Especial: O Músico João Félix e o companheiro Bandolim! – Marcelo Melo

Acima, a fotografia original de João Félix, com a legenda, conforme saiu na matéria publicada em outubro de 1989

  Voltamos para falar um pouco das pessoas que fazem parte desta velha/jovem João Monlevade. Desta feita de um grande músico que desde criança tocava seu instrumento de corda: Sr. João Félix, que em novembro próximo completa 73 anos de idade. Acreditamos que quase todos monlevadenses da antiga conhecem esta grande figura humana, que sempre participa de serestas acompanhado do seu bandolim. Este vicentino de várias temporadas nasceu em Florália, distrito de Santa Bárbara, em novembro de 1916, chegando em João Monlevade em 22 de março de 1934.

João Félix trabalhou como “pinante” na Central do Brasil, quando estava com pouco mais e 16 anos. Logo depois foi servente de pedreiro na empresa Carneiro Rezende, responsável pela construção das casas das ruas Beira-Rio, Siderúrgica e também pelo prédio do Hotel Cassino. “Naquele tempo tive um acidente horrível, exatamente em 1937, tendo quebrado o queixo. Trabalhava ao meu lado o saudoso Otacílio Caldeira”, lembra Seu João. Com saudade, ele falou ainda do tempo em que ele e alguns colegas iam à Fazenda Solar apanhar frutas. “A Dona Vitória, esposa do Sr. Nicolau Machado, que tomava ,conta do Solar, nos autorizava a pegar as frutas. Era um tempo muito bom”, disse.

Exército

Mas, nem só de brisa vivia naquela época. Era um tempo que todos precisavam trabalhar para ajudar no sustento da casa. As famílias geralmente eram numerosas. Assim, em 1938, João Félix subia até Ouro Preto, onde iria servir o Exército, naquela Cia. Lá ficou por um ano, até retornar a Monlevade e entrar como operador na Crhistiane Nilsen. “Lá trabalhamos na construção da Barragem do Jacuí. Eu, o compadre Laroca e outros homens ficamos uma noite inteira trabalhando para que as comportas fossem fechadas. Hoje tenho orgulho em falar disso, quando teve início o sistema de energia elétrica na parte baixa da cidade”, sentenciou.

Nunca se esquecendo de sua música, João Félix entrava na Usina da Belgo-Mineira em dezembro de 1938, por onde ficou por longos 31 anos, até aposentar-se, em 1970. Ele lembra saudosista do tempo que trabalhou com o Sr. Antônio Gomes, o gringo Vadice e principalmente com o saudoso Alan Machado Alves. “Tenho muita gratidão pelo falecido Seu Alan. Era ele quem resolvia todos os problemas da nossa área. Tendo levado-me a trabalhar na Ponte Rolante. Não me esqueço dele”, afirmou.

A Música

No entanto, foi a música que sempre causou emoção neste negro bonito, que se inspirou nas cordas de Jacob do Bandolim e no cavaquinho de Waldir Azevedo.

  Seu primeiro instrumento foi um violino, lembra, mas no passar dos anos dedicou-se mesmo foi ao bandolim, dizendo que “o bandolim é uma paixão que tenho. A música vem da alma”. Escola não era com o menino João Félix, sendo o seu fraco. Mas a música, esta sim, ele sempre teve adoração por ela. Para ele, a melodia “Carinhoso”, do grande Pixinguinha, é uma obra prima, tendo de ser tocada com o coração.

João Félix está aposentado, mas não do seu instrumento, o qual exibe sempre com muito orgulho. As serestas são constantes, ao lado do Sr. Cardoso, Zé Maria, Zé Lima, Ivan, Bené do Satélite e outros músicos da cidade. É ser convidado e lá vai com seu bandolim. Seus olhos chegam a brilhar quando fala em música, tendo vários de seus filhos (um total de dez) herdado dele a musicalidade.

  Para este homem, a vida continua sendo muito boa, com uma ressalva: “o aposentado ainda é muito discriminado. Aqui mesmo em João Monlevade nossa classe sofre pela falta de opções. Não se encontra lazer, o que é uma pena”. Mas, acima de tudo, Sr. João Félix (ao lado de seu instrumento e de seus discos de vinil) numa demonstra desânimo, ratificando a teoria do poeta Caetano Veloso, que disse: “Como é bom poder tocar um instrumento”!

Abaixo, o cabeçalho com o título da matéria e a data da edição em que foi publicada

Em Tempo!

Durante o período que produzia meu programa na Rádio Cultura, o “Plantão Cultura”, que ia ao ar de segunda a sexta-feira, de 16 Às 18 horas, sempre levava alguns músicos de João Monlevade para se apresentar ao vivo, no estúdio. E o saudoso Sr. João Félix, sempre nos honrava com a sua presença, sempre acompanhado de seu bandolim. Uma simpatia de pessoa e um músico em excelência!

*De julho a dezembro de 1989, tive o prazer de produzir uma série de reportagens no extinto “Jornal de Monlevade”, periódico este fundado pelo amigo e jornalista Elmo José Lima – hoje residente em Belo Horizonte -, com algumas personalidades de nossa cidade, bairros e fatos curiosos sobre a história de João Monlevade,que estarei publicando em nosso Site.

*Obs: O artigo está transcrito na íntegra, conforme publicado na edição de nº 300 no “Jornal de Monlevade”, de outubro/1989.

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