A História de um “Point” chamado Rampa´s – Marcelo Melo

O famoso morro do Geo, com sua sua subida íngreme, onde aparece o viaduto. E abaixo, no pé do morro, a vista de frente do saudoso Bar e Restaurante “Rampa´s”, localizado ali na Rua Siderúrgica.

Um dos mais tradicionais bares e restaurantes de nossa cidade foi, sem dúvida alguma, o “Rampa´s, localizado ali, na entrada do morro do Geo, à Rua Siderúrgica. Estava abaixo do Hotel Cassino e entre os hotéis Monlevade e Siderúrgica. Um lugar de onde se contam muitas histórias, como as várias cargas de arame que caiam das carrocerias do caminhão – devido à subida íngreme – e iam parar dentro do bar. Teve um caso de um de seus frequentadores que tentou parar um rolo de arame com o pé, para evitar que o seu carro fosse amassado. Imaginem no que deu! E mesmo algumas carretas que não conseguiam subir o morro e voltavam. Vários foram os fregueses do Rampa´s, operários da Usina, que tiveram prejuízos com os seus veículos danificados e dizem que houve registro de vítimas diante dos constantes acidentes que ocorriam “meio” de morro, e voltaram ao “pé” do morro. Mas nem isso afastavam os fiéis fregueses do bar.

Nesta fotografia, aparece ao centro Daniel Santos, o famoso “Daniel do Suspensório”, o pioneiro/fundador do tradicional estabelecimento. Além de comerciante, era um grande desportista e torcedor fanático do Metalúrgico. Aqui, entre os goleiros Castilho e Miltinho, no estádio do Jacuí, ante de uma partida entre a Seleção de Monlevade o o time profissional do Fluminense, do Rio de Janeiro.

No entanto, antes mesmo de o tradicional batismo de “Rampa´s, ali no local funcionava o “Bar do Daniel”, o famoso Daniel do “Suspensório”, que não os tirava nem para dormir. Na época do Daniel, os maiores frequentadores do estabelecimento eram os gringos, que desciam do Cassino para saborear as delícias da culinária do lugar e as bebidas quentes. No entanto, na década de 1970, o empresário Laudelino Fonseca e o comerciante Antônio Cota adquiriram o estabelecimento, que se tornou, por muitos anos, o point monlevadense. E a clientela foi se diversificando! O bar passou a ser mais frequentado pelos metalúrgicos que trocavam turno e também pelos horistas, ou seja, a classe operária; diariamente desciam da Usina os “peões” que largavam às 15 e às 23 horas. Mas a chefia continuava batendo seu ponto no Rampa´s. Não tinham como não frequentar a Casa! Lugar de uma boa prosa e garçons simpáticos e bem  criativos e espirituosos, como Jair Batuta, Monsueto, “Salário Mínimo”, Pelé, Orlando, Eli e outros, que ficaram famosos pelos jargões criados.

O saudoso empresário e comerciante Laudelino Fonseca – aqui ao lado do amigo Vicente Ângelo (Vicentinho) – e o comerciante Antônio Cota, os fundadores do Bar e Restaurante “Rampa´s”, que ficou para a história como um dos melhores de toda região do Médio Piracicaba.

Os Pratos: tradição e apelidos pitorescos

Uma freguesia, podemos dizer, amiga e selecionada no bom sentido. Cada qual com seu costume, sempre respeitada pelos proprietários e pelos garçons. E dali, diante da amizade que se formou entre ambas as partes, os pratos foram recebendo apelidos, assim como ou cada bebida, que se tornaram pitorescos. Coca-Cola era “Detergente”; filé era “Rodovia Belém/Brasília”; cachaça era “Antibiótico”; ampola era “Cerveja”; pinga com limão era “Vitamina C”. Sem falar ainda no “Suco de Urubu”, que era o café; na “Catraca de Canhão”; que era o conhaque; na “Frutinha Penosa”, o ovo; no “Sonrisal”, o marmitex e, para finalizar, o “Freio de Mão”, famoso e tradicional PF (Prato Feito).

