo PTB
Nada há nada que o tempo não cure, sobretudo politicamente falando. A morte do grande líder Leonardo Diniz dava vaga à candidatura do também dirigente sindical Luiz Cláudio do Patrocínio, já que os metalúrgicos não poderiam perder espaço no Legislativo. Definidas as chapas ao cargo proporcional, ou seja, para vereador, veio também a definição dos candidatos ao cargo majoritário. Para prefeito: Dr. Laércio e Carlos Moreira. Pela primeira vez na história política do município, apenas dois nomes disputariam a Prefeitura. Isso graças a um acordo fechado entre o grupo de Mauri Torres e o do ex-deputado Antônio Roberto, pelo PMDB, que deixaram as divergências de lado. Como nos termos daquela célebre frase de Magalhães Pinto, de que “a política é como a nuvem, uma hora está aqui e outra ali”, foi feita uma aliança que, semanas antes, era considerada impossível de se concretizar. Dessa forma, a esposa do médico e ex-prefeito de São Domingos do Prata, Conceição Winter de Carvalho, saía como vice na chapa encabeçada pelo radialista.
Tudo seguiria o seu curso se não fosse a decisão do presidente da Câmara, vereador Djalma Bastos, de apoiar a coligação liderada pelo Partido dos Trabalhadores. Eu já havia decidido apoiar, naquele ano, o meu colega de trabalho, Carlos Moreira. O ponto contraditório era que eu ocupava um cargo de confiança no Legislativo e minha continuidade ou não no posto dependeria da decisão de Djalma. Durante o primeiro encontro entre as lideranças petistas, o dirigente sindical Luiz Cláudio do Patrocínio chegou a pedir minha cabeça da Casa Legislativa. Djalma, prontamente, disse que não abriria mão de meu trabalho na Câmara. Na época ainda brincou, dizendo que não abriria mão de um “Pitbul”, referindo-se à minha forma de atuar como assessor. E aceitou com a maior naturalidade estarmos em lados opostos na corrida sucessória.
Chega julho e tem início a campanha eleitoral. O eleitor tinha as duas opções e foi uma guerra de nervos e de estratégias toda a campanha entre as partes. Pela primeira vez após a reforma política, um chefe do Executivo poderia tentar a reeleição, e o último ano do governo do petista Laércio Ribeiro havia evoluído, tendo tido boa aprovação popular, após pesquisa de opinião pública. Durante os três meses de campanha, foi como uma corrida de cavalo, disputada cabeça a cabeça.
Também pelo lado da imprensa, posso dizer que a disputa foi bem acirrada, já que os meios de comunicação tiveram uma preferência na disputa sucessória daquele ano. Onde comprovo minha tese de que não há imprensa imparcial. A Rádio Cultura, por exemplo, através dos programas produzidos por mim e pelo Márcio Passos, além dos comentários políticos feitos pelo Chico Franco – que era o responsável pelo setor de Jornalismo da emissora – bateu forte no PT e apoiou sistematicamente a candidatura de Moreira. E, mesmo contrariando-o algumas vezes, o Cacá Lima, proprietário do “Gazeta Regional”, também tivemos uma posição crítica em seu jornal, contra o governo do Dr. Laércio. Já o “Bom Dia” era todo “vermelho” faltando apenas uma estrela na testa de seus editores, tamanha a parcialidade na informação. Era um jogo entre as mídias, que fizeram suas campanhas bem direcionadas e parciais, sem qualquer constrangimento. O nosso grupo queria o PT fora do poder e o outro grupo apoiava a reeleição do prefeito Laércio Ribeiro. Tanto assim que, somente eu cheguei a receber mais de uma dezena de intimações judiciais em processos movidos pelo Diretório do PT contra meu programa na Cultura, e também pelas opiniões que emitia em minha Coluna no “Gazeta”. Chegou finalmente o “Dia D”, quando as forças seriam medidas nas urnas, na disputa entre o número 13 e o 14.
