Vista da parte de frente do Senai, quando o prédio ainda funcionava dentro da Usina da Belgo, em 1961
Em dezembro de 1960 acabava de cursar o primário, cheio de orgulho e envaidecido, pois não era tão comum assim; é claro que todos queriam ter o diploma do grupo para depois ter condições de entrar na Belgo. Lembro-me do meu pai falando: “Eu vi um aviso na Usina que os filhos de funcionários da empresa poderão se candidatar a uma vaga para estudar no Senai”. Uma verdadeira fábrica de profissionais de bem, espalhados por todos os cantos deste Brasil querido.
Havia o tradicional CAO (Curso de Aprendizagem de Ofício), onde o aluno tinha a formação acadêmica e profissional. Com aulas de segunda a sexta-feira, de 7 às 10:50 horas e das 13 às 16 horas. O aluno podia optar por Mecânica ou Elétrica nas aulas práticas. A partir do primeiro período (termo), os alunos que começavam a si despontarem eram logos indicados para fazer estágio na usina e era na verdade o que todos previam, pois, logo teriam iniciado a sua vida profissional e com um salário de 50% do mínimo. Geralmente, quando se completava 18 anos, a maioria já estava bem classificada profissionalmente.
Do curso de Mecânica, vale a pena lembrar os grandes professores: Paulo Moreira dos Santos (Tecnologia), José Anselmo Correia, José Zito, Gessy e Tim (Instrutores); Sr. Henriques Schoenenkorb (Chefe geral da Oficina Mecânica). Na Oficina de Tornearia Mecânica: Américo Floriano Brunauer. Na Oficina Elétrica Divino de Oliveira, Vicente, Zé Tinte. E os demais, que eram Wilton Oliveira, Heber Fraga (Português), Bequinha, José Martins (Matemática), Gerhart Michalick, Antônio Gonçalves (Desenho). O elenco foi reforçado com a criação do CGI (Ginásio Industrial Básico). Lá estiveram Luciano Lima (História, Inglês, Música e Orientação Religiosa), Gabriel Damasceno (Geografia), Nilson Fraga (Ciências), Dimas Rodrigues (Música, Inglês e Geografia), Theófilo Monteiro Domingues (Matemática), Luiz Gonzaga Lima (Inglês). E na Secretaria, a simpática Domitila. E neste grupo de professores exclusivamente masculino, em 1962 surgiu a primeira musa, a professora Moyara Ferreira; lindíssima professora de História, que acabava de quebrar um tabu. Amaro Corgozinho (História). Pelo menos foi esse o seleto grupo do Senai no início da década de 1960. O grande regente dessa Orquestra era o inesquecível professor João de Oliveira Freitas, ou simplesmente “Sô João do Senai” (Sr. João Peixe). Mas…, para essa Orquestra funcionar a disciplina foi entregue ao “grande” Messias Magalhães, ou “Sô Messias”. E, com essa Orquestra tocando afinada, só se poderia ver e ouvir um grande concerto. Avaliar o concerto? Era só ver os resultados dos vestibulares das principais escolas técnicas da época, como Ouro Preto, Santa Rita do Sapucaí, Escola Técnica Federal de Minas Gerais (hoje CEFET). Era os melhores da época, de quem eram os primeiros lugares do Senai e durante os cursos davam um show à parte.
O Senai de João Monlevade foi isso e muito mais! Com certeza, os melhores profissionais que a Usina e tantas outras privilegiadas indústrias tiveram; nasceram no berço dessa grande escola profissionalizante. Do Sr. Totó da cantina guardo as melhores recordações ainda vendendo saúde e simpatia, apesar dos mais de 90 anos. Do Sô Zé do Cafezinho (José Peixoto), Sr. José Rosa (Baiano ferramenteiro), dos nossos uniformes de brim cáqui, das rigorosas filas após o toque do 1º sinal, do silêncio rígido até a entrada nas salas… se houvesse qualquer problema de disciplina, o pai era chamado na Usina e, enquanto não fosse lá, o filho não entrava na sala de aula e só fazia após aquela conversinha com o Sô João Peixe e o respectivo pai.
