Minha despedida da imprensa falada!

Quanto  à  minha  passagem  pela  “Pirata”  Rádio  Mundial, ministrada  pelo  Sidney  Muller,  acabei  deixando  a  emissora. Como  já  havia  relatado  anteriormente,  a  minha  convocação  se deu  por  ter  se  tratado  de  um  ano  eleitoral  e  “eles”  (a  turma  do Mauri  e  do  Moreira) tinham  em  mim  um  forte  aliado  na  área  da comunicação  de  massa,  sem  medo  de  fazer  críticas.  Nada  porém que  pudesse  incomodar  a  minha  carreira  profissional,  pois sabiam  do  meu  potencial.  No  entanto,  pouco  mais  de  um  ano depois,  surge  uma  nova  oportunidade  de  retornar  ao  meu  lugar dentro  de  um  estúdio.  Após  um  convite,  acabei  aceitando  uma sociedade  junto  aos  radialistas  Geraldo  Cardoso  e  Marco  Braga (que  havia  deixado  a  Alternativa)  e  o  odontólogo  Amaurílio Sodré,  que  se  formara  em  Jornalismo.  Alugamos  uma  casa  no alto  do  Bairro  Satélite  e  foi  fundada  a  Rádio  “Mega/FM”.  E, mesmo que só por alguns meses, incomodamos os concorrentes.  Tanto  que,  através  de  denúncias  por  parte  da direção de uma emissora da cidade -provavelmente a Alternativa -,  junto  à  Anatel,  conseguiram  nos  tirar  do  ar.  Afinal, tínhamos  uma  programação  que  agradava  ao  público,  com muita  música,  notícias,  entrevistas.  E  ali  estaria  encerrado  o meu  ciclo  na  mídia  falada,  precisamente  naquele  setembro  do ano  de  2007, iniciado iniciado em junho de 1985, na extinta Rádio Cultura..  Não  foi  com  muito  prazer  que  deixei  os  estúdios, mas  tinha  a  convicção  de  que  havia  deixado  ali  a  minha  história em  mais de  duas  décadas  à  frente  de  um  microfone.  E quem  sabe,  um  dia,  ainda  não  retorne  à  minha  velha  “cachaça”, curtida  em  tonéis  de  carvalho  e  bálsamo?  Indiferente  ao  tempo, o  sonho  ainda  não  acabou!

Pois é, mas não é assim muito fácil em fazer mídia no interior. Afinal,  o  poder  corrompe  e  sua  empatia  vai  mais  em  direção  à imprensa  quando  a  mesma  coloca  em  prática  interesses  comuns, mesmo  que  escusos.  Porque  ele  teme  o  formador  de  opinião.  E como  nunca  me  interessou  integrar  o  grupo  seleto  dos  “puxa-sacos”,  talvez  tenha  incomodado  os  dois  lados  da  moeda. Mesmo  acreditando  não  haver  imprensa  independente,  manter  a ética  é  nossa  obrigação.  E  se  estiver  atrelado  ao  poder econômico,  perde  toda  sua  credibilidade.  Dessa  forma,  manter-me  em  uma  emissora  de  rádio  produzindo  um programa  nos meus  moldes  e  seguindo  minha  ideologia  profissional,  requer capital  para  exatamente  enfrentar  aqueles  que  detêm  o  poder econômico. Ainda  mais  se  for  levada  em  conta  a  força  de  rádio, maior  meio de  comunicação  de  massa.  Abrindo  um  parêntese,  vamos  a  um fato  real  ocorrido  no  ano  de  1938,  sobre  “A invasão  dos Marcianos”,  inserido  em  minha  Monografia  de  conclusão  de curso  na  área  de  Comunicação  Social:  