Domingo, 8 de outubro de 2000, último ano do século XX. Depois de votar pela manhã, passei todo o dia em casa, vivendo a angústia da espera do resultado. Sabia que, caso o PT saísse vitorioso nas urnas, melhor seria eu me mudar de minha cidade. Considerava isto uma questão de honra, visto ter colocado minha cara para bater, sem medo algum. E sabia que a minha luta não era por um ideal transformista nem porque acreditava em Carlos Moreira e seu grupo como exemplos de honestidade e governabilidade. Afinal, em três eleições (1990, 1994 e 1998), somente na segunda votei em Mauri Torres para deputado estadual. Meu desejo era quase pessoal, ou seja, ver o PT fora do governo a qualquer custo, por ser um partido que nasceu com um discurso a favor da moralidade na política e da justiça social, mas que, na prática, provou ser tão bandido quanto os demais. E que, em João Monlevade, era comandado por gente rancorosa e prepotente. A minha sede de vitória era tanta que cheguei a fazer uma promessa: desfilar pelas principais avenidas da cidade, numa manhã de sábado, em carro aberto, carregando uma bandeira do Cruzeiro. Como atleticano, seria um grande constrangimento, mas valeria a pena.
Termina a votação e tem início a apuração. Corri para a Rádio Cultura, no Bairro Satélite, onde acompanhei o resultado. Estávamos eu, Chico Franco e outros colegas de trabalho, ouvindo a transmissão que era feita pelo radialista Wesley de Paula, direto do Cartório Eleitoral. O resultado pela urna eletrônica era rápido, e Carlos Moreira, desde o início, mantinha uma pequena vantagem sobre Laércio Ribeiro, o que se confirmou com uma diferença em torno de 1.600 votos. Ficamos atordoados. Sentia-me vingado e soltei meu grito para fora do peito até cair sobre a grama que fica em frente ao prédio da emissora. Tremia, gritava mais e me contorcia, até ser atendido pela Dra. Janaína Maciel, filha de Mercezinha (do Buffet), ali mesmo no gramado. Tomei um remédio e fui me acalmando aos poucos. Era um momento muito especial, como se fosse o meu Glorioso Galo que tivesse se tornado o campeão do mundo. Algo inexplicável, mas, sinceramente, com um sabor de dever cumprido e orgulhoso. Para a Câmara Municipal, foram reeleitos Djalma Bastos, José Benísio Werneck, Dorinha Machado, Sinval Jacinto Dias e José Lascado. Estreando na Casa, saíram vitoriosos Railton Franklin, Rogério Bicalho, Cristiano Vasconcelos de Araújo, Luiz Cláudio do Patrocínio, Geraldo José Vieira (Cabo Vieira), e a ex-primeira dama, Zarif Loureiro. Após sair derrotado nas urnas como candidato a prefeito, nas eleições de 1996, Juninho Starling retornava à Casa Legislativa. Também voltariam a assumir cadeiras no Legislativo os ex-vereadores José Couto, Antônio Batista Miranda Contrapino e Antônio de Paula Magalhães (Toninho Eletricista).
Dali, apanhei Marilene em casa e fomos participar da carreata pela Wilson Alvarenga. Lembro-me da fala de minha esposa, ali, dentro do carro: – “Marcelo, Carlos tem de agradecer muito a você, ao Márcio e ao Chico por esta vitória. Vocês foram os principais responsáveis mostrando a cara em seus programas pela rádio. Ele deve isto a vocês três”. Pois é, mas nem sempre as pessoas são assim tão gratas. E tal tese foi comprovada meses depois, em episódios que relatarei a seguir.
Estávamos às portas de 2001. No entanto, ou seja, pelo resto do mês de outubro, em meu programa pela Cultura, a música de Gonzaguinha “Viver e não ter a vergonha de ser feliz”, que sempre foi o tema de abertura, deu lugar a uma outra, gravada por Roberta Miranda, chamada “A Rural”, cujos versos “Arruma a mala aê, a Rural vai arribar. Arruma a mala aê”… era a minha forma de provocar os petistas de Monlevade que estavam no poder, mandando meu recado para quedeixassem a cidade e fossem para bem longe . Minha ação, no entanto provocou a reação da mãe do meu amigo da época, Geraldo Magela Ferreira, então assessor de Comunicação do governo Laércio Ribeiro, saudosa Dona Dadica, assim conhecida, que encaminhou-me uma carta chamando a minha atenção para parar com aquilo e considerar a amizade que sempre tivemos. O ato da mãe do Magela me sensibilizou e voltei atrás. Era chegada a hora de dar fim àquela disputa e mandar as mágoas e o rancor para bem longe! Mas será? Fosse hoje jamais concordaria.
*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte LVI
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!