Capa da 1ª edição do “Morro do Geo”, com suas manchetes de capa irreverentes, e até a diagramação do jornal ganhava um novo visual, com o cabeçalho em corte vertical. Foi o diferencial da imprensa monlevadense e regional, onde o resgate da história de João Monlevade sempre foi o marco e faz até hoje grande sucesso. O impresso durou de 2001 a 2020
O ano começaria com a posse do novo prefeito e dos vereadores. Mas, ainda no final de 2000, uma decepção. Como dizem, “há males que veem para bem”, e um episódio serviu para comprovar que o dito popular tem lá suas razões. Após uma eleição, começam as negociações em torno da formação do Secretariado, por parte do Executivo, e da formação da Mesa Diretora da Câmara Municipal. Isto é fato e, no segundo caso, quem se deu mal mesmo fui eu. Depois de seis anos na Assessoria de Imprensa da Casa Legislativa, tendo passado por três presidentes, minhas chances de continuar eram grandes. No entanto, como o pessoal do PT queria minha cabeça a todo custo – pela fervorosa campanha de oposição que fiz contra a administração de Laércio Ribeiro durante seus 4 anos de governo -, foi apresentada uma proposta a Djalma Bastos, de que ele teria apoio para continuar como presidente da Câmara, sob a condição de me retirar do cargo. E já havia o nome do jornalista Geraldo Magela Ferreira para assumir o meu lugar. Amigo de longa data e consciente de minha capacidade profissional, Djalma não aceitou a proposta e preferiu abrir mão de sua candidatura a presidente da Casa. Dessa forma, buscaram outro nome e conseguiram fechar acordo com José Benísio Werneck, com quem eu também havia trabalhado durante seu período como presidente, entre 1997/98. Mesmo sem ter confiança em Geraldo Magela, ele o contratou para a minha vaga assim que assumiu a presidência da Casa, honrando seu sujo acordo com a base de oposição. Vendeu-se! Aquela era a minha primeira decepção para com o prefeito eleito, Carlos Moreira, que, em nenhum momento, interveio para que eu permanecesse no comando da Comunicação da Câmara. Ou seja, o primeiro ato de ingratidão do colega de rádio. Saí, mas não sem antes jogar pesado contra os vereadores Werneck e Antônio de Paula Magalhães (Toninho Eletricista), em uma conversa que tivemos na sala da presidência. Ali descobri que, na política, qualquer acordo é bem vindo, e vale qualquer trapaça no jogo, independente do preço que se pague. Mas, como há males que veem para bem, nada melhor que o tempo para que as feridas fossem cicatrizadas.
Século novo e, além de deixar a Câmara Municipal, também me afastava como editor-chefe do jornal “Gazeta Regional”. Permaneci no periódico, mas apenas como editor-adjunto, sem tanta responsabilidade. Havia cumprido minha missão no jornal como responsável pela editoria durante os quase dois anos. Acabei também cumprindo expediente no “A Notícia”, como colaborador, às quintas-feiras, atuando como revisor. E permaneci na Rádio Cultura, agora ocupando o horário matutino, das 9 às 12 horas, substituindo Carlos Moreira, enquanto Márcio Passos fazia o meu horário da tarde. Contudo, essa mudança duraria apenas uns dois meses. Isso porque, durante um dos programas, coloquei no ar um ouvinte e este teceu críticas ao governo que acabara de assumir a Prefeitura. Nunca fui de proibir ou tirar do ar quem fizesse críticas a pessoas públicas e não seria aquele momento, mesmo que o prefeito fosse do mesmo lado político. Para mim, a minha credibilidade como profissional sempre esteve acima das questões partidárias. Dessa forma , em abril j comandava novamente o “Plantão Cultura”, no tradicional horário de 16 às 18 horas, onde me sentia, sinceramente, mais em casa. Mas o melhor estaria por vir…
Estava entre a emissora e a redação do jornal “A Notícia”, que funcionava ali na Rua Floresta. Foi quando o Márcio me fez uma proposta, que era de montar o meu próprio negócio. Havia a necessidade de reduzir os custos do jornal e, para ele, era interessante eu abrir um jornal diferenciado, que resgatasse a história de João Monlevade e usasse de um jornalismo besteirol, irreverente, que fosse a minha cara! Naquela conversa em sua sala, na redação , ele já tinha tudo arquitetado em sua cabeça, do nome do jornal, “Morro do Geo” – pelo passado de Monlevade – entre o morro do Geo, que ia do Bar do Daniel (mais tarde Rampa´s) até a Praça do Cinema, passando pela Praça do Mercado e do armazém que gerou o nome – até a ideia de, além do resgate da história, deixar um espaço para o jornalismo besteirol, tipo “pasquiniano”, que seria a minha a marca do novo periódico. Na oportunidade, ele deixou aberta a estrutura do “A Notícia” para que eu pudesse redigir e diagramar o jornal lá mesmo, usar os serviços do seu funcionário da área, o Gustavo Domingues, grande profissional e meu braço direito durante anos. Assim surgia aquele que mudaria a história da imprensa monlevadense e daria a oportunidade para que os mais jovens conhecessem a história da antiga cidade, que nasceu ao redor da Usina da Belgo-Mineira, da determinação do visionário e grande homem, o engenheiro luxemburguês Louis Jacques Ensch, que montou a Usina de Monlevade e construiu aqui a 1ª Vila Operária da América Latina. Seria um marco e falo sem qualquer falsa modéstia!
