Aqui o saudoso professor Guido Valamiel. Com ele, a cidade sempre respirou mais cultura e esportes
Corriam os anos 1980, mês de julho, frio gostoso, quase final da década. No Estádio Louis Ensch, Saulo Laranjeiras encantava uma pequena multidão com um show bastante criativo. Na Praça do Lindinho, crianças das escolas da cidade, inclusive as da Funbem, exibiam danças e coreografias para outras tantas pessoas que ali acorreram para a inauguração de uma reforma da praça. Na sede do Coral Monlevade, Luciano Lima, antes de uma apresentação do Coral, falava das perspectivas da música coral em Monlevade. Na Praça Sete de Setembro, o povo assistia ao encerramento de uma corrida que premiou Cléver Machado como primeiro colocado entre os maratonistas de Monlevade. Em outro ponto da cidade, após apreciar uma exposição de pinturas de artistas da cidade, um grupo considerável de pessoas, comodamente assentadas, deliciava-se com um repertório de MPB executado por Tó Vilela, voz e violão. No Anfiteatro do CEJM, com todas as limitações do espaço, um grupo encenava uma peça de teatro. No mesmo Anfiteatro, em outro dia, exibia-se uma Orquestra de Música de Câmara, do Sesi de Belo Horizonte. Em plena Avenida Wilson Alvarenga, em espaço interditado, equipe de atores circenses apresentava, em espaço aberto, espetáculo de equilíbrio e pantomimas. Era o VII Festival de Inverno de João Monlevade.
Agora é o mês de setembro do mesmo ano. Primeiro, a organização do Desfile da Pátria, com participação de escolas e entidades com suas fanfarras e carros alegóricos. Depois, no Ginásio da ACM, representações das escolas de João Monlevade, devidamente uniformizadas, em espetáculo grandioso, celebram a abertura dos Jogos da Primavera, coroando como Rainha dos jogos uma atleta do CEJM.
E havia também a festa do Esporte: ora os JEM (Jogos Estudantis Monlevadenses), ora os Jimi (Jogos do Interior de Minas), ora os Jemg (Jogos Escolares de Minas Gerais), ora as Olimpíadas Estudantis (havia até Olimpíada para criança de 1ª a 4ª série), enchendo a cidade com a alegria juvenil de inúmeras delegações de outras cidades, com Monlevade sediando certames esportivos de caráter regional.
Por trás de toda esta movimentação, um batalhador incansável, alma juvenil, coração de jovem, animação de atleta, sensibilidade de artista, dedicação de professor, cuidados de pai: Professor Guido Valamiel, Chefe, desde 1977, da Divisão Municipal de Esporte e Lazer, que pontuaria sua atuação com importantes realizações ligadas à Cultura, cujo órgão maior, a Fundação Casa da Cultura, viria a presidir a partir de 1992. Creio que não há um cenário mais adequado que este que aqui tracei para homenagear a memória deste grande educador e ativista cultural, que teve seu nome perpetuado em uma das ruas do Bairro Santa Cecília.
Todo mundo dizia que ele era de São Domingos do Prata, pois de lá viera para Monlevade. Mas ele nasceu mesmo foi em Rio Piracicaba, em 06 de março de 1935, filho de José Valamiel e Rosa de Oliveira Valamiel. Transferiu-se para João Monlevade em 1972, classificado em prova de títulos para uma das vagas de professor de Língua Portuguesa do Centro Educacional de João Monlevade, integrando, portanto, a turma de pioneiros do famoso educandário. Posteriormente, também sua esposa, Maria Salete de Melo Campos Valamiel, seria admitida como professora no CEJM, e seus filhos, Gissele, Gilcleber e Giusepe ali cursaram os estudos fundamentais. Querido e admirado por alunos e colegas professores, desde o início sobressaiu-se na escola como bom comunicador e locutor, atuando em festas e solenidades como Mestre de Cerimônias. Talentoso e dotado de grande sensibilidade artística, não havia atividade cultural da escola, à frente da qual não estivesse. Não demorou que fosse visto e convidado a assumir o Setor de Extensão Cultural da Prefeitura de Monlevade.
Professor de português competente e dedicado, não se limitou ao CEJM. O antigo Colégio Estadual também o teve como professor, bem como a E.E.Luiz Prisco de Braga, o Colégio Kennedy e o Centro Tecnológico Dr. Joseph Hein. Não obstante as numerosas aulas e a organização daqueles eventos culturais e esportivos acima mencionados, o Prof. Guido Valamiel ainda encontrava tempo para se dedicar à Copremon (Cooperativa de Crédito da Prefeitura), que presidiu por longos 19 anos (1978-1997).
Com uma atuação tão variada, prevaleceu, acima de tudo, seu grande desprendimento e dedicação às causas que abraçava. Revendo, há pouco tempo, uma entrevista concedida a Otávio Viggiano (Tavim), que lhe questionava o pouco apoio e comparecimento do público aos eventos culturais, constatei seu desabafo magoado, mas cheio de compreensão: “Ah! Eu já estou acostumado com essa reação… A gente faz tudo por amor e por consideração ao povo de Monlevade, que merece uma programação de qualidade… Mas que fazer se o povo prefere a novela global ou a finalíssima de futebol de salão do Real?”
Militando numa área pouco valorizada pelo poder público, não se deixava esmorecer diante das dificuldades: corria atrás de pessoas e empresas em busca de recursos e sempre realizava seus intentos. Ele não foi um, foi muitos. Revisitando sua trajetória, não há como não aplicar a ele o que Camões escreveu do amor de Jacó e Raquel: “Para tão grande amor tão curta vida!” Pelo amor entranhado à cidade que o acolheu, merecia mais um tempo de vida, para colher, quem sabe, os frutos que plantou. O 28 de dezembro de 1997, que testemunhou seus últimos gestos, marcou também sua passagem para a galeria dos monlevadenses fizeram história.
*Pesquisa e Texto: Geraldo Eustáquio Ferreira (Professor Dadinho)!
Esta matéria foi publicada na edição de nº 117 do jornal “Morro do Geo”, de janeiro/2008.
2 comentários “Biografia: Professor Guido Valamiel!”
Grande professor e adiantado para a época. Fui aluno dele em 1981, atuava muito próximo dos alunos, na arte e na cultura, ouvindo a classe. Nem sempre concordando, mas sempre acolhendo e orientando.
Grande ser humano!