Na fotografia acima, grande parte da equipe que integrou o nosso jornal, o “Morro do Geo”, durante anos, todos amigos e colaboradores, aparecendo da esquerda para a direita: Gustavo, Maurício Reis (O “Prezado”), minha esposa Carla Santos, Maria Helena (esposa de Baiano), Rose (esposa de Fufu), Dulce e o esposo Carlos, Fufu, professor Dadinho e a esposa Zazá; e agachados: eu, Francisco Bernardino (Baiano) e Francisco de Paula (Barcelona)
No entanto, a nossa cidade é também privilegiada em alguns setores e, mesmo diante de uma sociedade hipócrita como tantas outras e comandada por falsas lideranças, tem um povo, diria, politizado. E isso se deve principalmente à nossa colonização e à força sindical que se fez valer a partir da década de 1970. Dentro desse contexto, somos um município atípico. Primeiro, indo à Gêneses luxemburgueses, muito herdamos dos costumes do Velho Continente. Afinal, nós, os filhos dos operários da Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira, fomos criados com leite balanceado distribuído gratuitamente em mamadeiras aos ilhós dos operários após o nascimento.Nossas mães cozinhavam em fogões elétricos, totalmente inverso ao comum e contemporâneo para a época, já que naquele tempo as casas usavam fogões à lenha. Nossos pais eram sócios de clubes, mesmo que divididos em classes sociais, e a “Mãe” Belgo-Mineira mandava eletricista em nossas casas até para trocar uma lâmpada. Tempos idos de um senhor chamado Louis Jacques Ensch, considerado “Pai” para os operários, cuja morte deu-se em sua terra natal, Luxemburgo, mas suspeita-se de suicídio e seu último pedido, atendido, foi o de ser sepultado na Pátria que adotou para viver, João Monlevade, ao lado do túmulo do pioneiro Jean Antoine Félix Dissandes de Monlevade. Depois, a partir dos anos 1970/80, a empresa resolveu romper o cordão umbilical, deixando que o povo monlevadense andasse com as próprias pernas. Até os dias de hoje, entretanto, o paternalismo apresenta suas sequelas que de porque fomos colonizados por franceses e luxemburgueses, que de certa forma contribuíram para que perdêssemos um pouco da nossa identidade. Aos poucos, deixamos de ser apenas um pólo operário e comercial, com a chegada de novas faculdades, o que foi muito interessante. Mas, culturalmente falando, assistimos calados à nossa decadência.
É por isso que sempre afirmo que João Monlevade pode ser comparada a uma cidade que teve sua história interrompida com a construção de uma barragem, ou seja, foi coberta, não pelas águas para gerar energia, mas foi literalmente destruída, encoberta pelas bobinas de aço, sucumbindo do mapa, sendo construída em outro local. Assim ocorreu conosco, com os nossos antepassados, que viram a 1ª Vila Operária ser construída ao redor da Usina, a partir dos anos 1930/40, e tudo acontecer em volta dela, no lugar que chamávamos de “Monlevade”, e depois ser destruído, corroído em nome do progresso. E depois se mudar para um bairro, Carneirinhos, que acabou quase se transformando em uma nova cidade. Assim defino esta terra, cuja história foi contada pelas folhas do nosso jornal, o “Morro do Geo”, ao longo de 21 anos – e permance aqui em nosso Portal -, onde pudemos conversar com os monlevadenses mais antigos, ouvir seus causos e suas histórias, resgatar de verdade a nossa história e, graças ao grande luxemburguês Louis Ensch, mostrar as fotografias da antiga cidade em nossas páginas. Isto porque, com sua visão futurista , de quem enxergava muito à frente de seu tempo, desde que aqui se instalou a Pedra Fundamental para construção da Usina da Belgo-Mineira, naquele 31 de agosto de 1935, Dr. Ensch mandou registrar toda a história, desde a fundação até o nascimento da Vila Operária, através das câmeras fotográficas, pelas lentes de três grandes profissionais: Assumpção, Coutinho e Diló. Aliás, conta a história que o ex-presidente JK, grande amigo de Louis Ensch, foi discípulo do engenheiro de Luxemburgo nesta arte de registrar todos os momentos de seu governo em fotos e filmagens. Portanto, graças a ele, nossa cidade tem um acervo fotográfico dos mais ricos deste país, herança que também é costume do povo do Velho Continente.
Dessa forma, passamos a fazer do “Morro do Geo” uma referência em termos de resgate histórico de João Monlevade. Ao longo dos 21 anos de sua periodicidade na imprensa escrita, foram dezenas de entrevistas, centenas de reportagens, biografias e colunas, milhares de
fotografias antigas, além de muitas matérias do estilo “besteirol” que ficariam marcadas para sempre. E, se sorrimos, também choramos as perdas de algumas pessoas que fizeram parte de nosso meio e cujas despedidas foram registradas em nosso jornal. E, entre algumas, podemos registrar a do “Gigante” Omar Antunes, logo após ser publicada a sua entrevista em uma das primeiras eduições do “Morro do Geo”. Ele, que tantas glórias deu ao nosso esporte. Dos amigos Wander José (Wandinho), naquele fatídico 17 de maio de 2008. Assim iniciei uma crônica que fiz em sua homenagem: “Um escorregão idiota numa tarde de sol, a cabeça no meio-fio”… Assim descreveu o compositor e cantor Raul Seixas, ao se referir à morte. E foi quase dessa forma que acharam por bem levar o nosso eterno amigo…
E, um ano depois, precisamente em 22 de maio de 2009, a morte da grande amiga e artista Neide Roberto, cuja homenagem faria na edição de nº 134, e assim iniciei a matéria de capa: “Neide de Souza Roberto se despediu desta vida no último dia 22 de maio, uma sexta-feira. Aos 66 anos se calou a voz mais bonita e mais famosa de João Monlevade, como que misteriosamente. Ficou o seu canto, a sua simpatia e generosidade. O seu sorriso e muitas boas lembranças. Jamais alguém desta cidade elevou tanto o nome de João Monlevade no cenário nacional, através de sua voz e da sua paixão pela música. Fica agora a saudade”… Outra grande perda registrada pelo “Morro do Geo” foi a partida do músico, o Mestre João Félix, ocorrida em 27 de setembro de 2010, aos 91 anos, deixando órfão o seu bandolim e amusicalidade que passou de geração a geração.
*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte LXIV
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!