Uma pessoa ímpar em nossa cidade foi o professor aposentado, ex-vereador por Rio Piracicaba e ex-prefeito por João Monlevade em dois mandatos, saudoso Antônio Gonçalves, o popular “Pirraça”. Ele foi político do tempo dos pardais, ou seja, quando o homem público gozava do respeito da população. No tempo em que quando o político entrava em sua asa para tomar um cafezinho, a xícara ficava dias sem ser lavada. Hoje, a vontade é de escarrar na xícara.
Mas a história é outra e vamos apenas a mais um causo do Pirraça. Aliás, se eu for enumerar as histórias deste homem, dará um livro. Preocupação não é com ele. Tanto que no próximo mês fará 78 anos e não tem nem cabelos brancos. Mas é “lerdo” que dói, como afirmam os seus amigos mais íntimos, entre eles o Tobias, Joel, José dos Santos, Elmo Lima e o “nôro” José Maria Caldeira. E eu também. Tanto que uma vez, durante uma das tantas viagens à lagoa do Social Clube, estava parado em frente ao aparelho de TV, na sala da casa. Um chegou e disse: “o que você tá fazendo aí Antônio”? E ele respondeu: “uai, assistindo ao Jornal Nacional”… Mas a televisão estava desligada. E por aí afora.
A mais nova ocorreu no último final de semana. Convidado para visitar o filho Anderson (Ducho), em Belo Horizonte, foi o Pirraça apanhar o ônibus no Terminal Rodoviário. Mas, como a filha Vanessa não arrumou sua mala, ele foi à seco, ou seja, só com a roupa do corpo e uma escova de dentes no bolso da calça. Chegando lá, já era aguardado pelo filho querido, que perguntou: “pai, e a mala?”. Ele, ironicamente, respondeu, já soltando uma gargalhada: “mala? A mala? A Vanessa não arrumou e eu vim assim mesmo”. Pausa para sorrisos.
Mas, como o pai é seu peixe, “Ducho” já saiu do Terminal Rodoviário direto para um Shopping. E deu um banho de lojas no Pirraça. O moço ganhou cinco camisas, três calças, cuecas e meias. Foi uma farra. Já está desfilando com a “Sãozinha” com as várias grifes que recebeu do filho caçula. E mais: promete nova visita para abril.
*Esta Crônica eu publiquei no jornal “Morro do Geo”, em sua edição de nº 143, de março/2010. Antônio Gonçalves faleceu ano passado, aos 87 anos de idade.