Criação do Coral
Seu João também se preocupou com a parte cultural. E assim, no primeiro semestre de 1962, autorizou o professor Luciano Lima a formar, organizar e dirigir o primeiro Coral do Senai. Lembro-me direitinho daquela memorável noite de gala: a estreia do Coral, dia 22 de outubro de 1962, no majestoso Cine Monlevade. Super lotado; coral de quatro vozes de adolescentes e adultos. Brindamos a inesquecível plateia com músicas maravilhosas, entre elas “Eu tinha uma andorinha”, “Existe uma canção ao nascer do sol” e “Canta Brasil”. Um preço simbólico fora cobrado nas bilheterias e uma boa soma foi entregue à nossa querida Dona Luzia Maria de Oliveira (Luzia Do Cartório) para obras missionárias. Conversando com um amigo e ex-colega do Senai, Geraldo Martins Alves, lembrou-me ele do Teatro de Fantoches da professora Moyara, cujos ensaios eram em uma casa na Vila Velha dos engenheiros.
Em junho de 1963, fomos convidados para irmos à Fazenda de senhor Humberto Spechit, em Ipaba. Foi maravilhoso. Fomos de caminhão, Rural Jeep; foi naquela festa junina. Por lá dormimos e retornamos no dia seguinte. Agradáveis também eram as peladas nos campos de salão e areia no inesquecível Grêmio Esportivo Monle-vadense. Após as puxadas aulas de Educação Física aos sábados, ministradas pelo professor Tenente Corgozinho; somente para os alunos do CGI.
A seriedade, a disciplina rígida que se mantinha naquela Escola foi sem dúvida a marca do sucesso. Plantado no seio da Usina, apoiado pelo Belgo, sob o sol escaldante ou sob a poeira da antiga Aciaria LD, num clima todo industrial. Era assim o nosso querido Senai. Havia uma eminente necessidade de mudança de local. E, no final de 1963, iniciaram-se os preparativos para tal.
O Senai de Casa nova
É lógico que tudo evolui, que nada neste mundo é estático. Tudo é um processo dinâmico e contínuo. E, nesse contexto, o prédio do Senai se mudaria para o Bairro Vila Tanque. O prédio da Escola primária Eugênia Scharlé sofreria as reformas e adaptações necessárias, bem como a construção de um grande e bem feito galpão construído para instalar as oficinas e tornearias e ajustagem mecânica. Concluídos os trabalhos. Finalmente, no dia 29 de abril de 1964, sua Exa. Dom Oscar de Oliveira viria dar as bênçãos à nova Casa, localizada também no Bairro Vila Tanque, mas com sede própria, onde está instalado até os dias de hoje. Muitas mudanças ocorreriam no corpo docente, na diretoria e até na própria filosofia do Senai.
Abaixo, duas fotografias, o Senai já na casa nova e com sede própria na Vila Tanque. A 1ª aparece a frente do prédio, com carros dos professores estacionados, e a 2ª o patio externo
Em 1965 eu faria o vestibular em Ouro Preto. Fui aprovado e, finalmente, no ano seguinte, fui novamente aprovado em 14º lugar no Curso de Mecânica da Escola Técnica Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, onde conclui o curso técnico.
Turma de Formandos da década de 1960
Senai – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Essa escola proporcionou vários cursos, ensinou e continua a fazê-lo com suas características próprias, fornecendo assim mão de obra especializada para o mercado profissionalizante.
Senai – Faz parte do acervo histórico e cultural de nossa querida João Monlevade.
Abaixo, no ano de 1962, um jantar de confraternização entre diretoria, professores e funcionários do Senai, aparecendo, entre outros, o diretor João de Oliveira Freitas (João Peixe), sua esposa Ilka, Vicentinho, Correia, Ivo, Paulo Moreira e a esposa Dona Nini, Messias Magalhães e esposa, Geraldo Arantes e a esposa Dona Lelê, Vicente Caiana e a esposa Dona Conceição, Luciano Lima e a esposa Gilda, Prego (Formiga) e José Couto, entre outros convidados
*Matéria publicada na edição de nº 58 do jornal “Morro do geo”, de junho/2003.