Acima, a fotografia original com a legenda, que saiu publicada na matéria publicada em setembro de 1989
A nossa reportagem especial desta edição é sobre o ex-motorista de praça, ou de um ex-pracinha que esteve no Exército Brasileiro durante a II Guerra Mundial, ajudando a proteger o litoral baiano de alguma possível invasão. Vamos falar sobre o Sr. Manoel Engrácio Mendes, de 70 anos de idade, que está em João Monlevade desde 1935. A maioria o conhece por “Manoel Paciência”, apelido dado pelo ex-companheiro e também motorista de caminhão “Saul”. Herdei o apelido porque andava muito devagar. E o Paciência acabou ficando”, Lembrou Seu Manoel Mendes.
Nascido em Alvinópolis, em 1919, Manoel veio para João Monlevade em 1935, quando havia apenas o Solar Monlevade e as chamadas “Três Casas”, próximo à Estação Ferroviária. O resto, conta ele, era só mato. Iniciou sua vida profissional na empresa Campolina, responsável pela execução da estrada de ferro da Belgo-Mineira. Mais tarde ingresso na Nicácio Construções e Crhistiane Nilsen, chegando então a ser admitido então na C.S.B.M. “Meu encarregado na época era o Sr. Chico Formiga, quando trabalhei com as chapas do Alto-Forno. Em seguida fui trabalhar junto ao pessoal que instalou a Usina superior. O chefe era um gringo, um tal de Mafrer, de apelido “Franfote”, disse saudosista Manoel Paciência.
Ingresso no Exército
Sempre considerando um grande contador de causos, o Sr. Manoel foi para São Paulo em 1939. Mas, fora de suas perspectivas, ele acabou entrando para o Exército em 1940. “Fui imaturo na época. Minha intenção era conseguir o certificado para conseguir retornar a São Paulo num emprego melhor. Mas, assim que me alistei na Companhia de Ouro Preto, acabei sendo chamado e fiquei. Na época, éramos três daqui de Monlevade: eu, O Veloso (cunhado do Sr. Simões) e Eugênio. Apenas eu fiquei. Fui depois transferido para a Cia Quadros, em Uberlândia, por onde fiquei por um ano”.
Ao retornar a Ouro Preto, no entanto, estava inscrito para integrar a Cia. Que ficaria de guarda no litoral. “Não havia estrada naquela época. Em 1942, aproximadamente, viajamos de trem de Ouro Preto ao Rio de Janeiro, e de lá de navio até Porto Seguro, na Bahia. Estivemos ainda em Santa Cruz de Cabralha e em Vitória, no Espírito Santo. Ficávamos vigiando a costa litorânea”, contou Sr Manoel Paciência, que lembrou ainda do maior medo que passou na vida: “nunca havia tido medo como naquela viagem de navio para Vitória. Estava caindo um temporal e acreditávamos que o afundamento do navio seria inevitável. Mas, felizmente, tudo ficou apenas no susto”.
Retorno e o primeiro Carro na Praça
Em 1944, ele deixava o Exército. Passando por Belo Horizonte foi convidado para fazer parte da extinta Guarda Civil pelo avantajado porte físico. Mas negou ao convite, tendo retornado a João Monlevade e foi readmitido na Belgo-Mineira no mesmo ano. Trabalhou na empresa pela segunda vez na Oficina Mecânica com o “velho Cabral”. Em 1950, no entanto, decidiu sair para tentar a sorte com carregamento de carvão, num caminhão próprio. Mas acabou não dando certo. “Foi então que comprei um Ford-40, de cor preta, para trabalhar com táxi. Iniciou a profissão na praça em 1952, por onde ficou mais de 20 anos. Teve ainda um Dodge-51, uma Willis e outros tantos carros, aposentando-em em poder de um Corcel-71.
No início fazia o ponto na Praça do Cinema, passando depois para a antiga Rodoviária, na Rua Beira-Rio. Como casos pitorescos, lembra do dia que sofreu uma tentativa de assalto no Cruzeiro Celeste, quando foi obrigado a passar com o veículo sobre várias pedras. E ainda de um caso ocorrido na subida do morro do Geo, quando socorreu uma mulher que pedia muito sangue, tendo encaminhado a mesmo ao Hospital Margarida. “A mulher havia sofrido uma hemorragia e perdia muito sangue. Levei-a até o Hospital, sendo atendida pelo Dr. Lúcio Flávio. Hoje, ela e seu marido Zé Augusto, residentes no Tieté, ainda se lembram do ocorrido e são gratos”, afirmou sorrindo.
Este é o grande e famoso Manoel Paciência, casado desde 1945 com Dona Irani de Souza Mendes. O casal tem oito filhos e 14 netos, e reside há mais de 30 anos no Bairro Vila Tanque, precisamente no alto, à Rua 5; “Mané Paciência lelbrava ainda dos tempos em que pescava no córrego de Carneirinhos, num rebojo que existia onde está instalada hoje a Minas-Caixa. Manoel Mendes, um homem que conhece a história de João Monlevade, assim como dos antigos motoristas da praça, como “Zé Buzina” e “Bento”, que ainda estão na labuta.
Nas fotografias abaixo, o cabeçalho com o título original e a data do jornal, e minha assinatura da autoria da matéria
Em Tempo!
Contextualizando, farei aqui uma referência a um caso envolvendo o nosso entrevistado, já saudoso Sr. Manoel “Paciência”, e cuja matéria foi publicada em setembro de 1989, no “Jornal de Monlevade”.
Numa manhã qualquer, como fazíamos mensalmente, estávamos eu e o amigo Mário Mendes, conhecido Mário “Paciência”, fazendo a entrega de um exemplar do jornal “Morro do Geo” na residência da saudosa Maria Luzia de Oliveira (Luzia do Cartório). Ao apresentar o amigo, ela ligou o apelido do Mário e perguntou se o mesmo era filho do saudoso taxista Manoel “Paciência”. Ao acenar que sim, Luzia deu aquele sorriso que lhe era familiar e disse: – “Menino, seu pai sempre fazia corrida pra gente e ele tinha uma mania. Sempre levava uma maçã no capô do carro. Aí perguntei pra ele o motivo e ele respondeu que perfumava o interior do veículo. E era verdade. Mas, continuei curiosa por outro motivo até que um dia tomei coragem e fiz outra pergunta: Sr. Manoel, e o senhor usa a mesma maçã durante quantos dias? E ele, sorrindo, respondeu: – Não. Todos os dias quando chego em casa, lavo e como. Coloco uma maçã nova diariamente”.
*De julho a dezembro de 1989, tive o prazer de produzir uma série de reportagens no extinto “Jornal de Monlevade”, periódico este fundado pelo amigo e jornalista Elmo José Lima – hoje residente em Belo Horizonte -, com algumas personalidades de nossa cidade, bairros e fatos curiosos sobre a história de João Monlevade, que estarei publicando em nosso Site.
*Obs: O artigo está transcrito na íntegra, conforme publicado na edição de nº 297 do “Jornal de Monlevade”, de setembro/1989.