Novo século e surge o “Morro do Geo”!

O  ano  começaria  com  a  posse  do  novo  prefeito  e  dos  vereadores. Mas, ainda no final de 2000, uma decepção. Como dizem, “há males  que  veem  para  bem”,  e  um  episódio  serviu  para  comprovar que  o  dito  popular  tem  lá  suas  razões.  Após  uma  eleição, começam as negociações em torno da formação do Secretariado,  por  parte  do  Executivo,  e  da  formação  da  Mesa Diretora  da  Câmara  Municipal.  Isto  é  fato  e,  no  segundo  caso, quem  se  deu  mal  mesmo  fui  eu.  Depois  de  seis  anos  na Assessoria  de  Imprensa  da  Casa  Legislativa,  tendo  passado  por três  presidentes,  minhas  chances  de  continuar  eram  grandes.  No entanto,  como  o  pessoal  do  PT queria  minha  cabeça  a  todo custo – pela fervorosa campanha de oposição que fiz contra a administração de Laércio Ribeiro durante seus 4 anos de governo -,  foi apresentada  uma  proposta  a  Djalma  Bastos, de que ele teria  apoio para  continuar  como  presidente  da  Câmara,  sob  a  condição  de me  retirar  do  cargo.  E  já  havia  o nome  do  jornalista  Geraldo Magela  Ferreira  para  assumir  o  meu  lugar.  Amigo  de  longa  data e  consciente  de  minha  capacidade  profissional,  Djalma  não aceitou  a  proposta e preferiu abrir mão de sua candidatura a presidente da Casa.  Dessa  forma,  buscaram  outro  nome  e conseguiram  fechar  acordo  com  José  Benísio  Werneck,  com quem  eu  também  havia  trabalhado  durante  seu  período  como presidente,  entre  1997/98.  Mesmo  sem  ter  confiança  em Geraldo  Magela,  ele  o  contratou  para  a  minha  vaga  assim  que assumiu  a  presidência  da  Casa,  honrando  seu  sujo  acordo  com  a base  de  oposição.  Vendeu-se! Aquela  era  a  minha  primeira  decepção  para com  o  prefeito  eleito,  Carlos  Moreira,  que,  em  nenhum momento,  interveio  para  que  eu  permanecesse  no  comando  da Comunicação  da  Câmara.  Ou  seja,  o  primeiro  ato  de  ingratidão do  colega  de  rádio. Saí,  mas  não  sem  antes  jogar  pesado  contra os  vereadores  Werneck  e  Antônio  de  Paula  Magalhães  (Toninho Eletricista),  em  uma  conversa  que  tivemos  na  sala  da presidência.  Ali  descobri  que,  na  política, qualquer  acordo  é bem  vindo,  e  vale  qualquer  trapaça  no  jogo, independente  do preço  que  se  pague.  Mas,  como  há  males  que  veem  para  bem, nada  melhor  que  o  tempo  para  que  as  feridas  fossem cicatrizadas.

Século  novo  e,  além  de  deixar a  Câmara  Municipal,  também  me afastava  como  editor-chefe  do  jornal  “Gazeta  Regional”. Permaneci  no  periódico,  mas  apenas  como  editor-adjunto,  sem tanta  responsabilidade.  Havia  cumprido  minha  missão  no jornal  como  responsável  pela editoria  durante  os  quase  dois anos.  Acabei  também  cumprindo expediente  no  “A Notícia”, como  colaborador, às  quintas-feiras,  atuando  como  revisor.  E permaneci  na  Rádio  Cultura,  agora  ocupando  o horário matutino,  das  9  às  12  horas,  substituindo  Carlos  Moreira, enquanto  Márcio  Passos  fazia  o  meu  horário  da  tarde.  Contudo, essa  mudança  duraria  apenas  uns  dois  meses.  Isso  porque, durante  um  dos  programas,  coloquei  no  ar  um  ouvinte  e  este teceu  críticas  ao  governo  que  acabara  de  assumir  a  Prefeitura. Nunca  fui  de  proibir  ou  tirar  do  ar  quem  fizesse  críticas  a pessoas  públicas  e  não  seria  aquele  momento,  mesmo  que  o prefeito  fosse  do  mesmo  lado  político.  Para mim,  a  minha credibilidade como profissional sempre esteve acima das questões partidárias. Dessa forma , em abril j comandava novamente o “Plantão Cultura”, no tradicional horário de 16 às 18 horas, onde me sentia, sinceramente,  mais  em  casa.  Mas o melhor  estaria  por  vir…

