Aqui o momento do melhor da pescaria: jogar um baralho
Tudo teve início com o Clube de Caça e Pesca, na década de 1950, quando a Belgo-Mineira construiu a primeira casa na Lagoa do Aguapé, na região de São José do Goiabal e no meio da mata do Parque Florestal do rio Doce. Era um sonho realizado e, desde então, os pescadores e caçadores de Monlevade tinham a oportunidade de desfrutar da natureza nos finais de semana ou nas folgas da Usina. Durante mais de três décadas, o Caça e Pesca reinou sozinho e outras casas já tinham sido construídas nas lagoas da Barra, do Jacaré e da Mescla. Mas, a Aguapé sempre foi a preferida dos amantes da natureza e das pescarias. Isso até meados da década de 1980, quando a Belgo-Mineira também decidiu doar uma área ao Social Clube e, em maio de 1986, era inaugurada a primeira casa às margens do Aguapé, quando era presidente do Social, Gilberto francisco, popular Gilberto “Muriaé”, que muito fez pelo Clube.
Com o tempo, o Caça e Pesca começou a perder associados e o Social ganhou força. Em poucos anos, foram construídas mais três casas devido à grande demanda dos associados do clube, que lotavam as suas dependências nos dias de sorteios para se passar um final de semana em uma das casas.
Daí a idéia de um grupo de amigos – a maioria aposentados – que diante da disputa acirrada resolveu participar também dos sorteios para dias úteis e, desde o início dos anos 1990, mensalmente eles comparecem a uma das casas da Aguapé. Há mais de 12 anos esses velhos amigos cruzam a BR-262 até a entrada de São José do Goiabal e depois circulam mais 20 Kms de estrada de chão até a lagoa, onde ficam de segunda a quarta-feira, todo mês. Um passeio sagrado. Dos fundadores deste grupo, ainda fazem parte Tobias, Joel Linhares, Antônio Gonçalves (Pirraça), José Maria Caldeira, José dos Santos, Culi e Bueno. Outros foram se achegando e hoje também são figuras que batem cartão todo mês, entre eles Elmo Lima, Pedro “Galinha” e Moacir. E, na pescaria de maio, tive o privilégio de participar pela primeira vez da aventura vivida por estes aposentados – e não parei mais – que, por merecimento, também merecem uma folga mensal, mesmo não estando na ativa dentro da Usina.
A Parada Tradicional
Por volta de 9 horas da manhã de segunda-feira, 22 de maio, saímos dali da avenida Getúlio Vargas, perto da praça 7 de Setembro, exatamente em frente ao antigo açougue do Culi. Estávamos eu, Joel, Pirraça, Elmo, Pedro, José dos Santos e Tobias, o comandante-mor do grupo, como é chamado pelos amigos. José Maria também iria, mas chegaria somente no final da tarde na lagoa. Os demais, por outros motivos, não puderam participar da pescaria de maio. Mas, tudo bem; lá fomos nós, “exímios” pescadores. Estão mais para pecadores.
Após rodar quase 70 Kms, a parada obrigatório e que já se tornou tradicional. Sempre antes da saída de Monlevade, Tobias ou Joel passam no “Pé de Porco”, quando Rosália sempre prepara algum tira-gosto. Naquela segunda foi tropeiro com torresmo e um frango assado. A parada é feita assim que se deixa a BR-262 e entra sentido a Goiabal. Logo no comecinho da MG param os carros. Uma pinguinha, a cerveja gelada em lata e o tira-gosto. Nada mais abençoado do que aquela manhã de segunda-feira, num friozinho manso.
Pessoal da Pescaria: Na foto no momento da Parada Obrigatória, onde é lei tomar umas e comer um tira-gosto. Da esquerda para a direita: Tobias, José dos Santos, Pedro “Galinha”, Pirraça, Joel e Elmo Lima
Pouco mais de 10 horas e todos já estão acomodados na casa 4 do Social Clube. Bagagem pra fora, cerveja no freezer, comida na cozinha, carne e frios na geladeira e o refrigerante do Zé Maria, o único não consumista do álcool. Nem bem chegou e alguém já pega um cobertor e joga na mesa. A pescaria, na verdade, é apenas um pretexto. O bom mesmo na lagoa é o jogo do baralho, mais precisamente o jogo de “Buraco”. Já desce uma cachacinha, uma loira gelada, enquanto Pedro “Galinha” – quem diria – vai pro fogão preparar um arroz com suã (escreve-se assim ou sem til e com n no final? Deixa pra lá). Zé dos Santos, por sua vez, vai para a beirada da lagoa, no ancoradouro, preparar os anzóis e a isca. Coloca um motor no barco e dá uma voltinha. Foi a única em três dias. Depois foi só jogar buraco, como todo mundo. Muita cerveja, pinga, carne assada na chapa e o resto do tropeiro da Rosália. Peixe? Só o Pedro andou pescando alguns lambaris para um tira-gosto, e duas traíras. Mais nada. Mas, e daí, ninguém queria pescar mesmo!
Participação em uma partida de buraco, junto aos colegas Tobias, Pirraça, Joel e Zé Maria
Bom é o passeio, o descanso mental, o papo furado e as gargalhadas que desciam gostosas. Um ambiente onde o maior prazer é a amizade. Sem nenhuma preocupação com o nosso cotidiano. Sem ouvir notícias do lado de lá e sem querer saber da podridão que toma conta do Congresso Nacional. Como afirma Tobias, “esta nossa pescaria mensal é um paraíso. Estar aqui neste contato com a natureza, no meio da mata e ainda poder usufruir de um convívio com amigos, jogar conversa fora, degustar uma cachaça da roça e uma cerveja gelada. Querer mais o quê? Acho que tá muito bom”. E terminou com um sorriso largo pelo tanto que se pode viver bem e nem carece de muito dinheiro. Basta criatividade e fé em Deus!
*Esta Crônica foi publicada na edição de nº 98 do jornal “Morro do Geo”, de junho/2006. E desde a primeira vez que participei, nunca mais deixei de acompanhar o Grupo nas viagens à Lagoa do Aguapé, fosse em qualquer uma das 4 casas e assim foi até aproximadamente o ano de 2016, onde me tornei o “Cozinheiro-Cheff” dos encontros, em substituição ao Mestre Cuca “Toca da Banca”. A Turma disperson, por necessidade. Alguns amigos partiram e outros continuam entre nós, graças a Deus, e foi um aprendizado e uma convivência maravilhosa!