O QUÊ A HOLANDESA NÃO DISSE OU PORQUE NEM SEMPRE EU ME ORGULHO DE SER BRASILEIRO – Stalnley Baptista de Oliveira

Marcelo Melo, no último número do seu jornal “Morro do Geo” , edição número 70 do dia 22 de janeiro de 2004, na seção “Opinião”, foi publicado um artigo com os comentários de uma holandesa (qual o nome dela?) sobre o Brasil. Comentários elogiosos sobre alguns aspectos relevantes, outros nem tanto. Não estou querendo desmerecer nosso país nem nosso povo mas não posso deixar de mostrar alguns defeitos brasileiros que a tal holandesa não viu e que me aborrecem, incomodam:

1) As péssimas condições das estradas, principalmente em Minas, um verdadeiro atentado à vida dos motoristas e passageiros, responsáveis por milhares de mortes e mutilações a cada ano, sem que medidas corretivas (nas estradas) sejam tomadas. Apesar disso, as multas aos motoristas que cometem infrações nessas estradas são extorsivas, esfolam o coitado do motorista, multas que não se revertem em benefício das estradas, na sua recuperação ou melhoria.

2) Existem pessoas que arrancam tampas de bueiros para vende-las no “ferro velho”, deixando aquele perigoso buraco no meio da rua, causando acidentes com pessoas e automóveis.

3) Diante do Juiz de Direito, os criminosos, principalmente os de “colarinho branco” (políticos, magistrados, delegados de polícia, donos de banco etc), podem mentir descaradamente durante seus depoimentos, sem que tais mentiras constituam  agravantes aos delitos sob investigação ou um desrespeito ao Juiz. Nos Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália (acho que também na Holanda) mentir para um Juiz é crime e agrava o crime sob investigação.

4) O porte de armas é considerado, há poucos meses, crime inafiançável, menos para os bandidos profissionais, que não estão “nem aí” para esta nova lei.

5) Bandidos com idade inferior a 18 anos podem assaltar, matar, estuprar, portar armas que nada lhes acontece, por força de um tal “Estatuto do menor”. Um bandido menor de idade (o famigerado “dimenor”), quando preso, mesmo que tenha matado dezenas de pessoas, ficará detido no máximo por (TRÊS) anos!!!  Parece “piada de português” mas é a realidade da lei penal brasileira, responsável por tantos crimes covardes cometidos por estes bandidos menores de idade, causa do paralisante medo que as pessoas de bem sentem ao sair à rua. Culpa, também, do pequeno número de turistas estrangeiros que se arriscam a visitar-nos, assustados com a conhecida violência urbana no Brasil.

A lei penal brasileira não pode proteger só os bandidos menores de idade. Vou citar um terrível exemplo: há alguns anos, em Belo Horizonte, uma criança de 4 anos, linda, filha de um médico meu conhecido, foi sequestrada por dois bandidos, irmãos, que pediram dinheiro pelo seu resgate. No cativeiro, como a criancinha estivesse chorando muito, os bandidos a sufocaram com algodão embebido em éter, matando-ª . Para esconder seu corpo, queimaram-na numa churrasqueira. Dias depois, os dois assassinos foram presos e condenados. Há cerca de um mês, depois de cumprir pouco mais de 6 anos de cadeia, um dos bandidos foi libertado, por bom comportamento…. Será que na Holanda é assim?

Por causa de situações com esta, a criminalidade no Brasil atingiu números assustadores e crescentes a cada dia. O nosso índice de mortes por assassinato é um dos maiores do Mundo. Também somos os campeões mundiais em mortes por acidentes de trânsito. Um dos campeões, também, no número de vagabundos, de todas as idades, que ficam pedindo esmola nos sinais de trânsito nas grandes cidades (flanelinhas, malabaristas, equilibristas, transformistas, artistas de todos os tipos), irritando os motoristas.

6) Os disparates das nossas leis trabalhistas nos enchem de vergonha. Leis que foram inocentemente elaboradas para beneficiar os trabalhadores, na realidade desvirtuaram-se devido às absurdas decisões judiciais, desincentivando as contratações de trabalhadores, especialmente domésticos e rurais, contribuindo para o grande número de desempregado no país.

7) Homens barbudos, mal-encarados, usando bonés vermelhos e dizendo-se membros de um certo “Movimento dos sem-terra”, podem invadir propriedades privadas, expulsando seus legítimos donos, que terão que lutar na justiça para reintegração de posse.

8) Linhas atrás, falei alguma coisa sobre turismo no Brasil. Como são maltratados os turistas no nosso país, principalmente os turistas brasileiros. Aqui, explora-se o turista, não o turismo. E nossas grandes atrações? Vou citar as decantadas praias do nordestes, sujas, poluídas, mar bravo, uma ventania de arrancar a cabeça. A paisagem é belíssima, mas o banho de mar impraticável, impossível na maioria dessas praias. Sobram as barracas e botecos com muita cerveja gelada, caipirinha, pagode e mulatas rebolando (aí, até que é bom).

9) As doenças que assolam o Brasil e que devem nos encher de vergonha: dengue, cólera, lepra, tuberculose, doença de Chagas, febre amarela, malária e outras mais que, há muitos anos, foram erradicadas nos países do Primeiro Mundo e que aqui ainda existem tal qual na Idade Média.

10) O sistema eletrônico utilizado nas nossas eleições desde o ano 2.000, tão merecidamente elogiado pela holandesa e pro pessoas de outros países. Pena que os políticos eleitos nos decepcionem e nos envergonhem com tanta roubalheira, malandragens e safadezas em geral.

11)  Existe no Brasil uma coisa da qual devemos realmente nos orgulhar e que não foi citado pela tal holandesa: a beleza das nossas mulheres. Pena que, em algumas regiões do Brasil, de modo especial no norte e nordeste, estas belas mulheres tornaram-se atrações para um certo “turismo sexual”, especialmente para homens vindos da Alemanha, Holanda e Portugal…

Marcelo Melo, perdoe-me por estas contestações e não vou estender o assunto para não incomodar mais as pessoas que não têm a mesma opinião que a minha. Não estou querendo pregar o pessimismo, apenas acho que, antes de concordar totalmente com a holandesa, temos que corrigir, com urgência, estas e outras mazelas que nos enchem de vergonha. Os brasileiros são, por natureza, alegres, bem-humorados, criativos, empreendedores mas são, também, indisciplinados, avessos às normas de convivência civilizada, isto é, bem educada. Superando estas nossas deficiências e corrigidas as distorções que citei acho que, aí sim, seremos um país do qual poderemos nos orgulhar. Por enquanto, deveríamos nos orgulhar mais de nós mesmos, por estarmos sobrevivendo num país tão difícil e complicado como o Brasil, apesar de algumas coisas boas que nos oferece.

*Artigo publicado na edição de nº 71 do jornal “Morro do Geo”, de fevereiro de 2004!

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