Cicula a 1ª edição do nosso “Divezenquandal”!
O jornal foi às bancas pela primeira vez no dia 15 de fevereiro de 2001 e tinha periodicidade quinzenal. No entanto, o rodapé trazia a seguinte nota: “Este jornal não é quatrisemanal, nem semanal, quinzenal ou mensal. Ele circula o dia que der”. Aquilo chamou muito a atenção, somado ao cabeçalho, cuja frase era “Não leve este jornal muito a sério. Nem pouco”. Lembro-me da manchete publicada na 1ª edição: “As Meninas vão tirar a roupa na Avenida”, com a seguinte chamada: “Banda foi contratada por motivação política. A equipe de 48 repórteres do Morro do Geo trabalhou durante 15 dias em investigações para descobrir qual motivo levou a Fundação Casa de Cultura a contratar para a abertura do carnaval dos Novos Caminhos, a Banda “As Meninas”. Tudo não passa de motivação política da equipe que assessora o prefeito Carlos Moreira. É que o grupo tem 14 mulheres e 14 foi o número do então candidato nas eleições municipais de outubro. Como se não bastasse a tentativa de oficializar o Slogan ‘Novos Caminhos’, agora tenta despistar a justiça contratando 14 pedaços de mau caminho para enfeitar a avenida. É muito avião para o tamanho de nosso campo de aviação”. O tipo de matéria publicada nesta 1ª edição do “Morro do Geo” já mostrava sua cara nas bancas de jornais e revistas, com muito humor e irreverência. E sempre houve muitos leitores que sempre acreditaram nas manchetes e nas matérias ali inseridas. Na mesma primeira edição, outra manchete de capa que chamaria a atenção : “Chapa- 1 vence ‘Chapa-Todas’ e sindicalistas são chamados de traidores”, referindo-se às eleições que acabavam de acontecer para eleger a nova diretoria da Associação dos Aposentados. O “divezenquandal” (apelido carinhoso que dei ao jornal) dessa forma fazia de fatos reais, fossem políticos, policiais ou sociais, notícias do “besteirol pasquiniano”, mas sem ser ofensivo. E ainda criava o Concurso “O Mala da Vez”, para escolher as pessoas mais “malas” (chatas) de nossa João Monlevade, com suas fotos e um pequeno currículo, mas também de forma a não denegrir a imagem de ninguém. Na primeira edição, o escolhido foi o hoje saudoso Cassiano, que residia no Nova Esperança. Era ouvinte assíduo de nosso programa e estava sempre marcando presença nos estúdios da rádio e nas reuniões políticas.
Para dar originalidade à nossa proposta, colunas foram inseridas e tinham nomes sugestivos, justamente para mostrar a irreverência do nosso periódico, e os primeiros colunistas, nossos colaboradores, pioneiros na equipe, foram o Márcio Passos, com a Coluna ”Textículo do Márcio”, e um desenho dos testículos; Anselmo de Oliveira, com sua “Ronda Social”; o Leunam (meu eterno pseudônimo), com “Papo de Botequim”; o saudoso Waltinho Horta – que foi o proprietário da primeira Banca de Revistas da Avenida Wilson Alvarenga -, com a “Esquina dos Aflitos”, onde ele relatava fatos que testemunhava de dentro de sua banca de revistas; e uma coluna de fofocas, feita a muitas mãos, cujo nome era “Pimenta Malagueta”. E meu primeiro colaborador na destruição do jornal pela cidade, que fazia o papel de “jornaleiro” junto comigo, foi o amigo Lauro Borges da Costa, o popular “Santa Bárbara”. O jornal era impresso em Belo Horizonte e saíamos eu e ele, a cada 15 dias, para deixar os exemplares, gratuitamente, nas casas, com prioridade para as que integravam a Vila Operária, justamente onde residiam os moradores mais antigos da cidade e que conheceram as saudosas praças do Cinema e do Mercado. Começávamos no Centro Industrial e íamos subindo, passando pela Vila Tanque, Areia Preta, Baú, Satélite até chegar a Carneirinhos. E fomos fazendo história e provocando sorrisos, com alguns casos que ainda contarei nesta Saga, e resgatando a nossa história!
*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte LVII
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!