Estava  entre  a  emissora  e  a  redação  do jornal “A Notícia”,  que  funcionava  ali na  Rua  Floresta.  Foi  quando  o  Márcio  me  fez  uma  proposta,  que era  de  montar  o  meu  próprio  negócio.  Havia  a  necessidade  de reduzir os custos do jornal e, para ele, era interessante eu abrir um jornal  diferenciado,  que  resgatasse  a história  de  João Monlevade  e  usasse  de  um  jornalismo  besteirol, irreverente, que  fosse  a  minha  cara!  Naquela  conversa  em  sua  sala,  na  redação  , ele já tinha tudo arquitetado em sua cabeça, do nome do jornal,  “Morro  do  Geo”  –  pelo  passado  de  Monlevade – entre  o  morro  do  Geo,  que  ia  do  Bar  do  Daniel  (mais  tarde Rampa´s)  até  a  Praça  do  Cinema,  passando  pela  Praça  do Mercado  e  do  armazém  que  gerou  o  nome  –  até  a  ideia  de,  além  do  resgate  da  história,  deixar  um  espaço  para o  jornalismo  besteirol,  tipo  “pasquiniano”,  que  seria  a  minha a marca do novo periódico.  Na  oportunidade,  ele  deixou  aberta  a  estrutura  do  “A Notícia”  para  que  eu  pudesse  redigir  e  diagramar  o  jornal  lá mesmo,  usar  os  serviços  do  seu  funcionário  da  área,  o Gustavo Domingues,  grande  profissional  e  meu  braço  direito  durante anos.  Assim  surgia  aquele  que  mudaria  a  história  da  imprensa monlevadense  e  daria  a  oportunidade  para  que  os  mais  jovens conhecessem  a  história  da  antiga  cidade,  que  nasceu  ao  redor  da Usina da Belgo-Mineira, da determinação do visionário e  grande homem, o engenheiro luxemburguês  Louis  Jacques  Ensch,  que  montou a Usina de Monlevade e construiu  aqui  a  1ª  Vila Operária  da  América  Latina.  Seria  um  marco  e  falo  sem qualquer  falsa  modéstia!

Cicula a 1ª edição do nosso “Divezenquandal”!

