A História e o Ensino revolucionário da Escola Polivalente! – Marcelo Melo

Na foto acima, o prédio onde foi inaugurada a Escola Polivalente, localizada no Bairro Vila Tanque, de frente para a Escola Eugênia Sharlé

A Escola Polivalente, ligada ao Sistema Premen, da rede federal de ensino, foi inaugurada em João Monlevade no mês de setembro de 1972. Mas, oficialmente, a inauguração ocorreu em março de 1973, quando aqui esteve o então governador de Minas Gerais, Rondon Pacheco. Localizada no bairro Vila Tanque. Uma educação exemplar, onde o aluno convivia com a escola em dois turnos distintos. Infelizmente, como no Brasil acabam as boas coisas, o Sistema Premen de Ensino foi abolido e as várias escolas polivalentes do país foram fechadas. Foram transferidas para o Estado. Mas, os cinco anos em que permaneceu o famoso Premen, de 1972 a 1977, o exemplo ficou e até hoje está eternizado em nossas memórias e para todos aqueles que por ali passaram como estudantes, ficou a semente de um ensino de primeira qualidade e também muito nos ensinou sobre a vida e de valorizar as amizades.

  Foi através de convênio entre o Ministério da Educação e Cultura (antigo MEC), os Estados Unidos e Universidades brasileiras, em 1970, que foi criado – sob o modelo norte-americano – as Escolas Polivalentes, através do Programa de Expansão do Ensino Médio – Premem – cujo nome deu apelido ao estabelecimento. E, além de Minas Gerais, foram agraciados com o Sistema Premen de Ensino apenas alguns estados, entre eles a Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná. O ensino aplicado nas Escolas Polivalente possuía um ensino pluricurricular, acrescentando-se às matérias acadêmicas, as técnicas e práticas com o objetivo de promover um preparo para uma futura opção profissional. Para tanto, havia os laboratórios e oficinas. Uma delas era a de Artes Industriais, abrangendo as seguintes áreas: artes gráficas, cerâmica, eletricidade, madeira e metal. Em Educação para o Lar o objetivo era elevar o padrão da vida em família através dos conhecimentos sobre saúde, alimentação científica, vestuário, arte e decoração, cuidados pessoas e administração do lar. Em Técnicas Comerciais era ensinado o movimento da empresa comercial, conhecendo-se os setores de pessoal, contabilidade, crédito, compra e venda, noções de técnica de propaganda e publicidade. As Oficinas de Técnicas Agrícolas permitiam que o aluno tivesse acesso ao processo de cultivo, plantio e manutenção de plantas ornamentais e hortaliças, em geral.

O Polivalente começou suas atividades em 1972, no governo do então prefeito Antônio Gonçalves, mas foi inaugurada oficialmente em 1973, pelo ex-prefeito Lúcio Flávio. Na foto abaixo, durante a inauguração, no hasteamento das bandeiras, onde aparecem a supervisora de ensino, o governador de Minas Gerais, Rondon Pacheco, e o prefeito Lúcio Flávio de Souza Mesquita, junto a três alunas da escola: Simone Passos, Mônica Pinho e Joyce Melhuysen

Esse tipo de ensino colocava o aluno em contato com o mundo do trabalho, proporcionando-lhe informações sobre processos básicos da indústria, agricultura e comércio, contribuindo para que racionasse em termos de coisas e fatos concretos, assim como planejar um trabalho. Além disso, o tipo de organização da oficina com os alunos operando ativamente e em conjunto, estabelecia estreita relação de trabalho, permitindo que pertencesse a um grupo e que seus esforços tivessem um sentido coletivo.

O Polivalente, mesmo tendo sido cravado na época da ditadura militar, era uma escola diferenciada das demais. Não havia aquela didática que castrava o aluno, escravocrata desde os tempos do Cônego Higino no antigo Ginásio de Monlevade. O aluno convivia com o professor de igual para igual, sem tabus. E lá havia outra grande diferença e que trazia mais liberdade: cada sala era de uma Matéria, ou seja, a cada intervalo de aula era o aluno quem mudava de espaço. E aquilo fazia uma diferença danada, porque ninguém era dono de cadeira alguma. As ações eram mais divididas e aquilo representava uma aliança mais forte entre o grupo. Também tínhamos matérias extracurriculares e não apenas o trivial. Havia aulas de teatro, música, jornalismo, ginástica, sem contar as aulas práticas de técnicas comerciais, técnicas agrícolas e educação para o lar. Vivíamos em um paraíso, com música-ambiente durante os intervalos (falávamos recreio), tênis de mesa, duas quadras de esporte e ainda um campo par a prática de futebol de campo e soçaite. E acabaram com, tudo, mas ficou, com toda a certeza, uma obra que jamais será apagada, que foi a do ensinamento. O aprendizado valeu por tudo e só quem teve o privilégio de estudar no Polivalente, entende o que estou falando, e é com o coração.

