Mobilização Cultural e a chegada à Rádio!

Na área cultural,  João Monlevade  ia  bem  e  se  preparava  para  a  realização  do  “IX  Festival  da  Canção”,  que  aconteceria  nos  dias 2, 3, 4 e 5 de  maio,  nas  comemorações  do  21º  aniversário  da cidade.  Os vencedores daquele festival foram Chico Franco, em 1º lugar, com a  música  “Canção  de  um  Moço  Velho”,  defendida pela  cantora  Miriam,  que  ganhou  o  prêmio  de  melhor  intérprete. O 2º lugar ficou  com  a  música  “Samba-Cinco”,  parceria  de Afonso  Teíca, Toteco,  Tilinho,  Sinval  e  Leopoldo;  e  a  3ª colocada  foi  “Manhã,  Cor  e Festa”,  de  João  Marinheiro.  O show principal ficou a cargo  dos  grandes  nomes  da  MPB,  a  dupla  Sá  e  Guarabyra.  E um detalhe: o vereador e produtor cultural  João Bosco Vieira  Paschoal  havia  conseguido  uma  entrevista  exclusiva  com  a  dupla, após o show. Por motivos pessoais, dei o bolo, literalmente falando, e eles ficaram por meia hora aguardando a minha presença e se mandaram. Eu me arrependo até os dias de hoje! E ainda mais por sempre  ter  sido  um  fã  incondicional  dos  dois  artistas. Mas.  aconteceu…

O município passava por uma efervescência cultural interessante.  Além  do  boom  que  era  o  Festival  da  Canção, realizado  anualmente  em abril  ou  maio,  julho  era  o  mês dedicado  ao  Festival  de  Inverno,  onde  o  Teatro  Professor Antônio  Gonçalves  (Anfiteatro  do  Centro Educacional)  era o ponto  de  encontro  dos  artistas  e  literatos.  Havia do Varal  de Poesias  ao  encontro  Lítero-Musical,  com  Mesa  de  Bar  e  muito teatro.  No ano de 1985, sempre tendo  o  professor  Guido Valamiel  como  organizador,  foi  realizado  um  dos  melhores festivais  de  inverno,  que  estava  em  sua  terceira  edição. Tínhamos o nosso grupo de teatro e  apresentamos  uma  peça infantil,  “O  Rapto  das  Cebolinhas”,  sucesso  de  autoria  de  Maria Clara  Machado.  O Anfiteatro ficou lotado e  meu  personagem  era  o  vilão, o famoso e temido “Camaleão  Alface.  Em uma  de  nossas apresentações,  não  me  esqueço  de  um  garoto,  Bráulio  Meyers Perdigão.  Era  ainda  criança  e  quando  viu  a  cena  em  que  o Camaleão invade  a  fazenda  do  “Vovô  Felício”  para  raptar  as cebolinhas  e  prende  os  cães  que  havia  no  local,  ele  saiu  da plateia  e  invadiu  o  palco  para  agredir  meu  personagem.  Uma cena hilária e ele foi contido pela tia,  Vânia  Perdigão,  esposa  do  amigo  Geraldo Magela,  que  o  acompanhava.  Depois,  logicamente,  o  público foi  abaixo  com  gargalhadas  e  a  fantasia  se  tornara  real.  Aquela cena  sempre  me  acompanha  e  sempre que nos encontrávamos, ele, já adulto, me  chamava  pela  alcunha  de  “Camaleão  Alface” (rs).

Mas havia outro sonho, que era um dia começar a fazer rádio. Sempre tive aspiração à mídia considerada como o maior veículo de comunicação de massa.  E as coisas foram acontecendo naturalmente.  Na época, ainda havia só uma emissora na  cidade,  a “Tiradentes/Globo”/AM,  antiga  Rádio Cultura,  que  havia  sido  adquirida  pelo  Sistema  Globo  de  Rádio, em  1976,  da  Belgo-Mineira.  A jornalista que era responsável pelo departamento resolveu se desligar da emissora, junto ao marido, que era locutor.  Cariocas da gema resolveram voltar à terra natal.  Era junho de 1985 e o então gerente da emissora, Elmar Venícius  de  Oliveira,  com  quem  tinha  um relacionamento estreito,  me  fez  o  convite.  Minha função seria a de redigir os noticiários,  que  iam  ao ar  de  hora  em  hora.  Uma chamada e quatro  matérias.  N início, apesar de minha experiência no jornalismo  impresso,  não  foi fácil.  O processo de redigir notícias para o  rádio  é  bem  distinto ao  dos jornais.  Não se usam artigos e  o  texto  é  bem  mais  corrido. De forma a facilitar a leitura do  locutor  que irá ler a notícia. E ali, muitas histórias,  até  novembro  de  1988…