O  jornal  foi  às  bancas  pela  primeira  vez  no dia  15  de  fevereiro de 2001  e tinha  periodicidade  quinzenal.  No entanto,  o  rodapé  trazia  a seguinte  nota:  “Este  jornal  não  é  quatrisemanal,  nem  semanal, quinzenal  ou  mensal.  Ele  circula  o  dia  que  der”.  Aquilo  chamou muito  a  atenção,  somado  ao  cabeçalho,  cuja  frase  era  “Não  leve este jornal  muito  a  sério.  Nem  pouco”.  Lembro-me  da  manchete publicada  na  1ª  edição:  “As  Meninas  vão  tirar  a  roupa  na Avenida”,  com  a  seguinte  chamada:  “Banda  foi  contratada  por motivação  política.  A equipe  de  48  repórteres  do  Morro  do  Geo trabalhou  durante  15  dias  em  investigações  para  descobrir  qual motivo  levou  a  Fundação  Casa  de  Cultura  a  contratar  para  a abertura  do  carnaval  dos  Novos  Caminhos,  a  Banda  “As Meninas”.  Tudo  não  passa  de motivação  política  da  equipe  que assessora  o  prefeito  Carlos  Moreira. É  que  o  grupo  tem  14 mulheres  e  14  foi  o  número  do  então candidato  nas  eleições municipais  de  outubro.  Como  se  não  bastasse  a  tentativa  de oficializar  o  Slogan  ‘Novos  Caminhos’,  agora  tenta despistar  a justiça  contratando  14  pedaços  de  mau  caminho  para enfeitar  a avenida.  É  muito  avião  para  o  tamanho  de  nosso  campo  de aviação”.  O tipo de matéria publicada nesta 1ª edição do  “Morro  do  Geo”  já  mostrava  sua  cara  nas  bancas  de  jornais  e  revistas,  com muito  humor  e  irreverência.  E  sempre  houve  muitos  leitores  que sempre  acreditaram  nas  manchetes  e  nas  matérias  ali  inseridas. Na  mesma  primeira  edição,  outra  manchete  de  capa  que chamaria a atenção : “Chapa- 1 vence ‘Chapa-Todas’ e sindicalistas  são  chamados  de  traidores”,  referindo-se  às eleições  que  acabavam  de  acontecer  para  eleger  a  nova  diretoria da  Associação  dos  Aposentados.  O “divezenquandal”  (apelido carinhoso  que  dei  ao  jornal)  dessa  forma  fazia  de  fatos  reais, fossem  políticos,  policiais  ou  sociais,  notícias  do  “besteirol pasquiniano”,  mas  sem  ser  ofensivo.  E  ainda  criava  o Concurso “O  Mala  da  Vez”,  para  escolher  as  pessoas  mais  “malas” (chatas)  de  nossa  João  Monlevade,  com  suas  fotos  e  um pequeno  currículo,  mas  também  de  forma  a  não  denegrir  a imagem  de  ninguém.  Na  primeira  edição,  o  escolhido  foi  o  hoje saudoso Cassiano,  que  residia  no  Nova  Esperança.  Era  ouvinte assíduo  de  nosso  programa  e  estava  sempre  marcando  presença nos estúdios da rádio e nas  reuniões  políticas.

Para  dar  originalidade  à  nossa  proposta,  colunas  foram  inseridas  e tinham nomes sugestivos, justamente para mostrar a irreverência  do  nosso  periódico,  e  os  primeiros  colunistas, nossos  colaboradores,  pioneiros na  equipe,  foram  o  Márcio Passos, com a Coluna ”Textículo do Márcio”,  e  um  desenho  dos  testículos; Anselmo  de  Oliveira,  com  sua  “Ronda  Social”;  o  Leunam  (meu eterno  pseudônimo),  com  “Papo  de  Botequim”;  o  saudoso Waltinho  Horta  –  que  foi  o  proprietário  da  primeira  Banca  de Revistas  da  Avenida  Wilson  Alvarenga  -,  com  a  “Esquina  dos Aflitos”,  onde  ele  relatava  fatos  que  testemunhava  de  dentro  de sua  banca  de  revistas;  e  uma  coluna  de  fofocas,  feita  a  muitas mãos,  cujo  nome  era  “Pimenta  Malagueta”.  E  meu  primeiro colaborador na destruição do jornal pela cidade,  que  fazia  o  papel  de  “jornaleiro”  junto  comigo, foi  o  amigo  Lauro  Borges  da  Costa,  o  popular  “Santa  Bárbara”. O jornal era impresso em Belo Horizonte e saíamos eu e ele, a cada  15  dias,  para  deixar  os  exemplares, gratuitamente,  nas casas,  com  prioridade  para  as  que  integravam  a Vila  Operária, justamente  onde  residiam  os  moradores  mais  antigos  da cidade e  que  conheceram  as  saudosas  praças  do  Cinema  e  do  Mercado. Começávamos  no  Centro  Industrial  e  íamos  subindo,  passando pela  Vila  Tanque,  Areia  Preta,  Baú,  Satélite  até  chegar  a Carneirinhos.  E  fomos  fazendo  história  e  provocando  sorrisos, com  alguns  casos  que  ainda  contarei  nesta Saga, e resgatando a nossa história!

*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte LVII

Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!

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