Sr. Delvo e Dona Santa: os piracicabenses que foram pioneiros no comércio em João Monlevade! Por Marcelo Melo!

Na fotografia acima, Sr. Delvo e Dona Santa, durante nosso bate-papo, que aconteceu dentro da loja do casal, a famosa “Casa Pessoa”, fundada na década de 1940

Em março de 2001, ano de fundação do nosso jornal, o “Morro do Geo”, os nossos entrevistados foi o casal Delvo Pessoa Mendes e Maria de São José Pessoa, mais conhecidos como Sr. Delvo e Dona Santa, uns dos primeiros comerciantes de João Monlevade. Foram eles que, em 1948, montaram a famosa “Casa Pessoa”, na Avenida do Contorno, Bairro Vila Tanque, e foi única daquele período que permaneceu aberta na cidade até os anos 2000. Mas, vamos aqui transcrever aquela entrevista para que os assinantes de nosso Site possam conhecer a bonita história deste casal.

Nascidos na vizinha cidade de Rio Piracicaba; Sr. Delvo, em 18 de agosto de 1920; e Dona Santa, no dia 6 de julho de 1917, vieram ainda jovens para João Monlevade. Sr. Delvo chegou primeiro, mas antes havia deixado sua terá natal para morar em Belo Horizonte, para estudar.. No entanto, em razão das dificuldades financeiras da época, teve de deixar os estudos e mudou-se para João Monlevade, aqui chegando em 7 de setembro de 1935, aos 15 anos de idade. Inicialmente, trabalhou com ajudante de padeiro, na famosa “Padaria dos Alemães”, dos irmãos Alberto e Vicente Pidner. “Recordo-me com saudade. A Padaria ficava ali, na entrada da Pedreira, em frente ao Noca, no final da Tieté. Trabalhei ali por três anos, indo depois para a Padaria de Antônio Geo, na Praça do Mercado, contou, relembrando ainda de um irmão que trazia leite no lombo de burro, que saia do Jorge e vinha abastecer as casas aqui Monlevade todas as manhãs.

Mas o comerciante ainda voltou ao tempo, lembrando da construção da estrada de ferro que ligaria Santa Bárbara a Nova Era, passando por João Monlevade.. Dona Santa, por sua vez, frisou que a estada foi construída por Dolabela Portela, que foi também proprietário do primeiro armazém da cidade. Isto no ano de 1929.

Ingresso na Usina e o Casamento

Depois de outros três anos na Padaria do Geo, Sr. Delvo ingressou na Belgo-Mineira, exatamente em 1941, começando a trabalhar no Laminador. Dois anos depois, casa-se com Dona Santa, que havia deixado Rio Piracicaba para morar em Monlevade. “Moramos cinco anos na Rua Tabajaras, na casa de nº 485. Depois, em 1948, nos mudamos para a Vila Tanque, depois de termos recebido uma feira da Belgo-Mineira”, relaram os comerciantes.

Naquela época, contou Seu Delvo, a Usina resolveu abrir 8uma feira em cada ponto da cidade, para atender aos operários. Foram abertas umas cinco feirinhas e distribuídas. “Como eu já tinha algumas mercadorias na casa de meus pais, no Jorge, em Rio Piracicaba, e experiência como comerciante, fui um dos empregados a receber uma das vendas, que se instalaria justamente na Vila Tanque, onde está hoje o estacionamento interno da Faculdade e que antes havia abrigado o Palanque do bairro. Vendíamos um pouco de tudo, entre frutas, temperos, verduras. No mesmo ano, em 1948, mudamos para a casa onde estamos até hoje que logo depois transformou-se na nossa loja, a Casa Pessoa”, disse orgulhoso.

Sobre a Vila Tanque de antigamente, ele disse que não havia nada no bairro. “As casas dos operários ainda estavam sendo construídas e, de nossa casa para cima, era só poeira. O bairro terminava aqui. As casas da Avenida Aeroporto, por exemplo, para moradia da chefia da Usina, somente foram construídas no final da década de 1950. Mas era tudo muito bom, bem melhor que hoje”.

Já Dona Santa, que passava mais tempo na loja já que o Sr. Delvo trabalhava na Usina, onde ficou até aposentar-se, em 1969 -, era quem atendia os fregueses. “Como a venda já não atendia mais aos clientes em suas necessidades, que procuravam mais produtos, como uma linha, botões e tecidos, resolvemos ampliar o estabelecimento. Aproximadamente em 1954 nasceu a loja de confecções e artigos variados. Foi um sucesso para a época. Lembro-me que atendíamos uma clientela variada, entre os operários mais simples até os chefes. E, geralmente, quem vinha fazer as compras eram as esposas. E chegamos  a ter cerca de mil clientes de caderno, mensalmente, e todos pagavam religiosamente suas contas. E nem ficamos ricos por isto”, disse Dona Santa, quando foi interpelada pelo seu marido: – “Não ficamos ricos porque não roubamos, graças a Deus. Tanto que a fiscalização do Estado, que trazia de charrete, de Piracicaba até aqui, o seu funcionário José Batista de Oliveira, para bisbilhotar as lojas e nossas vendas, nunca encontraram nada de errado conosco. Andávamos sempre em dia  com nossos impostos”.

Construção do Palanque

Um fato curioso narrado pelo comerciante  e aposentado foi de como surgiu a ideia de se construir o Palanque da Vila Tanque, onde eram realizadas as missas dominicais, além de casamentos, batizados e festas religiosas. Segundo Sr. Delvo, por “culpa” de sua esposa (rs). “Além de enfrentar aquela poeira todos os dias, para chegar à Usina, já que ainda não havia calçamento, ainda tinha de comer poeira aos domingos para levar Santa à Missa na Igreja São José Operário. Aquilo já estava me incomodando, quando procurei então o Manoel Buraco, um vizinho e homem que gozava de muita credibilidade na Usina, e pedi a ele para que intercedesse junto ao Cônego Higino para que pudesse celebrar missas aqui no bairro. Ele começou a fazer então algumas celebrações esporádicas, até que eu, o Manoel Buraco, Antônio Paes e Jair Mendonça, formamos uma comissão e construímos o Palanque, que ficou concluído em 1956”, relatou.

O Palanque da Vila Tanque, que era o local para as celebrações religiosas e que somente foi desativado após a construção da Igreja, que se deu na década de 1970

Sr. Delvo disse ainda que os moradores que pagavam o transporte do Cônego Higino, que era feito pelo taxista (Chofer de Praça, como era chamado na época) Manuel Português, o primeiro motorista de praça de João Monlevade. Mas tarde compramos um Fusquinha e presenteamos o Cônego Higino. Já em 1961 consegui comprar meu primeiro carro, uma Rural que atendia toda a comunidade.

Um casal que tanto contribuiu para o desenvolvimento sócio-econômico de nosso município. Sr. Delvo e Dona Santa tiveram dois filhos e quando da nossa conversa, tinham 4 netos e um bisneto. Ambos já se despediram desta vida, mas deixaram o legado e um exemplo de vida e de trabalho comunitário, dentro da fé cristã!

Ah, ia me esquecendo,  mas além da loja da Casa Pessoa, havia ainda ao lado, aberta no final dos anos 1970, a famosa Lanchonete “Cochicho”, que foi um point dos degustadores de uma boa cerveja gelada no final de tarde ou nas manhãs de sábado, onde se degustava a melhor coxinha da região. Bons tempos!

*Matéria publicada na edição de nº 05 do jornal “Morro do Geo”, de abril/2001!

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