Primeiros Professores

No surgimento da escola, já faziam parte do Corpo Docente professores e funcionários que trabalharam no seu primeiro ano de funcionamento: Maria José, Auxiliadora Rocha (Dôra), Carlos, Vera Duran, Ana Maria, Elmo Lima, Getúlio, Zeni Magalhães, Rosária, Lídia Helena, Izaura (Matemática), Tereza Silvério, Maria Gonçalves, Ernani, Ayva, Jorge, Valdir, Ângela, Efigeninha, Quintino Maciel e outros. E mais um grupo que chegou logo depois, como Paulo, Geni, Márcio, Admar, Veredino, Assunção, Fafá, Divina, Octamar, Batista e Isaura (de Ciências), Geni, Mauro, Mirtes, Maria Eulina, Divina, Zilca, e a primeira e eterna diretora, Thaís Brandão Azevedo. Um tempo de ouro, onde tivemos orgulho até mesmo de nosso escandaloso e brega guarda-pó verde “cheguei” (rs)!

Histórias

  A história propriamente dita da Escola Polivalente é muito extensa e formidável. Em João Monlevade, as aulas se iniciaram em setembro de 1972 e muitos alunos trocaram então o sistema burocrata do Colégio Estadual pelo ensino contemporâneo do Premem. Os alunos até estranhavam aquela liberdade e um contato de amizade com o professorado em pleno regime de ditadura militar. De 1972 a 1976 o sistema das escolas norte-americanas foi rigorosamente seguido. Havia uma sala para cada disciplina, ou seja, era o aluno quem trocava de sala de aula. A partir daquele ano a escola começou a fazer parte da rede estadual de ensino. Foram ainda diretores da Escola Polivalente (transformada em Escola Estadual Dr. Geraldo Parreiras) os seguintes profissionais: Vera Duran Lima, Maria Carmem Gomes Carvalho, Elza Maria Moreira Lima, Ana Maria Martins da Costa, Maria Célia Ferreira Maia e, desde 1997, assumiu a direção a professora Mirian das Graças Martins Silva. A partir dali outros profissionais assumiram a direção da escola.

  O Polivalente, no geral, foi um sonho para aqueles adolescentes que ali se formaram, no ensino fundamental, entre dezembro de 1974, julho de 1975 e dezembro de 1975. Era um ensino de períodos, semestral. Havia ainda aulas de extraclasse, quando o estudante tinha a opção em fazer Jornalismo (com o professor Elmo Lima), Teatro (com o professor Mauro Rodrigues) e Educação Física (com o professor José Quintino Maciel). Tempos de recreios onde se jogava futebol de salão, vôlei, futebol soçaite, ping-pong, se ouvia música, conversava com os professores. Um tempo de muita esperança no futuro e coleguismo, onde muito aprendemos e tivemos o privilégio de termos concluído o Ensino Fundamental na Escola Polivalente.

No pátio interno sempre havia apresentação de números artísticos apresentados pelos próprios alunos, como música e teatro, como aparece nas fotos abaixo

  Para falar a verdade, estudar na Escola Polivalente, ou Premem, como queiram, foi algo maravilhoso, impressionante. Lembrando a música de Milton e Brant, vivemos ali a música “Coração de Estudante”. E cantávamos uma canção composta pelo Mestre “Lelé”, que foi o Hino do Polivalente, durante uma Gincana realizada na escola com a participação de três equipes: “Pantera” (vencedora” “Patota” e “Barulho” onde dizia a letra: “Vem, vem comigo, vem, que eu vou lhe mostrar o Paraíso. Lá você aprende tudo, aprende até a amar o seu inimigo. É a minha escola, minha vida, meu futuro…”

Foto feita durante a gincana, onde aparece a diretora Thaís Brandão fazendo a entrega de livros ao alunos participantes

