Pois bem, a vida não é só alegria. Há momentos de tristeza e tudo fica pior ainda quando nos sentimos traídos. Tais situações sempre me deixaram muito magoado.
Com a saída de Carlos Moreira da direção da Cultura, para seu lugar foi indicada uma tal de Rita de Cássia Otoni, de Rio Piracicaba. Eu já a conhecia da época em que trabalhava no Espaço Bonanza – de propriedade do empresário Gilmar Cota – e, depois, como corretora na Revista “De Fato”. Tempos difíceis em que precisava vender comerciais – afinal, havia a comissão – e chegava à Câmara, onde eu atuava como assessor de Comunicação, com o pires na mão. Por ter feito amizade com o deputado Mauri Torres durante a campanha eleitoral de 2000, conseguiu sua confiança e, mesmo sem entender de rádio – muito menos de imprensa – foi indicada e assumiu o cargo de gerente da emissora. Uma lástima!
Começou com mudanças radicais, mas apenas na aparência. Nunca se preocupou, por exemplo, em comprar equipamentos novos, como microfones e computadores, mas mandou pintar o prédio, adquiriu móveis novos para compor sua sala, sofás foram instalados e todo um luxo ao seu redor. Ganhou carta branca do chefe Torres e fez da emissora o seu escritório de gala, cheio de pompa. E até conseguiu enganar alguns dos funcionários por algum tempo, com seu cinismo, mas não todos o tempo todo. Era uma pessoa dissimulada! Por essas e outras que costumo dizer que, durante todos esses anos atuando na imprensa, se fiz inimizades, foram poucas, mas desta pessoa guardo rancor e ódio.
Vamos aos fatos: o programa ia muito bem, com ótima audiência. Isso podia ser medido andando pelas ruas, onde ouvíamos comentários grandemente positivos sobre o nosso trabalho. Aliás, numa cidade do interior, o nível do Ibope se mede exatamente nas conversas de bares, nas esquinas, praças, nas bancas. A famosa “Rádio-Peão” é a medida certa para alguém saber se está ou não agradando. Entretanto, exatamente por ser profissional e nunca negar espaços durante meu horário, para entrevistas, independente da posição político-partidária do convidado, acabei incomodando. E já estava à flor da pele com algumas determinações da nova administração, precisando dizer algumas verdades entaladas na garganta, mas era impedido. A tal gerente era tão dissimulada que, durante a primeira reunião que marcou com toda a equipe da Cultura, “para se lavar a roupa suja em casa”, ela simplesmente pediu àqueles que fossem usar da palavra, que riscassem um palito de fósforos, da caixa tradicional, a pequena, e o tempo da fala duraria até que a chama se apagasse. Saí dali enfurecido, assim como a maioria. Estava declarada a temporada da ditadura. Não demorou muito e, precisamente na tarde do dia 21 de dezembro, quando chegava à emissora para fazer o meu programa, fui chamado por uma funcionária – porque a fulana nem teve coragem para me demitir -, que informou sobre meu desligamento da emissora. Ela chegou a impedir que eu me despedisse do meu público e dos meus colegas de trabalho. Filha da p… Todos ficaram indignados, mas tiveram de se calar diante das ameaças e do clima ruim que fora criado pela protegida do deputado Mauri Torres. No dia seguinte, a mesma mandou grampear os telefones da emissora, temendo que eu entrasse no ar durante algum programa, para agredi-la verbalmente. E era meu desejo! No entanto, não tinha sido eu, a primeira vítima. O radialista Jair Lesse – outro funcionário fiel à campanha de Carlos Moreira e excelente profissional – fora demitido meses antes, para dar lugar ao comunicador Tangará, que se havia desligado da Rádio Alternativa. Aliás, nas eleições de 2000, Tangará foi um dos maiores críticos da candidatura de Moreira, defendendo radicalmente a reeleição de Laércio Ribeiro. Na oportunidade, foi afastado da emissora FM e um acordo verbal havia sido firmado entre o deputado estadual Mauri Torres e o parlamentar José Santana de Vasconcelos, proprietário da Alternativa, de que o locutor de rodeios não seria contratado pela Cultura após as eleições. Mas descumpriu-se o trato, ou melhor, Mauri Torres não manteve a palavra.
Tão logo deixei a Rádio Cultura, recebi apoio incondicional de centenas de pessoas, que chegaram a assinar um manifesto em minha defesa, publicado na edição de nº 23, do jornal “Morro do Geo”, que circulou no dia 10 de janeiro de 2002. Na mesma edição, fiz uma nota, intitulada “Desrespeito a um Profissional” (Sobre minha saída da Rádio Cultura), quando expressei toda a revolta e indignação contra a gerente da emissora. Apesar de a ferida demorar a cicatrizar, principalmente pela forma como tudo ocorreu, o próprio tempo tratou por corrigir. Afinal, não demorou muito para que a fulana descesse do salto. Mas tudo virou passado e em 2022 viria com novas perspectivas a serem vivenciadas naquele início do Século XXI!
*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte LVIII
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!