1986: O ano que não terminaria!

Segundo  o  dito  popular,  depois  da  tempestade,  sempre  vem  a bonanza. E assim seguia 1986, o ano que parecia não terminar diante  os  fatos  conturbados  que  o  marcaram.  Contextualizando, da  mesma  forma  que  a  obra  do  escritor  e  jornalista  Zuenir Ventura,  “1968:  O  Ano  que  não  terminou”.  Não  só  em  nível local,  1986  também  foi  o  ano  do  “Plano  Cruzado”,  idealizado pelo  então  Ministro  da  Fazenda,  Dilson  Funaro.  O  tempo  em que  todo  o  povo  brasileiro  se  transformaria  em  “fiscais  de Sarney”.  Como  diria  Cid  Moreira  na  abertura  do  JN  daquele  28 de  fevereiro,  “um  dia  para  ficar  na  história  do  país”.  No  entanto, também  o  cruzado  trouxe  muitas  conturbações  em  todo  o  Brasil, com  desemprego, recorde na inflação, comércio  fechado  e  saques.

A procissão  seguia  seu  rumo,  assim  como  a  vida  social  e  política de  João  Monlevade.  Mesmo  desconfiados  e  ainda  carregando  o ranço  da  greve  que  acabara  de  terminar,  aproximava-se  a disputa  eleitoral  para  a  escolha  dos  deputados  estaduais, federais,  senadores  e  governadores  de  Estado.  Ainda  não  havia eleições  diretas  para  eleger  o  presidente  da  República  em  razão do  regime  militar  que  imperava  no  país.  Desde  o  golpe  de  1964,  as  primeiras  eleições  para  escolha  do  governador  de Estado  somente  voltariam  a  ser  diretas  quatro  anos antes,  ou seja,  em  novembro  de  1982.  Também  havia  ocorrido  uma mudança  na  legislação  eleitoral.  Isso  porque  as  eleições  eram casadas, ou  seja,  elegendo  no  mesmo  pleito  vereadores, prefeitos,  deputados  e  senadores.  Com  a  alteração,  os  mandatos dos  prefeitos  e  vereadores  foram  prorrogados  por  mais  dois anos,  passando,  então,  para  seis  anos.

O  município  já  respirava  ares  de  campanha.  A disputa  regional estava  acirrada.  Afinal,  havia  cinco  candidatos  de  João Monlevade, sendo quatro  deles  disputando  vagas  à  Assembleia  Legislativa de Minas Gerais, sendo eles o  ex-prefeito  Antônio  Gonçalves  (Pirraça),  pelo  PMDB;  o  ex-vereador  Océlio  Aguilar  Carneiro,  pelo  PTB;  a professora  e candidata  a  Prefeitura  derrotada  nas  eleições  municipais  de 1982,  Celeste  Semião,  pelo  PT;  e  o  médico  Luiz  Fernando  do Amaral,  pelo  PC  do  B,  que  surgiu  politicamente  como  um meteoro  por  ter  dedicado  todo  seu  tempo  como  profissional, durante  a  greve  dos  metalúrgicos,  atendendo  dia  e  noite  em frente  ao  Zebrão  (o  que  lhe  custou  o  emprego  da  Belgo-Mineira). Por sua vez, o  sindicalista  João  Paulo  Pires  de  Vasconcelos,  PT, era  o  único  da  região  tentando  uma  vaga  a  deputado  federal constituinte.  Apesar  de  não  esquentar  como  numa  disputa municipal,  foram  registrados  fatos  que  acabaram  criando um  clima  mais  pesado  à  disputa.  Entre  os  candidatos  a  deputado estadual,  apenas  Antônio  Gonçalves,  por já  ter  sido  prefeito  por duas  vezes  e  contar  com  apoio  de  raposas  da  política  mineira  – como  Jorge  Ferraz,  por  exemplo  –  tinha  uma  chance  real.  E  já entrava  na  disputa  pela  terceira  vez.  Por  sua  vez,  Celeste caminhava  com  apoio  do  João  Paulo  e  crescia.  Mas  estava restrita  a  votos  do  domicílio  eleitoral  do município.  Océlio,  só para  fazer  média.  Por  sua  vez,  Luiz  Amaral  seria  uma  incógnita e  poderia  surpreender.

A disputa  ganhou  ares  mais  hostis  quando  o  grupo  que coordenava a campanha do ex-prefeito cometeu um deslize de estratégia,  aproveitando-se  da  situação  de  pegar  uma  carona com  o  sindicalista,  cuja  aceitação  popular  crescia  nas  pesquisas. Dessa  forma,  a  poucas  semanas  das  eleições  de  15  de  novembro, os  aliados  peemedebistas  distribuíram  um  documento  contendo fotos  de  João  Paulo  e  Antônio  Gonçalves,  juntos,  com  intuito  de mostrar  aos  operários  metalúrgicos  que  o  dirigente  sindical dava  apoio  a  “Pirraça”.  A reação  foi  imediata,  e  as  lideranças  do PT montaram  um  palanque  em  frente  ao  Zebrão,  com  as presenças  de  João  Paulo  e  da  professora  Celeste,  desmentindo  o boletim.  Uma  reunião  ainda  ocorreu  na  sede  do  Sindicato  dos Metalúrgicos,  com  a  presença  do  ex-prefeito,  onde  o  clima esquentou ainda mais.  Final:  João  Paulo  foi  eleito  deputado  federal constituinte  e  os  demais  candidatos  à  Assembleia,  derrotados. Mais  uma  decepção  do  PMDB  e  de  Monlevade  em  não  fazer  seu primeiro  deputado  estadual.  Para  o  governo  do  Estado,  foi  eleito Newton  Cardoso,  este  pelo  PMDB.

Lembro-me  de  que,  nas  eleições  daquele  ano,  a  apuração  se  deu no  Ideal  Clube.  Foi  minha  primeira  experiência  como  repórter de  rádio,  em  se  tratando  de  uma  cobertura  jornalística  durante a apuração dos votos, que eram em cédulas.  Uma  situação  muita  amadora,  arcaica  mesmo.  Adiretoria  do  Clube  liberou  a  Secretaria,  onde  havia  um  aparelho telefônico.  E  de  lá  eu  fazia  a  cobertura,  ligando  de  hora  em  hora para  o  estúdio  da  rádio  e  informando  aos  ouvintes  como  estava  a apuração. Algumas  vezes  a  linha  estava  ocupada  e  era  aquele sufoco  para  conseguir  entrar  ao  vivo  no  ar.  Na  época,  a  apuração durava  cerca  de  três  dias. Mas era divertido, e muita adrenalina no ar!

*Do Livro A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XII

Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!

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