 Era muito prazeroso se assentar na calçada ou mesmo no primeiro ambiente ou ainda num reservado que havia ao fundo, onde se ficava de frente para a Rua Beira-Rio, suas mangueiras e o rio Piracicaba. Avistando a Matriz São José Operário, as pontes de madeira. Ali, ao fundo, uma pintura mágica, feita a quatro mãos pelos artistas plásticos e saudosos Gerhart Michalick e Márcio Diniz. Pintada sobre a parede do Rampa´s, a Lagoa do Aguapé. Onde se comia o melhor “Risoto de Frango” do Brasil, banhado ao Azeite extra-virgem, raro para aquela época. Dizem as más línguas que houve um tempo que o azeite – não muito comum ainda nas mesas brasileiras – tinha o preço um pouco “salgado”. Laudelino e Antônio então determinaram: – “Risoto servido com azeite tem um preço mais elevado” (rs). O bife “Tala-Larga”, um santo filé, cujo apelido veio dos pneus tala-largas, muito usados naquela época pelos playboys. Sem contar o Tropeiro e aquele churrasco nos espetos! Hum… E se tomava a cerveja Antarctica produzida em Pirapora. Era a melhor, feita com as águas do rio São Francisco. Não adiantava chegar com a Antarctica do Rio de Janeiro que não colava. Tinha de ser da fábrica de Pirapora. E ponto final. Como exigia o saudoso frequentador assíduo Pedrosa, tinha de abrir a garrafa na mesa, de frente para o freguês, e conferir a tampinha para ver se havia mesmo sido fabricada em Pirapora (rs).

Fregueses fiéis como Seu Eduardo Dias, aqui acompanhado de um dos mais tradicionais garçons do Rampa´s, Pelé, e o amigo, saudoso Lourival. Esta foto foi feita no Rampa´s , do final dos anos 1990, quando Pelé assumiu o estabelecimento.

 Pois é, mas quantas saudades do Bar e Restaurante “Rampa´s”, de fregueses famosos e folclóricos, como Pedrosa (o mais politizado dos operários, sempre lendo o “Folha” e a “Veja”), Laércio “Santa Bárbara’, Lauro “Santa Bárbara”, Poeta, Zé Geraldo (Gordo), Gilson, Seu Eduardo Dias, Henriquinho, Lourival, Leonardo Diniz, Antônio Ramos, Caiana, Rubens Celino, Aroldo e tantos outros.  E eu, que tive o prazer de frequentar o Bar e Restaurante “Rampa´s”, entre os anos 1970 a 1980. Quantas madrugadas fechamos o estabelecimento de sábado para domingo, e tínhamos de subir a pé, até em nossas casas no Bairro Vila Tanque. Muitas histórias junto aos amigos e vizinhos – os saudosos Gilson Rosa (Zaru) e José Vital -, e ainda Cássio Gonçalves, Eugênio Pacelli, Lúcio Magalhães (Escovão), Zé Roberto e Cia. Mas valeu muito a pena!

 Hoje, muita saudade!

Foto histórica do Rampa´s, onde aparecem os fregueses Zezé e Yeyé, e os funcionários – ainda “moleques” – Celso, os irmãos Paulo Roberto e Giovane, o garçom “Salário Mínimo, entre outros (Dos arquivos de Celso Cota).

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5 comentários “A História de um “Point” chamado Rampa´s – Marcelo Melo”

  • Bela e saudosa lembrança…
    Mesmo novinho, participavamos e ajudavamos nosso pai, Laudelino, desde o momento da aquisição do antigo “Bar do Daniel”. Foi uma visão empreendedora avançada pra época, e o resultado foi um sucesso total durante mais de uma década de grande brilho. Temos um orgulho enorme por mais este passo pela evolução do comércio em Monlevade, desde a “Casa Líder e o SuperMercado da Vila” na Vila Tanque, e depois, a Socintra e também a cantina na Belgo (ArcelorMittal).
    É justo e correto dizer que o Laudelino teve muito bons parceiros na sua jornada (José Cota na Casa lider, Antônio Cota no Rampas, Manoel “preto” e Expedito no Supermercado, Nicolau e José Cota na Socintra), e muitos outros amigos que sempre estiveram por perto… inesquecíveis!
    Deixo aqui meu agradecimento, em nome de nossa família, ao Marcelo Melo por esta reportagem que nos leva a viajar aos anos dourados de nossa Monlevade e nos permite venerar esta imagem empreendedora de sucesso de meu pai Laudelino Fonseca e sua trupe de amigos do peito.
    Siga em frente nesta sua saga jornalística, pois bons exemplos vc os têm…
    Parabéns e mais uma vez, obrigado!

  • Que bom poder rever toda essa história e só ter ótimas lembranças. Valeu Marcelo, guardião da história monlevadense. Parabéns pelo seu trabalho e pelo cuidado com nossa história.

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