Estávamos em agosto de 1985 vivendo grande marco temporal da  indústria  siderúrgica,  visto  que  a  Belgo-Mineira,  Usina  de Monlevade, completaria 50 anos, no dia 31 de  agosto.  Um boom econômico  para  a  mídia  monlevadense,  já  que  os  jornais  da época  fizeram  reportagem  especial  sobre  a  marcante  data  e puderam  recuperar  os  cofres,  garantindo  as  próximas  edições. Mas, à véspera de  comemorar  seu  cinquentenário,  uma  notícia abalava  a  alta  cúpula  da  Belgo-Mineira:  falecia  naquele  ano,  no dia  2  de  agosto,  Dr.  Joseph  Hein,  que  participou  ativamente  das mais  importantes  etapas  de  implantação  e  consolidação  de unidades  da  empresa,  onde  alcançou  o  cargo  de  Presidente  da Diretoria  e,  posteriormente,  de  presidente  de  Honra  e  Membro do Conselho Consultivo da Belgo-Mineira. Foi um executivo dos mais capacitados, além de seu carisma que lhe dava prestígio não só junto aos diretores, mas também à classe operária. Dr. Joseph Hein morreu em consequência de um ataque de abelhas, em sua fazenda, localizada na cidade de Matozinhos, região central de Minas Gerais, ocorrido no dia 20 de julho. Ficou internado por duas semanas, mas  não  resistiu,  após sofrer  uma  crise  renal.

Conseguia facilmente conciliar meu trabalho entre o jornal “A Notícia”  à  “Tiradentes/Globo”.  Meu  horário  na  emissora  era de  7  às  16  horas.  Já  deixava  meu  minúsculo  canto  e  a  minha Olivetti,  em  uma  sala dividida  com  a  Discoteca,  cujo responsável  pelos  Vinis  era  o  amigo  Geraldo  Cardozo.  Dali – Bairro Satélite – ia direto para a redação do  jornal,  no  Lucília.  Morava, então, em uma República, no Bairro Vila Tanque.  Os dias mais apertados eram as segundas, terças e sextas feiras.  E geralmente aos sábados, quando trabalhava até ao meio dia na  Tiradentes  e  fazia plantão  no  A Notícia.  Poderia surgir algum fato novo.  Até que, em agosto daquele mesmo ano, 1985, uma nova proposta chegava  à  minha  porta  e,  como  profissional,  não  poderia descartar.  O jornalista e diretor da Revista “Mostrar”,  Otávio Viggiano  Filho,  “Tavinho”,  havia  me  convidado  para  fazer  parte de  sua  equipe.  Ele fez uma proposta  razoável.  Falei abertamente com o Márcio e perguntei se tinha  como  ele  aumentar  meu salário.  A resposta foi não e encerrei ali meu primeiro ciclo no “A Notícia”.  Foi uma saída amigável, tanto que retornei  ao jornal  mais  umas  três  vezes.  O último “Com-Mentando Monlevade”, publicado  no  “A Notícia”,  naquele  período,  foi  em 30  de  agosto.  Mas o  Márcio  permaneceu  com  a Coluna  e  o mesmo  nome  por  algumas  edições,  e o novo autor usava o pseudônimo  “Félix  dos  Santos” .  Sempre desconfiei  de  que  o  responsável  era  o  Paulo  Roberto  dos Reis, pois escrevia muito bem.  E, na Revista “Mostrar” nasceria  a  coluna  “Direto  das  Arquibancadas”!  Além de um salário  melhor ainda  receberia 10  cruzeiros  (moeda  da  época  e  que  durou  até  fevereiro  de  1986) por  cada  lauda  redigida.  Era uma  nova  fase.  Chegava à “Mostrar” que circulava mensalmente e passamos à periodicidade  quinzenal.  Bela  revista,  com  uma  média  de  40 páginas  por  edição  e  diagramação  moderna.

*Do Livro A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte IV

Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!

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