Na  adaptação  da  obra  A Guerra  dos  Mundos,  do  escritor inglês  H. G.  Wells”ocorrido  no  ano  de  1938  e  que  cita  a história  de  centenas  de  marcianos  chegando  em  suas  naves extraterrestres  e  invadindo  uma pequena  cidade  de  New  Jersey, chamado  Grover’s Mill. Tratava-se  apenas  de  um  radioteatro, mas  no  dia  seguinte  os jornais  trouxeram  manchetes  mostrando o  efeito  causado pelo programa.  A CBS  calculou  na  época  que  o programa foi  ouvido  por  cerca  de  seis  milhões  de  pessoas,  das quais  metade passou  a  sintonizá-lo  quando já  havia  começado, perdendo a introdução que informava tratar-se do radioteatro semanal.  Pelo  menos  1,2  milhão  tomaram  a  dramatização como  fato,  acreditando  que  estavam  mesmo  acompanhando uma reportagem  extraordinária.  E,  desses,  meio  milhão  teve  a certeza  de que  o  perigo  era  iminente,  entrando  em  pânico  e agindo  de  forma  a  confirmar  os  fatos  que  estavam  sendo narrados:  sobrecarga  de  linhas  telefônicas,  aglomerações  nas ruas,  congestionamentos  de  trânsito  provocados  por  ouvintes apavorados  tentando  fugir  do  perigo  que  lhes  parecia  real.  O medo  paralisou  três  cidades,  principalmente  em  localidades próximas  a  Nova  Jersey,  de  onde  a  CBS  emitia  e  Welles  situou próximas  a  Nova  Jersey,  de  onde  a  CBS  emitia  e  Welles situou sua história. Houve fuga em massa e reações desesperadas de moradores de  Newark  e  Nova  York  (além  de  Nova  Jersey),  que sofreram  a invasão  virtual  dos  marcianos  da  história.  Esse efeito de transformar o som em imagem somente é possível no rádio,  cujo poder  de persuasão, através  da fala,  pode  alienar  as pessoas  e  controlar  multidões, independentemente  de  sua posição  social  ou  cultural”.

O  trabalho  que  desenvolvi  ao  final  do  meu  curso,  junto  à  colega Luana  Braga  –  minha  parceira  na  elaboração  do  projeto monográfico  –  nos fez  ter  uma  ideia  mais  ampla  do  poder  de  uma emissora  de  rádio.  E  isso  se  dá  ainda  com  mais  evidência  em cidades  de  menor  porte,  onde  o  rádio  é  o  maior  canal  entre  o poder  e  a  população. Não  por  acaso  o  radialista  Carlos  Moreira  elegeu-se  prefeito  de  João  Monlevade  por  dois  mandatos consecutivos,  motivado  pela  sua  força  de  comunicação,  falando sempre  a  linguagem  que  o  povo  gosta  de  ouvir,  numa  completa sintonia  entre  o  emissor  e  o  receptor.  Àquela  altura  do campeonato, ter em seu quadro de profissionais um comunicador  que  atuasse  de  forma  mais  independente,  poderia ser  uma  preocupação  a  mais.  Exatamente  por  esse  motivo  fui dispensado  da  Rádio  Cultura,  em  2001,  e  quatro  anos  depois deixava  a  Mundial.  E  com  uma agravante:  sempre  consegui manter  um  bom  relacionamento  com lideranças  políticas  de todas  as  esferas  partidárias,  de  forma indiscriminada.  Um direito  que  nunca  abri  mão,  que  foi  o  de conviver  em  todos  os meios  e,  socialmente,  me  relacionar  com  as  pessoas  com  quem sinto  prazer,  independente  de  sua  cor  partidária (no Brasil atual isto não é mais possível).  E,  neste  ponto, João  Monlevade  caminha  anos-luz  na  contramão  da  história. Por  responsabilidade, principalmente,  de  nossas  lideranças.  Já passei  por  várias  experiências  destas,  como,  por  exemplo,  uma pessoa  ser  tachada  de  “petista  ou  moreirista”,  partidariamente falando,  só  pelo  fato  de  conviver  com  pessoas  daquele  meio. Tal liberdade  de  ação  incomoda  alguns  reacionários  que  se encontram  no  poder  –  ou  já  estiveram  lá  -,  cuja  essência  é  o próprio  umbigo.  E  é  justamente  em  razão  desta  política  ultrapassada que João Monlevade somente cresce verticalmente, mas paralisando em outros setores, principalmente  de  cunho  cultural.

*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte LXIII

Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!

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