Constantemente os alunos programavam excursões, fosse para Ouro Preto, exposições agropecuárias em Belo Horizonte ou outras cidades, e à Gruta de Maquiné, em Cordisburgo. Os professores apenas davam suporte e iam um ou dois como responsáveis. Mas éramos livres em pleno tempo de ditadura militar. Aqui, durante viagem a Ouro Preto, uma parada onde aparecem os alunos saudosos Thomaz e Dimas, Mário Paciência, saudoso Luiz do Cavaco, Claudinho Sabugo, Nenêga e Zé Pantera

E foi realmente um paraíso; que nos fez crescer espiritualmente e nos deu a oportunidade de termos chegados aonde chegamos. Imbuídos de menos preconceitos, menos individualismo e mais solidariedade. O aluno que se formou no Polivalente nos idos dos anos 1970 aprendeu algo mais, cuja avaliação cabe a cada um deles. Uma delas foi saber ser amigo.

Na foto abaixo, a 1ª Turma de Formandos do Ensino Fundamental, em dezembro de 1974, junto aos professores e a diretoria

Encontro de Ex-Alunos e Ex-Professores

Após praticamente 30 anos, ex-alunos, ex-professores e ex-funcionários da Escola Polivalente promoveram o “I Encontrão do Polivalente”, que realizou-se nos dias 7 e 8 de setembro de 2002, em João Monlevade.

O Encontro foi considerado uma das mais organizadas festas do gênero já realizada na região, e contou com a presença de cerca de duzentas pessoas, entre ex-alunos e ex-professores da Escola Polivalente, além de familiares. Foi realizado no Sport Center, Bairro Campos Elízios (hoje extinto), em João Monlevade, tendo como ponto alto a emoção, que tomou conta dos colegas, que se formaram entre os anos de 1974 e 1975, ou seja, as três primeiras turmas, e não se viam há quase 30 anos.

Flagrantes do nosso I Encontro, realizado no ano de 2002. Outros foram realizados, e continuamos a nos encontrar quase que anualmente, relembrando as nossas histórias, sempre valorizando as nossas famílias e a nossa fé em Deus


Os encontros entre os ex-alunos e ex-professores do Polivalente continuam sendo realizados, e o último deles ocorreu em 2018. Um momento único e mágico, e hoje, os cônjuges, pais, filhos, noras, genros e netos dos ex-alunos e ex-professores também já fazem parte da Família Polivalente.

*Um Trabalho de Pesquisa realizado para contar um pouco desta história de quem viveu e fez parte da Família Polivalente!

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3 comentários “A História e o Ensino revolucionário da Escola Polivalente! – Marcelo Melo”

  • Um excelente documentário sobre a nossa querida Polivalente! Eu fui um dos privilegiados de ter estudado e concluído em 1975! Foram os tempos de ouro da nossa educação! Se aqueles padrões tivessem sido mantidos, o Brasil seria muito diferente hoje! Infelizmente, quando os políticos descobriram que tudo aquilo seria bom demais pro país e ruim pra classe deles, foi todo um projeto jogado ao lixo! Afinal, um povo muito inteligente significa nenhuma oportunidade pras corrupções, compra de poder, roubo dos recursos públicos, venda do país, etc… E está aí o resultado: o Brasil de hoje!
    Mas, vamos voltar ao polivalente! Muitos nomes ainda são lembrados e é bom rever as fotos! Ainda lembro de qdo o professor Otamar teve o som do seu carro roubado bem no estacionamento do colégio, por um dos alunos! Coisa feia e trágica na época! E a diretora Thaís Brandão, com seus óculos, passos rápidos e rigidez que não deixava a disciplina e conceitos da escola cair! E o colega de classe apelidado gaguinho ? O premem, polivalente não foi só apenas um projeto de ensino! Foi um “conglomerado”, um “empreendimento educacional”, que deveria ter dado certo, se não fosse este sistema político sujo que assola o país!
    São muitas as boas memórias deste tempo! 👏👏

  • Estudei no Polivalente em 1976 e 1977, até hoje me lembro daquela época, mudei para São Paulo em 1978, mas nunca esqueci.
    Outro lugar que curti muito foi Jacuí, bairro onde tinha meus primos e o Estádio do Jacuí.
    Morei perto da ACM, na rua Leão XIII, onde sempre passeava com meu avô, Zé Leite.

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