Fazer rádio para mim, quando estive no ar por mais de vinte anos, erea levar informação e entretenimento aos ouvintes. Nesta foto, com o grupo de samba de raiz, “Afilhados do Sereno”, onde sempre fiz do estúdio também um palanque cultural para incentivar os artistas locais
Quanto à minha passagem pela “Pirata” Rádio Mundial, ministrada pelo Sidney Muller, acabei deixando a emissora. Como já havia relatado anteriormente, a minha convocação se deu por ter se tratado de um ano eleitoral e “eles” (a turma do Mauri e do Moreira) tinham em mim um forte aliado na área da comunicação de massa, sem medo de fazer críticas. Nada porém que pudesse incomodar a minha carreira profissional, pois sabiam do meu potencial. No entanto, pouco mais de um ano depois, surge uma nova oportunidade de retornar ao meu lugar dentro de um estúdio. Após um convite, acabei aceitando uma sociedade junto aos radialistas Geraldo Cardoso e Marco Braga (que havia deixado a Alternativa) e o odontólogo Amaurílio Sodré, que se formara em Jornalismo. Alugamos uma casa no alto do Bairro Satélite e foi fundada a Rádio “Mega/FM”. E, mesmo que só por alguns meses, incomodamos os concorrentes. Tanto que, através de denúncias por parte da direção de uma emissora da cidade -provavelmente a Alternativa -, junto à Anatel, conseguiram nos tirar do ar. Afinal, tínhamos uma programação que agradava ao público, com muita música, notícias, entrevistas. E ali estaria encerrado o meu ciclo na mídia falada, precisamente naquele setembro do ano de 2007, iniciado iniciado em junho de 1985, na extinta Rádio Cultura.. Não foi com muito prazer que deixei os estúdios, mas tinha a convicção de que havia deixado ali a minha história em mais de duas décadas à frente de um microfone. E quem sabe, um dia, ainda não retorne à minha velha “cachaça”, curtida em tonéis de carvalho e bálsamo? Indiferente ao tempo, o sonho ainda não acabou!
Pois é, mas não é assim muito fácil em fazer mídia no interior. Afinal, o poder corrompe e sua empatia vai mais em direção à imprensa quando a mesma coloca em prática interesses comuns, mesmo que escusos. Porque ele teme o formador de opinião. E como nunca me interessou integrar o grupo seleto dos “puxa-sacos”, talvez tenha incomodado os dois lados da moeda. Mesmo acreditando não haver imprensa independente, manter a ética é nossa obrigação. E se estiver atrelado ao poder econômico, perde toda sua credibilidade. Dessa forma, manter-me em uma emissora de rádio produzindo um programa nos meus moldes e seguindo minha ideologia profissional, requer capital para exatamente enfrentar aqueles que detêm o poder econômico. Ainda mais se for levada em conta a força de rádio, maior meio de comunicação de massa. Abrindo um parêntese, vamos a um fato real ocorrido no ano de 1938, sobre “A invasão dos Marcianos”, inserido em minha Monografia de conclusão de curso na área de Comunicação Social:
“Na adaptação da obra A Guerra dos Mundos, do escritor inglês H. G. Wells”, ocorrido no ano de 1938 e que cita a história de centenas de marcianos chegando em suas naves extraterrestres e invadindo uma pequena cidade de New Jersey, chamado Grover’s Mill. Tratava-se apenas de um radioteatro, mas no dia seguinte os jornais trouxeram manchetes mostrando o efeito causado pelo programa. A CBS calculou na época que o programa foi ouvido por cerca de seis milhões de pessoas, das quais metade passou a sintonizá-lo quando já havia começado, perdendo a introdução que informava tratar-se do radioteatro semanal. Pelo menos 1,2 milhão tomaram a dramatização como fato, acreditando que estavam mesmo acompanhando uma reportagem extraordinária. E, desses, meio milhão teve a certeza de que o perigo era iminente, entrando em pânico e agindo de forma a confirmar os fatos que estavam sendo narrados: sobrecarga de linhas telefônicas, aglomerações nas ruas, congestionamentos de trânsito provocados por ouvintes apavorados tentando fugir do perigo que lhes parecia real. O medo paralisou três cidades, principalmente em localidades próximas a Nova Jersey, de onde a CBS emitia e Welles situou próximas a Nova Jersey, de onde a CBS emitia e Welles situou sua história. Houve fuga em massa e reações desesperadas de moradores de Newark e Nova York (além de Nova Jersey), que sofreram a invasão virtual dos marcianos da história. Esse efeito de transformar o som em imagem somente é possível no rádio, cujo poder de persuasão, através da fala, pode alienar as pessoas e controlar multidões, independentemente de sua posição social ou cultural”.
O trabalho que desenvolvi ao final do meu curso, junto à colega Luana Braga – minha parceira na elaboração do projeto monográfico – nos fez ter uma ideia mais ampla do poder de uma emissora de rádio. E isso se dá ainda com mais evidência em cidades de menor porte, onde o rádio é o maior canal entre o poder e a população. Não por acaso o radialista Carlos Moreira elegeu-se prefeito de João Monlevade por dois mandatos consecutivos, motivado pela sua força de comunicação, falando sempre a linguagem que o povo gosta de ouvir, numa completa sintonia entre o emissor e o receptor. Àquela altura do campeonato, ter em seu quadro de profissionais um comunicador que atuasse de forma mais independente, poderia ser uma preocupação a mais. Exatamente por esse motivo fui dispensado da Rádio Cultura, em 2001, e quatro anos depois deixava a Mundial. E com uma agravante: sempre consegui manter um bom relacionamento com lideranças políticas de todas as esferas partidárias, de forma indiscriminada. Um direito que nunca abri mão, que foi o de conviver em todos os meios e, socialmente, me relacionar com as pessoas com quem sinto prazer, independente de sua cor partidária (no Brasil atual isto não é mais possível). E, neste ponto, João Monlevade caminha anos-luz na contramão da história. Por responsabilidade, principalmente, de nossas lideranças. Já passei por várias experiências destas, como, por exemplo, uma pessoa ser tachada de “petista ou moreirista”, partidariamente falando, só pelo fato de conviver com pessoas daquele meio. Tal liberdade de ação incomoda alguns reacionários que se encontram no poder – ou já estiveram lá -, cuja essência é o próprio umbigo. E é justamente em razão desta política ultrapassada que João Monlevade somente cresce verticalmente, mas paralisando em outros setores, principalmente de cunho cultural.
Na foto abaixo, com alguns jornalistas da cidade, entre eles os saudosos Wilson Vaccari e Chico Franco

*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte LXIII
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!