Na fotografia acima, o então prefeito Antônio Gonçalves, popular “Pirraça”, ao lado da esposa, 1ª dama Helena Gonçalves, e autoridades, durante inauguração da Avenida Wilson Alvarenga, em 1972, em seu 1º mandato. Mesmo governando o município por duas vezes e tendo feito excelente gestão, não conseguia alcançar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Estado
Segundo o dito popular, depois da tempestade, sempre vem a bonanza. E assim seguia 1986, o ano que parecia não terminar diante os fatos conturbados que o marcaram. Contextualizando, da mesma forma que a obra do escritor e jornalista Zuenir Ventura, “1968: O Ano que não terminou”. Não só em nível local, 1986 também foi o ano do “Plano Cruzado”, idealizado pelo então Ministro da Fazenda, Dilson Funaro. O tempo em que todo o povo brasileiro se transformaria em “fiscais de Sarney”. Como diria Cid Moreira na abertura do JN daquele 28 de fevereiro, “um dia para ficar na história do país”. No entanto, também o cruzado trouxe muitas conturbações em todo o Brasil, com desemprego, recorde na inflação, comércio fechado e saques.
A procissão seguia seu rumo, assim como a vida social e política de João Monlevade. Mesmo desconfiados e ainda carregando o ranço da greve que acabara de terminar, aproximava-se a disputa eleitoral para a escolha dos deputados estaduais, federais, senadores e governadores de Estado. Ainda não havia eleições diretas para eleger o presidente da República em razão do regime militar que imperava no país. Desde o golpe de 1964, as primeiras eleições para escolha do governador de Estado somente voltariam a ser diretas quatro anos antes, ou seja, em novembro de 1982. Também havia ocorrido uma mudança na legislação eleitoral. Isso porque as eleições eram casadas, ou seja, elegendo no mesmo pleito vereadores, prefeitos, deputados e senadores. Com a alteração, os mandatos dos prefeitos e vereadores foram prorrogados por mais dois anos, passando, então, para seis anos.
O município já respirava ares de campanha. A disputa regional estava acirrada. Afinal, havia cinco candidatos de João Monlevade, sendo quatro deles disputando vagas à Assembleia Legislativa de Minas Gerais, sendo eles o ex-prefeito Antônio Gonçalves (Pirraça), pelo PMDB; o ex-vereador Océlio Aguilar Carneiro, pelo PTB; a professora e candidata a Prefeitura derrotada nas eleições municipais de 1982, Celeste Semião, pelo PT; e o médico Luiz Fernando do Amaral, pelo PC do B, que surgiu politicamente como um meteoro por ter dedicado todo seu tempo como profissional, durante a greve dos metalúrgicos, atendendo dia e noite em frente ao Zebrão (o que lhe custou o emprego da Belgo-Mineira). Por sua vez, o sindicalista João Paulo Pires de Vasconcelos, PT, era o único da região tentando uma vaga a deputado federal constituinte. Apesar de não esquentar como numa disputa municipal, foram registrados fatos que acabaram criando um clima mais pesado à disputa. Entre os candidatos a deputado estadual, apenas Antônio Gonçalves, por já ter sido prefeito por duas vezes e contar com apoio de raposas da política mineira – como Jorge Ferraz, por exemplo – tinha uma chance real. E já entrava na disputa pela terceira vez. Por sua vez, Celeste caminhava com apoio do João Paulo e crescia. Mas estava restrita a votos do domicílio eleitoral do município. Océlio, só para fazer média. Por sua vez, Luiz Amaral seria uma incógnita e poderia surpreender.
A disputa ganhou ares mais hostis quando o grupo que coordenava a campanha do ex-prefeito cometeu um deslize de estratégia, aproveitando-se da situação de pegar uma carona com o sindicalista, cuja aceitação popular crescia nas pesquisas. Dessa forma, a poucas semanas das eleições de 15 de novembro, os aliados peemedebistas distribuíram um documento contendo fotos de João Paulo e Antônio Gonçalves, juntos, com intuito de mostrar aos operários metalúrgicos que o dirigente sindical dava apoio a “Pirraça”. A reação foi imediata, e as lideranças do PT montaram um palanque em frente ao Zebrão, com as presenças de João Paulo e da professora Celeste, desmentindo o boletim. Uma reunião ainda ocorreu na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, com a presença do ex-prefeito, onde o clima esquentou ainda mais. Final: João Paulo foi eleito deputado federal constituinte e os demais candidatos à Assembleia, derrotados. Mais uma decepção do PMDB e de Monlevade em não fazer seu primeiro deputado estadual. Para o governo do Estado, foi eleito Newton Cardoso, este pelo PMDB.
Lembro-me de que, nas eleições daquele ano, a apuração se deu no Ideal Clube. Foi minha primeira experiência como repórter de rádio, em se tratando de uma cobertura jornalística durante a apuração dos votos, que eram em cédulas. Uma situação muita amadora, arcaica mesmo. Adiretoria do Clube liberou a Secretaria, onde havia um aparelho telefônico. E de lá eu fazia a cobertura, ligando de hora em hora para o estúdio da rádio e informando aos ouvintes como estava a apuração. Algumas vezes a linha estava ocupada e era aquele sufoco para conseguir entrar ao vivo no ar. Na época, a apuração durava cerca de três dias. Mas era divertido, e muita adrenalina no ar!
*Do Livro A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XII
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!